VINTE E UM. O Porquinho Foi Passear?

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- A minha filha tentou me matar. Duas vezes. Não. Três vezes. Eu nem consigo contar mais – deitada no divã no consultório de paredes vermelhas, Medeia finalmente tinha a sua primeira consulta com a terapeuta.

- Você a perdoou? – a terapeuta, uma senhora concentrada, a perguntou.

- Eu achei que as perguntas difíceis desse tipo ficavam para as próximas sessões.

- Você a odeia?

- Eu prefiro me concentrar em quem eu amo, ao invés de quem odeio.

- É uma decisão perfeita – a terapeuta a parabenizou. – E quem você ama, Medeia?

- Um homem. Que merda, não?

- O que quer dizer com isso?

- O que pode ser pior do que amar um homem? Quero dizer... É um ponto fraco. Uma mulher se torna vulnerável, um alvo fácil quando fica apaixonada. Fica dependente. Eu... Estou dependente.

- Acredita que ele sente o mesmo por você?

- Hoje, a única certeza que eu posso ter sobre o Joel é que eu sinto ciúmes dele. Isso não é terrível? Como eu deixei isso acontecer? Eu sempre critiquei quem se comportava assim.

- E é isso? É essa a única certeza que tem?

- Não. Eu também estou muito certa de que essa não é a mulher que eu quero ser.

- Arrasta a cara da vadia no chão da rua! – Noemi aconselhou Medeia enquanto falavam pelo telefone mais tarde.

- Eu não posso provar nada, Noemi. E se tudo não passar de uma insegurança vergonhosa da minha mente só porque ela é sexy, tem vinte e poucos anos e eu sou uma quarentona que tem aquele homão todo pra mim?

- Medeia, acorda pra vida. São tempos modernos e ocupados. Nós somos mulheres que não têm tempo para esse joguinho de especulações. Apenas raspe a cabeça da vadia, dê uma surra e a jogue em algum terreno. Poupe-se e nos poupe.

- Ah, eu estou tão cansada.

- Apenas continue me contando sobre as sessões de terapia. Ok?

Joel desceu a escada nesse instante e Medeia desligou.

- Você vai sair? – Medeia o perguntou.

- Mais tarde.

- Encontrar a Cybelle. Com certeza. Uma nova reunião. Mais uma.

- São negócios, meu amor. Você não deseja o sucesso da minha micro empresa?

- Você acha que a Cybelle com as suas tetas pulando para fora do decote é atraente?

- Esse não é o ponto – Joel a respondeu tranquilamente.

Mas Medeia saiu. Ela deixou a casa antes dele.

Medeia não comunicou nada, mas ela foi até ao pequeno escritório. Logo estava frente a frente com Cybelle.

- O que deseja? – Cybelle a perguntou. – Algum recado do Joel para mim?

- Olhe aqui... Eu nem sei como fazer isso – Medeia disse e nervosamente ajeitou a alça da bolsa em seu ombro.

- Isso o quê?

- O papel da mulherzinha ciumenta, então vamos cortar a baboseira. Eu serei direta. Você quer foder com o meu homem. É isso o que quer?

- O quê?! Senhora Medeia...

- Senhora é o meio do olho do teu cu...

- Medeia... Você precisa se acalmar.

- Apenas jogue limpo comigo. Eu peço um jogo limpo. Nada mais.

- Eu sou uma profissional. Dessa forma você me ofende.

- Então seja uma profissional. Seja profissional – Medeia repetiu e partiu.

Pouco menos de uma hora depois, Joel chegou ao escritório.

- A sua esposa ou namorada ou sei lá o que esteve aqui – foi a primeira coisa que Cybelle disse a Joel quando ele entrou na sala.

- Medeia esteve aqui? Eu não acredito que ela...

- Ela está certa que eu quero... Como foi mesmo que ela disse? Ah, sim. "Foder com você".

- Meu Deus. Eu... Eu peço desculpas em nome da Medeia.

- Eu quero, Joel? Eu quero me entregar a você?

- Você... Você está me perguntando? Eu não consigo entender?

Cybelle foi se aproximando de forma diferente.

- Sim. Eu estou perguntando. Porque seja lá o que for acontecer, só depende da resposta que você possa ter.

Cybelle repousou uma mão sobre o ombro de Joel e com a outra apalpou todo o pênis dele sob a calça social.

- Eu amo a minha esposa! – Joel protestou se afastando bruscamente.

- Ela é velha. Ela tem o quê? 40? 45? Você um deus sensual, gostoso da floresta. Ela dá conta de você? Com as rugas iniciantes? As costas cansadas? A bunda em processo de queda?

- Enfie a sua proposta de parceria de negócio onde quiser. Eu não preciso disso – Joel protestou saindo.

Mas Medeia não havia ido a lugar nenhum. Ela permaneceu na entrada do escritório e tudo o que viu foi Joel saindo e ajeitando a sua calça.

- Medeia, o que aconteceu foi...

Medeia não deixou que ele terminasse. Ela meteu um soco em seu nariz.

- Uma vida assim, desse tipo, nem de perto é o tipo de vida que eu quero. Sofrer em um relacionamento é uma escolha. Qualquer um tem opções, pode escolher e eu escolho não querer mais isso se for pra ser assim. Vá se divertir. Você acaba de se tornar um homem livre outra vez.

Medeia retornou para casa apenas para coletar alguns poucos itens, entrou em seu carro e partiu sem destino.

Na madrugada, Isadora espiava a casa escondida por entre galhos e plantas. Ela conseguia ver através da janela aberta Joel sentando pensativo na poltrona da sala.

- Eu posso ver um porquinho. O porquinho gostoso e musculoso. Mas e o outro porquinho? A porquinha velha. Para onde você foi, porquinho? – Isadora falava sozinha. 

 

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O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora