VINTE E CINCO. Você vai para o inferno?

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Sim. O tiro disparado por Medeia foi certeiro.

Isadora atingiu o chão e a bala penetrou bem no seu peito, no seu coração.

Medeia se aproximou. Ela ameaçou se abaixar para tocá-la, mas Noemi a impediu, a segurou pelo braço.

- Noemi, ela morreu. Eu matei a minha filha. Eu matei a minha própria filha – Medeia disse e desabou em um choro desesperado.

- Você fez o que era necessário. É o fim. Você está livre. É o fim – Noemi dizia e a confortava a abraçando apertado com um braço e acariciando o seu cabelo com a outra mão.

Joel foi retomando os movimentos do seu corpo aos poucos, conforme o efeito da droga injetada em seu corpo por Isadora ia passando. Meia hora depois, ele já se movimentava normalmente, já vestia as suas roupas e foi quando a polícia chegou, atendendo o chamado telefônico feito por Noemi.

Tanto Noemi quanto Joel testemunharam na pequena delegacia do campo em favor de Medeia e reafirmaram todos os pontos dela sobre ter agido em legítima defesa. Sendo assim, Medeia foi liberada. Na rua, na porta da delegacia, Joel a abraçou. Eles olharam tão profundamente nos olhos um do outro e foi no fundo dos olhos deles, sem a necessidade de usar palavras, que Medeia por fim percebeu a verdade sobre ele nunca ter a traído. Então, ela o beijou. Em seguida ela acariciou as manchas roxas, os cortes e as mordidas pelo pescoço dele, pelos ombros. Já ele acariciou a bochecha dela que exibia os arranhões profundos produzidos pelas unhas da falecida Isadora.

Joel e Medeia trocaram juras de amor eterno apenas com os seus olhares e logo partiram. De mãos dadas.

NOVE MESES DEPOIS

Medeia sempre havia sido uma linda mulher. Era linda quando tinha 22 anos de idade e continuava linda agora que tinha 42 anos. No entanto, um fator conseguiu a deixar ainda mais bela naquela idade de 42 anos: a sua gravidez.

Naquela manhã fresca que tinha o aroma de muitas flores, das melhores flores, Medeia saiu da casa remando seu corpo lento com sua grande barriga de nove meses de gestação, mãos na cintura.

- Ulisses está brincando lá em cima em seu quarto – Medeia disse para Joel se aproximando dele.

Joel estava agachado no meio das roseiras do quintal enorme da frente. Ele usava apenas um macacão jeans surrado. Nenhuma camisa por debaixo dele ou cueca. Seu corpo másculo e definido estava todo suado, suor correndo por dentre as demarcações dos seus músculos. Suas mãos estavam sujas com a terra.

- Você está ainda mais linda hoje, está radiante – Joel a disse a alcançando.

- Você não está mentindo? Você não mente dizendo as coisas que eu quero ouvir só para me fazer feliz?

- Pare com isso.

- Eu sou uma quarentona.

- Eu desejo você, eu sempre irei desejar você – Joel disse isso pressionando o corpo contra o dela, por trás, sensualmente.

- Por quanto tempo? Hoje eu tenho 42 e você 32 anos. Por quanto mais tempos se estica essa diferença de linha do tempo? E quando você for um quarentão gato e eu for uma cinquentona caída? Onde estaremos?

- Apaixonados. Permaneceremos exatamente no estado de amor onde agora estamos.

- E agora eu ainda carrego essa melancia a frente do meu corpo. Antes eu era só a quarentona. Agora eu sou a quarentona com uma barriga de grávida gigante, pés inchados, fim das curvas de cintura.

Foi naquele instante quando Joel se cansou de todas as ideias de insegurança que Medeia recitava, já que ele não concordava com nada daquilo. Por isso, ele a guiou pelo braço de volta para o interior da casa.

Eles foram para o quarto e na outra ponta do corredor o pequeno Ulisses continuava brincando sozinho em seu quarto sem se importar com mais coisa alguma.

Com cuidado Joel deitou Medeia de lado na cama e logo deitou atrás dela. Ele era aquele homem rústico, suado, que deitava sujo de terra sobre a cama, se agarrando a ela e não se importava. Medeia também não se importava.

Naquela posição, confortavelmente de lado, Joel penetrou Medeia cheio de cuidados. Foi por pouco tempo. Logo ele se empenhou em massageá-la com os óleos estimulantes que ele mesmo fazia e passou um bom tempo com a sua cabeça entre as pernas dela, circulando a sua língua em suas partes íntimas, até que ela atingiu o limite do prazer. Logo ela se sentou na cama, porque o peso da barriga não a permitia ficar deitada por muito tempo. Mas ela estava mais satisfeita, mais segura de si mesma. Joel havia provado que a gravidez avançada em nada tinha o poder de cancelar o pleno prazer sexual.

Por tudo aquilo Medeia era uma mulher feliz. Pela consideração que recebia, pelo novo estado de paz que tinha.

Naquela nova manhã em especial, Medeia fazia ovos estrelados porque era o seu novo desejo alimentar, quando alguém bateu à porta. Um oficial da polícia?

- Pois não? – Medeia quis saber.

Mas ela foi respondida quando o policial já foi colocando as algemas em seus pulsos e a guiando até ao carro que tinha a sirene ligada, girando, brilhando nas cores azul e vermelha mesmo com o sol da manhã.

- Senhora Medeia Ferraz Santana... A Senhora está presa pelo assassinato de Isadora Treslley Ferraz.

- O quê? O que está dizendo? O processo foi arquivado há meses. Foi legítima defesa. Isso foi comprovado, eu fui liberada.

- Houve surgimento de provas – o policial disse sério, frio e a colocou dentro do carro.

Enquanto partiam, Joel surgiu e corria atrás do carro em movimento, desesperado.

Foi naquela pequena delegacia de cidade rural que Medeia entendeu tudo. Um celular. Uma ligação. Um registro. Uma armação. Naquele dia em que Isadora morreu, naqueles minutos antes de sua morte quando ela pediu para ir ao banheiro para se aprontar, ela fez algo proposital e muito bem executado. No banheiro Isadora ligou para um de seus comparsas, fingiu choro, mentiu dizendo que a mãe iria matá-la e retornou ao corredor perguntando "Você vai me matar, mamãe?", enquanto o seu celular escondido no bolso mantinha a ligação acontecendo. O comparsa acabou cedendo à polícia a gravação do áudio da ligação como havia sido instruído. "Não entregue de cara. Espere uns meses depois da minha morte. Deixe que ela acredite que será feliz para sempre com o jardineiro e então foda com a vida dela com o áudio dessa ligação", Isadora havia dito naquele banheiro, suas últimas palavras.

Enquanto era colocada dentro da cela suja e escura com outras mulheres, Medeia chorava e alisava sua grande barriga grávida e entendia que até em seus últimos momentos de vida Isadora havia a atacado e sua última tentativa havia sido bem sucedida. Uma prisioneira, uma mulher grande e negra meteu a língua quente dentro da orelha de Medeia e disse "eu sempre tive uma tara por vadias tesudas grávidas". Medeia fechou os olhos. Ela tinha a certeza de que naquele instante Isadora deveria estar gargalhando diretamente do inferno.  

NA PRÓXIMA POSTAGEM... EMOÇÕES DO PENÚLTIMO CAPÍTULO!

O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora