Capítulo 10 °

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°° Breeze °°

Acho que nunca senti tanto medo na vida, como senti agora. Realmente, fiquei assustada e sem saber como Dimitri iria reagir a minha fuga. Ainda bem que, aparentemente, lá no fundo, ele é alguém que pode ser compreensivo.

Desde que chegamos aqui, da minha frustrante fuga, algo está me incomodando, não sei se é dor mesmo, é diferente. É mais forte, nunca senti esse incômodo com tanta intensidade, mas com o nervoso de antes não pude verificar o que seria.

Sinto uma pontada debaixo desse pé humano e me sento na cama, tomo coragem para olhar, dobro minha perna de modo que ela fique em cima do joelho da outra, inclino um pouco pro lado e solto um grito. Tem um corte no meu pé, não é necessariamente um corte, é um buraco tapado com um pedaço enorme de vidro preso, como não senti isso entrar aí? Deve ter sido na hora que estava correndo e meus pés doíam, pensei que era o atrito por não estar acostumada.

Decido retirar o vidro, levo minha mão até a pontinha dele e começo a puxar. Agora sei o que é dor forte, isso é muito ruim, enquanto tiro, fecho os olhos, pressiono os lábios mais fortes ainda e por fim consigo tirar, mas acho que não foi uma boa ideia, pois o sangue que antes parecia preso, está saindo com muita força, sujando tudo, fico nervosa e não sei o que fazer.

Dimitri? — Grito e espero, mas nada acontece

Subo mais para a cama, decido enrolar o lençol e apertar, ouvi falar que isso estanca o sangue. Enrolo o lençol no pé e aperto com força, mas o sangue continua saindo, decido ir até a porta, bater, gritar, chamar a atenção dele.

Tento ficar de pé, mas caio sentada. Não desisto, volto a ficar de pé e apoio o peso do corpo somente no pé bom. Tento encostar o bom no chão, mas mordo os lábios pela dor que me atinge. Preciso de ajuda, vou acabar morrendo aqui, isso não vai ser bom para mim e nem para o humano que tenho um acordo.

Tento correr, isso pode amenizar a dor, mas no primeiro passo já estou no chão novamente. Vou morrer, to sentindo isso, apoio meus braços na cama e pego impulso para subir, deito e encosto minha cabeça no travesseiro.

Dimitri! Dimitri! — Grito mais alto ainda e espero, nada ainda, olho para meu pé, enrolado no lençol antes branco e agora vermelho de tanto sangue.

Começo a ficar cansada, meus olhos piscam com mais dificuldade e não demora muito até que mergulhe em uma escuridão sem fim, acho que é aqui que morro.

°° Dimitri °°

Tive de cancelar as visitas de hoje e transferir para amanhã, pois ainda preciso conversar com a sereia para que entenda que deve me respeitar, pois é apenas um monstro que foi capturado. Mesmo que ultimamente não pareça tanto com o monstro que almejei.

Sigo em direção ao quarto em que está, já preparado para um sermão que vai fazer até quem não chora, chorar.

Abro a porta, a sereia está deitada, aparentemente dormindo, porém mais branca que o normal. Me aproximo lentamente e vejo uma poça de sangue na cama, me desespero na hora. Será que ela se matou só para não ficar aqui? Não acredito nisso. A poça de sangue centralizada em seu pé, me faz crer que não foi uma tentativa contra a vida, e sim algo que deve ter sido consequência de sua ação anterior. Vejo que colocou pressão para evitar o sangue sair, mas não foi suficiente.

— Breeze? Breeze? — Chamo, mas ela continua imóvel. — Breeze? — Seguro em seu braço e balanço, a mulher que está deitada de lado, se mexe um pouco e abre os olhos, me encarando e abrindo um sorriso fraco.

— Eu te perdoo. — Fala em um sussurro e logo fecha os olhos.

Estou impactado pelas suas palavras, mas não tenho tempo para pensar nisso. Apenas pego o celular no bolso, ligo para um amigo meu que é médico e ele fala que já está vindo, ele é meu vizinho, agradeço por isso. Ela não pode morrer, porque ainda tenho de ganhar muito dinheiro por exibi-la, só por isso, é, só por isso.

Breeze - Uma sereia em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora