O corpo de Dove estava inerte no chão, seus olhos sem vida fitando o nada. Meus dedos ainda tremiam, manchados de sangue que começava a secar. Olhei para minhas mãos, o peso do que havia feito começando a se infiltrar na minha mente. Precisava me livrar das evidências, limpar as marcas que poderiam me condenar.
Deixei o corpo dela jogado no chão frio do quartinho e, com passos rápidos, saí para o corredor sombrio. Encontrei um cano velho de onde gotejava uma linha fina de água. A água suja não era ideal, mas serviu para lavar o sangue das minhas mãos, o que aliviou apenas parte do fardo que eu carregava.
Quando finalmente saí do prédio, a noite parecia envolta em uma escuridão densa, como se o próprio mundo soubesse do crime que acabara de cometer. Enquanto caminhava de volta para o orfanato, minha mente tentava processar o que tinha feito, mas fui arrancada de meus pensamentos ao ver uma figura familiar.
Sentada em um banco próximo à praça, Taylor me observava com um olhar frio e calculista.
— Taylor? O que faz aqui? — perguntei, minha voz traindo uma pitada de preocupação.
— Eu moro aqui. — respondeu Taylor, como se estivesse comentando sobre o tempo. — Minha casa é logo ali, atrás da praça. E eu é quem deveria estar perguntando o que a senhorita está fazendo aqui. Já é a segunda vez que a vejo por esses lados.
Minha mente acelerou. Segunda vez? Quando foi a primeira? Perguntei-me, sentindo uma onda de preocupação tomar conta de mim.
— Segunda vez? Quando foi a primeira? — perguntei, tentando manter a voz firme.
— Quando você veio trazer um corpo. — Taylor respondeu, sua voz calma, mas com um tom de ameaça implícita, que me deixou sem reação por alguns segundos. — Não se preocupe, não irei contar para ninguém o que vi.
Meu coração acelerou. Como ela sabia? Como ela poderia ter visto? E, mais importante, o que ela queria em troca desse silêncio?
— O que vai fazer com essa informação? — perguntei, tentando sondar suas intenções.
Taylor riu, mas o som era frio, quase cruel.
— Como assim? Está achando que vou contar a alguém? Relaxa aí, Ariana! — disse ela, cruzando as pernas com uma confiança perturbadora. — Eu não quero morrer, e sei que você vai tentar me matar. Se der sorte, irá conseguir.
Suas palavras me pegaram de surpresa. A certeza com que ela falava, como se já tivesse ponderado sobre as possibilidades, me deixou inquieta.
— Como assim "se der sorte"? — perguntei, estreitando os olhos para ela.
— Se der sorte de eu não te matar primeiro. — disse Taylor, com um sorriso que não alcançava seus olhos.
— Quer tentar fazer algo comigo? Burrice, não acha? — perguntei, desafiadora, mas sentindo uma tensão crescente entre nós.
— Talvez. Não tenho medo de você. — respondeu Taylor, sua voz imperturbável, quase desdenhosa.
— Cuidado, Taylor. — avisei, minhas palavras carregadas de um perigo velado.
Antes que ela pudesse responder, me virei e comecei a andar rapidamente em direção ao orfanato, tentando abafar a sensação de que Taylor sabia demais. Ao chegar, encontrei Ayden me esperando na entrada.
— Oi, Ariana! — disse Ayden, sua voz infantil trazendo um alívio momentâneo.
— Olá! — respondi, tentando sorrir.
— O que houve? Está estranha. — perguntou ele, preocupado.
— Não é nada, só estou cansada. — menti, tentando afastar a conversa sobre o que realmente estava acontecendo.
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Meu Amigo Imaginário
HorrorAriana White Carpenter sempre foi uma criança diferente das outras. Desde cedo, ela desenvolveu uma personalidade perturbadora, acompanhada por um amigo imaginário que nunca a deixou. Mas esse amigo não era como os outros: ele a incentivava a comete...