Eu não posso resistir a ele. Eu não consigo. E afinal como conseguiria de qualquer maneira. Ele está aqui. O peso do corpo dele está sobre mim. Pesa deliciosamente sobre o meu corpo. Ele sua. A essência em seu corpo musculoso e suado é uma mistura de grama fresca, flores silvestres e hormônios. Ele me beija. Eu não consigo mais respirar. Estamos deitados no chão, na terra. Eu não me importo. Ele já está sem camisa e agora tinha a minha blusa. Eu também não me importo nem um pouco. E quando ele leva os seus lábios molhados até o meu peito...
- MÃE! – Isadora berrou e acordou Medeia daquele sonho.
- Isadora, o que você pensa me acordando desse jeito? Você tem 14 anos e não 4. A casa está ardendo em chamas ou o quê?
- É tarde.
- Cale a boca. Não é nada – Medeia reclamou levantando da cama.
- Já é a minha hora de ir para a escola. Faça uns sanduíches. Eu quero levar.
- Enfie umas bananas na sua mochila e se alimente com isso no intervalo. Onde está o seu pai? – Medeia perguntou indo até ao banheiro.
- Ele já está no trabalho. Eu já não disse que é tarde? Você que é a teimosa rabugenta que não acredita.
Mas Medeia apenas bateu a porta do banheiro.
Duas horas depois e Isadora já estava há muito tempo na escola. Medeia estava de pé em sua cozinha, em frente à bancada de azulejos azuis. Ela preparava a massa de uma torta. Mais uma. A sua melhor amiga, Noemi, de cabeleira ruiva e o terceiro cigarro fumegando entre os seus dedos sentava no banco alto logo atrás dela papeando.
- Eu tive um sonho erótico essa noite – Medeia então a confessou.
- Fascinante. Por acaso foi o seu primeiro?
- Que eu me lembre.
- Conte tudo.
- Ele era um jardineiro, aparentemente. Másculo, musculoso... Inebriante. Ele estava prestes a me penetrar enquanto estávamos atirados em algum chão barrento, mas daí Isadora me despertou.
- Se fosse a minha filha eu teria enfiado um tapa bem no meio da cara dela por me tirar de uma fantasia dessas logo na parte boa – Noemi disse e fumou.
- Eu não preciso de fantasias, Noemi. Eu tenho a minha vida, tenho o meu marido...
- Você é uma escrota, patética e ridícula. Sabia disso?
- E por quê? – Medeia perguntou tranquilamente enquanto terminava de amaciar a massa doce.
- Viva um pouco.
- Está mandando que eu abra as pernas para um jardineiro?
- Isso foi você quem disse. Eu só estou dizendo que deve ser menos restrita.
- Você é uma piada. Uma piada feia – Medeia a disse. – Como entender você? Você vira noites em claro entupindo a sua cara de chocolate enquanto assiste a filmes românticos, acredita em contos de fadas e ao mesmo tempo se permite transar com policiais em esquinas sujas e ter dois homens invadindo você ao mesmo tempo. Quem é você? Eu vou dizer. Uma contradição ambulante.
- Eu sou uma contradição? Quer falar de contradição? – Noemi deixou o banco alto onde sentava e parou ao lado de sua melhor amiga. – Já você é aquela que odeia romantismo barato, as historinhas de mulheres apaixonadas e, no entanto, se casou, tem um lar, filha, vida de esposa e está aí assando tortas.
- Sua vaca.
Noemi riu. Ela beijou Medeia bem nos lábios e partiu.
- Eu volto mais tarde para provar essa sua torta com gosto de vida doméstica – Noemi disse lá de fora no quintal cimentado e pequeno da casa.
- Eu estou velha? – À noite Medeia perguntou quando estava sentada em frente ao espelho da penteadeira do seu quarto. Usava camisola rosa apenas, esticava o seu rosto com as mãos. – Eu pareço velha? Quero dizer... Eu pareço ter os 38 anos que eu tenho?
- Você gosta da vida que temos aqui? – o seu marido decidiu perguntar em contrapartida.
- Ah, não Neto. Não faça isso.
- O quê?
- Não responda a minha pergunta com uma pergunta.
- Você é linda. Agora diga.
- Eu gosto da vida que temos aqui. E daí?
- Que tal melhorar a vida que temos?
- Isso não faz sentido. Do que é que você está falando agora? – Medeia perguntou deixando a penteadeira e foi se juntar a ele na cama. – Eu disse que gosto do que temos.
- E eu falei "melhorar". Quem, em nome de todos os céus, não quer melhorar?
- Como?
- Vamos nos mudar. Vamos viver em uma boa casa na área rural da cidade.
Medeia ficou em silêncio. Não porque de repente ela não sabia o que dizer, mas porque de repente a sua mente ficou lotada de possibilidades sobre o que poderia encontrar.
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O Jardineiro Amado
RomansaIMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS - LINGUAGEM OBSCENA, CENAS SEXUAIS E VIOLÊNCIA. Uma nova vida na zona rural da cidade com o seu marido desinteressante e sua problemática filha adolescente é o ponto de partida que a dona de casa Medeia precisava p...