Capítulo 4 °

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°° Breeze °°

Meu corpo está se sentindo bem energético com toda essa água, mas o fato de estar limitada em um espaço me deixa ansiosa, não sou um peixe para ficar presa aqui. Ouvi uma vez que eles gostam de deixar os bichinhos presos nesses lugares, alguns até expõem em restaurantes antes de comê-los.

— Não sou um peixe para você me deixar presa aqui. Tenho sentimentos, humano cruel. — Me expresso indignada e ele me olha com uma expressão... divertida?

— Para mim você é um peixe como todos os outros, a única diferença é que fala e além da conta. — Começa a descer uma escada de ferro, afundo e fico observando pelo vidro todos os seus passos.

Ele termina de descer, afasta a escada do aquário, como se eu fosse conseguir sair daqui e começa a andar, me fazendo perdê-lo de vista antes de escutar uma porta batendo. Ele vai me deixar aqui sozinha? É sério? Não acredito nisso.

Escuto algo bater no vidro, um barulho imensamente irritante, levo as mãos aos ouvidos e olho para onde vem o som, ele está do outro lado sorrindo, esse humano cruel, o que ganha fazendo isso?

Chego perto do vidro e começo a bater, mas nada acontece. Continua aqui, parado e intacto, que raiva. Nado por todo o aquário, mas não tem jeito de conseguir sair. Volto a olhar ele, que agora está sentado em uma das coisas fofas da sala e me olhando, desisto de fazer qualquer coisa e encontro o canto mais afastado, que fica menos visível para ele.

Eu não sou uma aberração e ele também não vai ficar me exibindo, nem que eu fique aqui nesse cantinho para sempre. Consigo ver ele levantando e me procurando, porém fica com raiva quando não consegue e sai batendo o pé. Vou infernizar a vida dele.

Não vi mais ninguém por um bom tempo, só percebi que já era noite, quando fui até o vidro que dava visão para a sala e olhei para a janela. Nunca me senti tão sozinho como durante todo esse tempo que fiquei aqui. Agora sei como os peixinhos que os humanos pegam e deixam em um aquário se sentem, é horrível.

Escuto um barulho, olho pro lado da porta desse lugar que estou, fico em alerta quando vejo um humano entrar tremendo e puxar a escada até ficar perto. Sobe meio hesitante e nado até a superfície, quando apareço, ele dá um grito e se desequilibra, quase caindo, humanos medrosos.

— Não precisa ter medo. — Me olha surpreso, acho que por saber que falo e sua expressão se suaviza. — Qual seu nome? — Pergunto para aliviar a tensão e apoio meus braços na parte reta em que ele está de pé, ficando debruçada, da cintura para cima fora da água, ele se afasta um pouco.

Abre e fecha a boca várias vezes e por fim consegue falar.

— Jhony. — Fala dando um sorriso forçado.

Ele é bem alto e magrelo, além de ter o cabelo bem curto e bem clarinho, não é loiro escuro como o da minha irmã Alira ou do humano cruel. Não sou boa com idades de humanos, mas ele deve ter uns quarenta, por ai.

— Por que está com medo de mim? — Pergunto com uma expressão triste, nunca fiz mal para ser tratada assim.

Ele se ajoelha, abrindo um sorriso que me anima um pouquinho.

— Não é medo, é surpresa. Nunca acreditamos no Dimitri, pensamos que sereias eram um mito, mesmo sabendo que existem diversos tipos de melis na terra. — Diz parecendo sincero e aproxima um tanque menorzinho, tenho quase certeza que chamam de balde ou bacia, não sei ao certo. — Trouxe comida para você. — Empurra o balde até perto de mim, pego impulso com a mão e olho para dentro do buraco, peixe morto. Volto a posição de antes e faço careta.

Breeze - Uma sereia em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora