1. Um Dia na Rotina

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Era mais um dia comum, como tantos outros desde que chegara àquele lugar. Já faziam dois anos, e poucas pessoas se aproximavam de mim, mas eu lidava bem com isso. Como de costume, me preparava para ir à escola.

— Bom dia, Ariana! — ouvi alguém me cumprimentar.

— Bom dia! Posso ajudar? — perguntei, ajustando a mochila nos ombros.

— Só passei para avisar que o café da manhã está na mesa. — respondeu o garoto.

— Está bem, obrigada! Qual é o seu nome? — indaguei.

— Eu sou o Ayden. Prazer em conhecê-la. — respondeu timidamente.

Percebi que Ayden era um rapaz reservado e o único que se aproximava para conversar comigo.

— Estamos te esperando lá. — disse, saindo do quarto.

As pessoas aqui não eram muito amigáveis, mas eu não reclamava; a maioria eram crianças e os jovens da minha idade eram, na maioria das vezes, pouco educados. Eu era considerada estranha, mas tinha aprendido bons modos na escola.

Peguei minha mochila e desci para a cozinha. Lá, uma mesa enorme estava disposta, cada um com seu lugar marcado, mas a comida era escassa. O governo parecia não se importar muito com os órfãos, mas tínhamos Cristina, a diretora do orfanato, sempre tentando nos proporcionar o melhor possível. Eu gostava dela.

— Bom dia! — cumprimentei ao entrar na cozinha.

— Bom dia, Ariana! — respondeu Cristina.

Como esperado, ninguém mais respondeu. Na verdade, eu não sabia se as pessoas aqui sabiam sobre meu passado ou de onde eu viera, mas isso não me importava.

Após terminar de comer, peguei minhas coisas e dirigi-me à escola. Lá também não tinha muita companhia, exceto Noah, um colega de turma que eu achava bonito.

Ao chegar, lá estava ele.

— Bom dia, Ari! — cumprimentou Noah.

— Bom dia! — respondi.

— Como foi seu final de semana? — perguntou ele.

— Foi entediante como sempre. Noah, não tenho muitos amigos por aqui, na verdade, só você, e nem sei se posso te chamar de amigo. — confessei.

— Claro que pode, Ari. — disse Noah, sorrindo.

Noah sabia quem eu era, assim como algumas pessoas da escola. Quando fui transferida para o Texas, as informações sobre meu caso vazaram, e Combes não era uma cidade grande, o que facilitava a disseminação de notícias.

— É estranho ter alguém por perto. — comentei.

— Você vai se acostumar. — tranquilizou-me Noah. — Vamos logo à diretoria, você precisa assinar o termo de presença.

— Que chato! — reclamei.

Por conta de um acordo judicial, eu precisava assinar um termo diário de presença na escola, e se precisasse faltar, comunicar o policial que me vigiava vinte e quatro horas por dia.

— Só um policial te vigiando este mês? — perguntou Noah.

— Sim, os outros dois estão ocupados com algum problema. — respondi, assinando o papel. — O juiz aliviou um pouco por eu estar me comportando bem.

— Isso é um bom sinal. — comentou Noah.

— Enquanto eu estiver medicada, sim. — acrescentei.

E eu que pensava ter dito demais. Agora Noah provavelmente me achava uma completa maluca.

— Isso foi muita informação de uma vez só. Mas eu gosto de você assim, medicada. — disse Noah.

— E continuará gostando. — respondi, rindo. — Vamos logo para a sala de aula.

Noah era uma boa pessoa, sempre me apoiando desde que cheguei há dois anos. Eu não queria perdê-lo; ele poderia ser útil.

Ao entrar na sala, senti alguns olhares de julgamento, mas não me importei. Sentei-me em meu lugar.

— Olha só se não é a maluquinha da turma! — provocou Lauren.

— Bom dia, Lauren! — respondi.

— Tomou seu remedinho hoje, amiga? — provocou novamente.

— Claro! Porque se um dia eu chegar aqui sem estar medicada, posso muito bem resolver isso de outro jeito. — retruquei.

Lauren não disse mais nada e voltou ao seu lugar, aparentemente sem resposta.

O professor entrou alguns minutos depois, começando a explicar a matéria. Por um momento, distraí-me.

— Ariana? — chamou o professor.

— Oi! Desculpe, estava distraída. — respondi, voltando a prestar atenção.

— Está tudo bem? Parece que você não está focada. — comentou o professor.

— Ela é psicopata, óbvio que não está bem. — cochichou Lauren, audível para todos.

— Estou bem, professor. Só me perdi por um momento. Desculpe-me. — respondi, tentando ignorar os comentários.

— Tudo bem, vou deixar passar desta vez. — decidiu o professor.

Consegui focar na aula depois disso, e foi bastante interessante.

No intervalo, sentei-me do lado de fora da escola, esperando Noah voltar da biblioteca. Às vezes, quando ficava sozinha, imaginava como seria minha vida se alguém me adotasse. Era uma realidade distante, mas sonhar não custava nada. Talvez eu pudesse levar uma vida normal. A mente de alguém com psicopatia é diferente; somos julgados, mas também julgamos, fazemos as pessoas gostarem de nós sem saber com quem estão lidando.


[...]


Quando Noah voltou da biblioteca, almoçamos juntos antes de retornar à sala de aula. Eu era bastante inteligente, não só por ter sido matriculada em uma boa escola pelos meus pais, mas também pela minha própria perspicácia. Sempre gostei de estudar, mesmo durante a reabilitação, nunca deixei os livros de lado.

Hoje foi um dia bom, tudo correu normalmente. Um bom sinal.

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