Capítulo 64 °

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°° Dimitri °°

Só consigo me movimentar quando o corpo da sereia desaparece mais a frente, parece que algo está me enfeitiçando e me fazendo repeli-la. Minha vontade era correr atrás dela, dizer que sinto o mesmo e que não deveria chorar por um babaca como eu, não vale a pena.

Mas, infelizmente, esse amor que tenho pela Tassála me faz parecer um inútil. Me sinto errado ao estar com ela, me sinto desconectado e ainda assim, não consigo apagar o sentimento que sinto por ela. É algo fora do normal.

Onde estou me metendo? Será que é o certo a se fazer? Parece o certo, mas também parece errado. Ouvi dizer que, nem sempre o que parece certo aos nossos olhos, é, realmente, o caminho certo a se seguir, pois, no fim, esse caminho pode nos conduzir à morte. Por que sinto que estou caminhando para o meu fim precoce?

— Dimitri? — Dylan aparece, me tirando do transe.

— Foi você que trouxe ela, não é? Você não tirou da cabeça essa ideia de me fazer desistir, eu já te disse, isso não vai acontecer. Eu não consigo!

— Ela queria falar com você, se despedir para seguir em frente.

Não quero brigar com ele, por isso, apenas encosto na parede quando pareço prestes a perder as forças e fecho os olhos.

— Eu estou tão cansado. — Encaro meu irmão e sinto meus olhos marejados. — Estou cansado de decepcioná-la, não posso ser recíproco com o que ela sente.

— Por quê?

Porque ela não merece alguém como eu! — Solto sem me importar com nada. — Porque ela é boa e eu sou o cara que faz ela chorar. Porque ela ri das mínimas coisas e se sente feliz por isso, e eu? Sou o cara que tirou ela do mar e fez da vida dela um inferno. Sou o cara...

— O cara que você quer parecer e não o homem que ela enxergou. — Ele me interrompe e não sei mais o que falar. — Dimitri, não sei o que está acontecendo, mas você é uma pessoa muito melhor quando ela está por perto. Não estou dizendo isso por não gostar da Tassála, mas por ser seu irmão e querer apenas o melhor para você. Ela te ama, mas... isso não vai durar para sempre.

— Me esquecer vai ser o melhor que ela pode fazer.

— E se ela já tiver esquecido? — Olho para ele sem entender. — Sinto que alguém mexeu na minha mente, mas tenho tido sonhos de coisas que não lembro, sonhos que me fazem sentir que algo aconteceu.

— Você também? — Me aproximo. — Sonhos que te deixam sem dormir por estar assustado com o quão real parece ser? Isso está me deixando louco.

— Irmão, não posso dizer o que vai fazer, sei que não vai me escutar, mas posso te dizer uma coisa, você não vai ser feliz. Ainda dá para desistir.

— Obrigado pela ajuda, mas preciso ficar sozinho. A cerimônia logo vai começar, vá ver se tudo está certo, como o bom irmão que é. — Dispenso a ajuda que tenta me dá, não acho que existe algo que possa mudar essa certeza que enraizou em minha mente.

— Nos vemos daqui a pouco. — Não questiona, apenas se vira e sai, me deixando sozinho.

Aperto minha mão, só então lembro que ela deixou algo comigo. Olho o colar que era de minha mãe sob minha palma, pensei que tinha perdido anos atrás, mas estava com ela. Como isso foi acontecer?

Poderia pensar que perdi no mar e, coincidentemente, ela achou, mas, tenho uma caixinha de música que guardo com tanto cuidado, sem ao menos saber o porquê. Deve ser a que ela falou.

Esse colar pertencia a mulher que me deu a luz, quem eu deveria chamar de mãe, porém não consigo.. A única coisa que eu tinha dela, por incrível que pareça, era algo dela que eu não odiava, sempre mantive perto, imaginando que ela iria voltar, dizer que estava errada, me pedir perdão por ter me abandonado e tudo ficaria bem. Mas, ela não voltou, apenas se foi sem olhar para trás.

Breeze - Uma sereia em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora