2. Encontro Inesperado

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Cheguei da escola na hora do almoço, mas às vezes não comia porque a escola já fornecia comida para nós, o que era conveniente para o orfanato.

Como todos os dias, fui direto para meu quarto. Sim, eu tinha um cantinho só para mim.

— Ariana? — ouvi Ayden me chamar.

— Oi! — respondi.

— Você vai almoçar conosco hoje? — perguntou Ayden.

— Não, obrigada. Já comi na escola. — respondi.

— Cristina imaginou que diria isso. Mas pediu que você ficasse lá embaixo. — disse Ayden.

Desci para a cozinha e deparei-me com as crianças, cada uma com uma expressão quase inexpressiva. Posso ser maluca, mas eles são assustadores. Havia apenas dois adolescentes, entre quinze e dezesseis anos, e cinco crianças de cinco a nove anos. Éramos uma família pequena. Os adolescentes mais velhos sabiam quem eu era, provavelmente porque ouviam rádio todos os dias, já que não tínhamos celulares.

— Boa tarde! — cumprimentei Cristina ao entrar.

— Boa tarde, Ariana! — respondeu ela.

Voltando aos dois adolescentes, sempre me olhavam com uma expressão estranha. Era irritante.

— Vocês dois vão ficar me olhando assim para sempre? — reclamei.

— Sabemos o que você fez, e nos ensinaram que isso não é atitude de uma boa pessoa. — respondeu o menino.

— Ah, por favor! Não venham com esse papo moralista. Sou perfeitamente equilibrada e não gosto do jeito que vocês me olham. — disse.

— Não podemos ter contato com você, Ariana. — afirmou o menino.

— Isso é problema de vocês. Mas se continuarem me encarando assim, podem acabar sem esses olhos. — retruquei.

— Meninos, acalmem-se. Ariana precisa se sentir confortável aqui. — interveio Cristina.

— Não preciso disso, só que parem de me julgar. — disse.

— A hipocrisia, meu Deus... — sussurrou o outro menino.

— Vou fazer vocês gostarem de mim. Bom, Cristina, estarei ali na sala de entrada. — disse. — Consigo fazer as pessoas gostarem de mim, sou simpática e educada.

Como não tinha nada para fazer na sala, fiquei enrolando por alguns minutos e depois subi para meu quarto, sem esperar encontrar alguém lá dentro.

— Olá! Você provavelmente entrou no lugar errado. — disse.

— Não entrei não. — respondeu.

Era um menino pequeno. Era Nicholas.

— Isso só pode ser brincadeira. Você não existe! — exclamei, levando as mãos à cabeça. — Saia daqui!

— Se eu não existo, o que estou fazendo aqui então? Sou seu amigo de infância, Ariana.

— Não! Você é coisa da minha cabeça. — insisti.

— Sinto sua falta e parece que você sente a minha. É por isso que estou aqui. — disse Nicholas. — Nenhum medicamento no mundo fará você me esquecer. Você está se sentindo sozinha.

— Tenho o Noah, não preciso de você. — disse.

— Noah é um bom rapaz, mas você não dá valor a ele, Ariana. Estou aqui.

— Como faço para me livrar de você de novo? — perguntei.

— Nunca saí da sua mente. Apenas feche os olhos. — respondeu Nicholas.

Fechei os olhos por alguns segundos e, ao abri-los, ele havia desaparecido. Estranho pensar que estou tendo alucinações. Meu médico disse para avisá-lo se isso acontecesse novamente, mas não quero ficar trancada em um quarto branco com idosos esquisitos ou jovens malucos. Pensei em ligar para Noah e contar a ele, lembrei que ele havia escrito o número no meu caderno, mas precisava de um celular.

— Cristina? — chamei. — Pode me emprestar seu celular?

— Posso, mas para quem vai ligar? — perguntou Cristina.

— Para um amigo da escola, Noah. — respondi.

— Tudo bem. — disse Cristina, entregando-me o celular.

— Obrigada! — disse.

Voltei ao quarto e disquei o número de Noah.


Chamada iniciada

— Alô?

— Oi, Noah, é a Ariana!

— Ari, que surpresa! Achei que nunca fosse me ligar.

— O plano era esse, mas estou com um problema.

— Como posso ajudar?

— Lembra quando contei sobre meu amigo imaginário?

— Sim, você disse que não gosta de tocar no assunto.

— Pois é, acabei de vê-lo. Preciso contar aos meus médicos. O problema é que não quero ir sozinha.

— Tudo bem, Ari, estarei aí em quinze minutos.

— Obrigada!

Chamada encerrada


Terminei a ligação e fui devolver o celular a Cristina, informando-a sobre minha ida ao médico e quem iria comigo.

— Tem certeza de que não quer que eu vá? — perguntou Cristina.

— Não precisa. Noah é confiável, e terá um policial comigo.

— Está bem, então. — disse Cristina.

Fui lá fora comunicar ao policial que precisava sair para o centro psiquiátrico.

— O que aconteceu desta vez? — perguntou Marvin.

— Nada demais, só preciso ir lá. — respondi.

— Mesmo que não seja nada demais, precisa me contar. A juíza vai querer saber. — disse Marvin.

— Eu sei. Depois que souber o que o médico diz, poderei contar. — respondi.

Marvin era legal, só estava fazendo o trabalho dele. Dave, por outro lado, era corrupto. Já fui agredida por ele algumas vezes, mas foi suspenso temporariamente. Não importa o que faça, sempre serei julgada por isso.

Quinze minutos depois, Noah chegou e fomos à consulta.




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