Capítulo 54 °

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°° Dimitri °°

Precisei de tempo após deixar a sereia no quarto, dizer que gosta de mim com tamanha sinceridade foi bem... complicado. Pois me fez sentir o coração acelerar, além de um sentimento de reciprocidade que não deve acontecer.

Só não deu muito certo, pois Dylan chegou em desespero logo depois, teve um crise, ficou com falta de ar e quase morreu, mas foi sincero ao dizer que não teve culpa. Alguém tentou distraí-lo para deixar Breeze sozinha.

Quem quer matar a sereia? Não consigo buscar em minha memória ninguém que queira isso, só os caçadores, mas um deles salvou ela e trouxe para eu cuidar. Ela tem outros inimigos? Deve ter feito algo bem alarmante para irritar essa pessoa que quer vingança.

Sigo em direção ao meu quarto, passo pelo quarto do Dylan, está um silêncio, abro a porta e constato que ele já está dormindo ao vê-lo babando no travesseiro, dou um sorriso e fecho a porta.

Encontrar Dylan um pouco depois do papai morrer, foi a melhor coisa que me aconteceu. Sofri, pois achei que me sentiria sozinho, porém, mesmo não sendo a melhor pessoa, Deus foi bom comigo e me trouxe o Dylan de presente. Não sou de demonstrar muito, mas desde o momento que ele apareceu em minha porta, já comecei a amá-lo.

Sigo em direção ao quarto da sereia e escuto um resmungo, abro a porta e acendo a luz. Ela está suando e resmungando, seus olhos saem lágrimas também. Ela está tendo um pesadelo.

Encosto minha mão na dela e ela dá um salto, agarrando minha mão com força. Ela está assustada, mas quando por fim seus olhos se encontram com os meus, ela relaxa e afrouxa o aperto, mas não solta. Fico encarando ela e ela a mim.

— Tive um sonho ruim, muito ruim. — Ela solta minha mão e se senta direito, fico olhando para ela. — Tinha uma mulher. — Começa a contar e sem ter outra alternativa, me sento na beira da cama. — Ela tinha tentáculos vermelhos enormes, igual a um polvo. Queria me matar, ela não tinha rosto. Só vi seu vestido vermelho que virava tentáculos no fim e seu cabelo era estranho, era...era...

Não consegue terminar e começa a chorar, fico assustado quando uma expressão assombrosa aparece em seu rosto.

— Ela me matou e riu, ela riu. — Me olha incrédula. — Quem ri após matar alguém? Qual o motivo disso? Será que isso tem a ver com minha perda de memória? Será que deixei alguém com raiva e por isso tentou me matar? Aquelas marcas de garra. — Arregala os olhos. — Alguém tentou me matar. Não foi um simples ataque na floresta, nenhum dos dois.

Se dá conta, mas isso parece deixar seu choque mais forte e prestes a deixá-la mal, não é o momento para isso.

— Foi só um pesadelo, pare de imaginar coisas. Você fugiu e foi atacada, fim. Não tem nada mirabolante por trás disso. — Tento acalmá-la. — Existem melis perigosos sem motivos, aparente. — Ela revira os olhos e deita novamente, ficando de costas para mim. — Boa Noite.

Levanto e sigo em direção a porta, estou morrendo de sono. Se eu encostar a cabeça na porta, acho que durmo. Ainda bem que ela não prolongou seu surto, mesmo que seja por ter ficado com raiva de mim.

— Di? — Paro no mesmo instante que sua voz ecoa pelo quarto. — Não quero ficar sozinha, por favor.

Não entendo o que quer ao dizer isso, mas solto um longo suspiro antes de me virar.

— Estou com sono, Breeze, mal me aguento em pé, preciso ir pro meu quarto dormir.

Sou sincero, mesmo sabendo que irei revirar na cama como sempre e apenas irei cochilar.

— Por favor, fica aqui, só até eu dormir. Pode ir depois. — Solto um longo suspiro, empurro a porta para fechar, apago a luz e sigo em direção a poltrona.

Só mais um pouco, preciso aguentar só mais um pouco e logo conseguirei organizar minha mente.

— Fica aqui na cama, se ficar longe e no escuro, vai ser como se eu estivesse sozinha.

Por que ela continua pedindo essas coisas? Por que eu não consigo resistir? Por que não consigo dizer não?

Talvez, ela tenha me enfeitiçado sem eu perceber.

Ando até a cama, me sento no lado vazio e apago a luz do abajur, retirando o sapato, me sentando e encostando as costas na cabeceira. Sinto seu olhar queimar em minhas costas, mas não me movo. Minha mente me acusa de ser um traidor, de ir contra tudo que acredito.

Se passa um bom tempo, não consigo dormir, e pelo jeito que se mexe na cama, ela também não. Continuo de olhos fechados, mas sinto que se movimenta ao meu lado. O abajur é aceso, finjo dormir.

— Dimitri? Di? — A mão quente dela toca a minha, causando uma sensação desconfortável, tiro rapidamente de perto de mim.

— Estou dormindo. — Resmungo.

— Dimitri, deita, se não vai ficar com dor no corpo. — Fico parado, fingindo que não escutei. — Di, deita. — Diz novamente, só que agora empurra o indicador contra minha bochecha, apertando.

Que sereia irritante!

Me deito com raiva, fico de costas para ela e cruzo meus braços. Fico tenso quando ela começa a me cobrir e mais tenso ainda, quando a proximidade de seu corpo atrás do meu me relaxa por inteiro, trazendo um conforto que não sinto a muito tempo. Seguro a mão dela que roça levemente meu ombro, mas não faço força.

— Dorme, não me acorde mais, sereia. — Solto a mão dela.

— Boa Noite. — Sussurra suavemente perto do meu ouvido e beija meu cabelo ao lado.

Ninguém ensinou a essa mulher o que é limite? Acho que não.

— Boa noite. — Levo a mão à boca quando respondo automaticamente.

Escuto uma risadinha de satisfação, a sereia parece virar de costas para mim, por mais que esteja na ponta da cama e ela tenha todo o espaço restante, sinto o corpo dela encostado ao meu, como se precisasse desse toque para saber que estou aqui.

Não consigo reclamar ou repelir esse contato, pois fecho os olhos que estão pesados, isso me leva ao mundo dos sonhos.

Breeze - Uma sereia em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora