QUINZE. Que Mal Eu Fiz?

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- Isadora, minha filha... Não, espera. Você não é minha filha. Saiu de dentro de mim, mas depois de tudo o que fez, não é mais minha filha, mas enfim... Garota... O que você fez? Você roubou essa criança? Isadora, de quem tu roubou essa criança? – Medeia perguntava eufórica agora.

Isadora riu alto.

- Mamãe, a senhora é uma figura mesmo. Esse aqui saiu de dentro de mim, igualzinho eu saí de dentro de você. Eu posso entrar pra gente conversar melhor?

- Quem? O pai... Quem?

Então Isadora entrou com o seu bebê no colo mesmo sem permissão.

- Ah, vai por mim. Não existe nada interessante em descobrir quem é o pai do meu filho. Deixa isso pra lá.

- Isadora, você só tem 16 anos agora.

- E daí? Quando ele entrou em mim e começou a crescer no meu útero eu tinha acabado de completar 15 anos. A minha geração começa os trabalhos cedo. Vai me dizer que você não sabia?

Aquele foi o momento quando Joel acordou. A primeira coisa que os seus olhos viram foi Isadora e então ele deu um salto assustado da cama, ainda tentando compreender se era realidade ou um grotesco pesadelo. Como sempre dormia nu, ele se apressou em vestir uma cueca boxer cinza. Foi tudo rápido. Joel pegou a garrafa marrom de vidro sobre a bancada de barro, bateu na superfície, quebrou com raiva e apontou aquela metade de garrafa cheia de pontas de vidro afiadas para o rosto de Isadora de forma ameaçadora.

- SUA CAPETA! – Joel gritou.

- Prazer em rever você também Joel – Isadora disse tranquilamente – Nossa, já deu pra perceber que eu não tenho conquistado muitos fãs recentemente.

- Por que você não morreu? Por que você está aqui? Você tentou matar a sua mãe. Você tentou me matar!

- Joel, por favor, se acalma. Deixa essa infeliz ir. Esse monstro tem um bebê agora.

- Coitada dessa criança – foi o que Joel disse abaixando a garrafa pontiaguda que segurava a pedido de Medeia.

- Tudo bem. Eu vou embora. Já entendi a mensagem. Vocês me odeiam. Que seja. Bom saber que você está por aqui e está bem de qualquer maneira, mamãe. Bom saber que você realizou o seu desejo de se atracar e viver para sempre com o jardineiro que respira sexo. Felicidades pra vocês – Isadora disse e partiu.

A marca causada pela inesperada visita de Isadora permaneceu ardendo e amargando em Medeia e Joel durante toda a manhã. Pela tarde os dois se encontravam sentados na varanda da cabana observando a paisagem. Um silêncio desconfortável.

- Você acha que foi Isadora? Acha que foi a sua filha que promoveu o último atentado para tentar matar você? Os tiros, seu carro capotando – Joel finalmente perguntou.

- Joel, eu já disse antes e repito. Eu – não – sei. Como eu poderia saber? Podemos, por favor, falar sobre outra coisa qualquer?

- Eu poderia te contar histórias. Minhas histórias. O problema é que para isso eu teria que remexer no passado e você já esclareceu que o passado é uma coisa que não te agrada.

- Então deixe que eu esclareça mais uma coisa. Se eu não gosto do meu passado, se eu tenho medo dele é porque eu não recordo tudo totalmente. Algo tão horrível deve ter acontecido comigo quando eu era uma criança que a minha mente bloqueou isso e logo é natural ter medo daquilo que é desconhecido para você.

- Nunca pensou em buscar ajuda? Um especialista que a ajudaria e relembrar e superar isso.

- Eu vou. Um dia. Um dia – E Medeia suspirou tão profundamente como se nunca tivesse ficado tão cansada daquele jeito em toda a sua vida – Eu só quero me sentir bem Joel e feliz. É pedir muito? Eu sou assim uma pessoa tão errada e monstruosa que não tenho o direito de ser feliz?

O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora