Capítulo 58 °

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°° Dimitri °°

Fico encarando a porta pela qual ela acabou de passar. O que aconteceu comigo? Eu surtei muito. Não sei mesmo o que aconteceu, o que falei ou o que me trouxe de volta ao normal.

Estava deitado no quarto e de repente senti algo diferente, fui trazido para cá de imediato. Não comandava mais meu corpo. Entrei em estado de alerta e pronto a proteger as coisas do meu pai, deve ter a ver com o lance de ser o novo guardião, aquela fumacinha que passou para mim após ele morrer. Acho que o feitiço me transformou nesse monstro sem controle.

Machuquei ela, mas não foi minha intenção. Estou me sentindo a pior espécie de homem vivo. Como pude ficar sem controle assim? Deveria ser mais forte, mas ainda sou fraco diante de todo esse mundo mágico.

Olho para o diário do meu pai em cima da mesa, está na última folha, onde sei que tem uma mensagem dele, mas nunca cheguei a ler. Acho que, depois de tudo, tenho de tomar coragem para ler.

Desde que meu pai se foi, não consegui encostar direito em suas coisas. Seu quarto ainda está intacto, assim como tudo em seu escritório. Ele sempre foi enigmático e dizia que uma hora tudo faria sentido, mas, até então, nada faz sentido para mim. Nunca fui tão confuso como atualmente.

Sento na cadeira e passo a mão pelo rosto. Além de covarde, estou me sentindo miserável. Quero me bater por ter machucado ela, a marca em seu pescoço mostra que passei dos limites e entendo que me odeie.

Só que não entendo o motivo das suas palavras me causarem tanta dor no coração. Cada palavra que ela proferia era como uma facada e me deixou péssimo, como se meu coração fosse parar a qualquer momento. Não sei a conexão que temos, mas ela existe, só não é certa.

Talvez seja por tê-la tirado do mar e apresentado um mundo novo a ela, isso deve ser obsessão e não algo a mais. Lá no fundo, ela ainda é meu troféu e por isso tenho agido de forma tão inconstante perto da sereia.

Pego o diário de meu pai na mão e sinto como se ele estivesse aqui, ao meu lado, me confortando. Acho que posso receber algum direcionamento nas palavras dele, parece o momento ideal para isso.

— Não estava preparado para sua partida. — Fecho os olhos e respiro fundo. — Sinto muito por ter sido um filho tão covarde.

Abro os olhos e deixo o diário em sua última página, na capa, onde se encontram os dizeres deixados.

Começo a ler e novamente já não aguento mais, sempre na mesma parte, sempre paro em ' Eu não quero que essas palavras sejam como um adeus', pois é exatamente isso que sinto, que foi mesmo um adeus. Porém dessa vez vou continuar, não quero ser um covarde para sempre.

Continuo lendo, ignorando todas as partes em que penso em parar e quando termino, já não existem mais lágrimas para sair.

Por covardia, ignorei essa carta e se tivesse lido antes, muita coisa teria sido diferente. Teria encontrado o Dylan e saberia que não estava maluco, pois sereias existem. Não teria ficado cego e descontrolado para provar que estava certo.

Recosto novamente na cadeira e passo a mão no cabelo. Eu preciso pedir desculpas a Breeze, não posso deixá-la com raiva de mim, preciso explicar que não tive a ver com o que aconteceu.

Levanto da cadeira e nesse momento a porta secreta se abre, fico olhando pensando ser a Breeze e quando vejo o Dylan, engulo seco, seu rosto não está nada amigável.

— Eu vou te matar. — Ele aponta o dedo para mim enquanto se aproxima. — Você machucou minha irmãzinha. Você pode odiar ela, mas eu não e não admito que ela sofra. — Recuo um pouco e ele para.

Breeze - Uma sereia em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora