Capítulo 19: A Profecia

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Eu acordo um pouco antes do amanhecer. E percebo que ainda estou em cima de Alec que ainda dorme como um anjo e uma de suas mãos me circulam. Eu, com muito pesar, me desvencilho de seu corpo aconchegante. Eu vou para o banheiro e encaro meu próprio reflexo. Meus cabelos estavam levemente bagunçados, meus olhos continham uma tremenda angústia que meu sorriso disfarçava. Agora vendo meu próprio reflexo, sem desmascarar minhas emoções, eu percebo o quão estou desesperada. E o fato de eu não compartilhar isso com alguém está me sufocando. Mas, eu não posso fazer isso, não posso os preocupar. Eu tenho que ser forte! Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto.
O que mais me machuca é que não posso compartilhar isso com meu pai. Não posso o preocupar mais que o tenho preocupado.
Isso vai ficar guardado pra mim e somente a mim.
Eu tomo um banho rápido e me arrumo, decidida a falar com Quiron sobre o pedido de meu pai para falar com o oráculo.
Eu ponho uma calça de couro preta, uma bota de salto e coloco uma blusa qualquer. Eu pego minhas espadas e dou um beijo em Alec antes de sair, em silêncio, do meu chalé. Todos estão dormindo apenas os filhos de Apolo e algumas outras pessoas estão de pé.
Eu inspiro fundo e parto para casa branca.
Eu mal começo andar e dou de cara com Hilary.
"Oi Maya! Belo dia de sol, não?" Ela me cumprimenta com seu humor contagiante. E se dispõe a caminhar a meu lado.
"Sim, com certeza." Eu respondo pensativa, presa em meu próprio mundo.
"Aonde você vai?" Ela pergunta com sua voz doce.
Eu mereço! Ela não pode saber que eu vou ver o oráculo. Se ela saber, Angel sabe. E nem a melhor lábia do mundo é capaz de a impedir de ficar desconfiada. Ela me conhece melhor do que ninguém!
"Eu vou ver o Quiron." Digo descontraída.
"Quer que eu te acompanhe?" Ela pergunta prestativa.
"Não, não precisa. São só coisas de praxe." Eu digo com o nervosismo notório em minha voz. E para minha felicidade, ela não o percebe.
"Está bem! Eu vou treinar um pouco. Só uma coisa!" Ela diz e por um momento eu gelo.
"O quê?" Eu indago nervosa outra vez.
"Aonde o Alec está? Ele não dormiu no nosso chalé." Ela perguntou pra mim. E por um momento, eu suspiro de alívio.
"Ahh! Ele dormiu no meu chalé." Eu digo encabulada.
E para minha desgraça ela faz uma expressão de surpresa. Eu paro de caminhar.
Droga! Por que todo mundo acha que a gente faz isso? Que povo de mente poluída!
"Você e ele...?" Ela pergunta tímida.
"Não! Não, Hilary. Eu sou uma princesa, ora!" Eu me retrato rapidamente.
"Desculpe! Às vezes eu me esqueço disso." Ela diz rindo e não tem jeito de eu rir junto.
"Bom, eu vou indo. Até logo!" Eu digo caminhando, indo até a casa branca.
Assim que chego à porta, eu congelo. Eu inspiro fundo novamente, como se minha calma dependesse disso, e bato na porta. Após um minuto me abrem a porta e encontro Quiron surpreso com a minha aparição.
"Maya?" Ele diz surpreso.
"Oi Quiron." Eu digo um pouco atordoada.
"Venha entre!" Ele me convida e me guia até o seu escritório.
"Você quer falar sobre sua missão?" Ele pergunta.
"Não, Quiron. É algo mais grave. Uma oceânide trouxe um recado de meu pai." Eu falei séria. Ele adquiriu uma expressão de preocupação em sua fisionomia.
"E o que seria?" Ele indaga intrigado. Eu respiro fundo e tomo coragem.
"Meu pai quer que eu visite o oráculo." Eu digo por fim.
Quiron, fica sério e realmente percebe a gravidade do assunto. Ele se levanta e eu copio sua ação.
"Eu entendo. Suba as escadas o oráculo está no alçapão." Diz ele apontando o caminho.
"Não vai comigo?" Eu pergunto atordoada, tirando meu escudo de imponência, assumindo uma forma insegura e vulnerável. Aquilo que eu estava sentindo de fato.
Ele me olha sereno, me passando tranquilidade.
"Infelizmente, só você pode ir." Ele diz com pesar.
"Ok, eu entendo." Eu digo mais firme, encobrindo e trancando dentro de mim toda minha insegurança e medo.
Eu subo os quatro lances de escadas e no final da escada tem um alçapão como Quiron disse. Eu puxo a corda e a porta se abre, caindo uma escada de madeira no lugar. O ar de cima cheirava mofo, madeira podre e sabe-se lá mais o que.
Eu subo sem me importar com o cheiro fétido que o lugar emanava.
Eu dei de cara com sucata antiga de heróis. Nada com importância.
Junto à janela, sentado em uma banqueta de madeira com três pernas, estava o suvenir mais pavoroso de todos: uma múmia. Não do tipo enfaixada em panos, mas um corpo humano feminino, ressecado até ficar só a casca. Usava um vestido de verão estampado em batique, com uma porção de colares de contas e uma bandana por cima de longos cabelos pretos. A pele do rosto era fina e parecia couro por cima do crânio, e os olhos eram fendas brancas vítreas, como se os olhos de verdade tivessem sido substituídos por bolas de gude; devia estar morta fazia muito, muito tempo.
Olhar para ela me deu arrepios nas costas. E isso foi antes de ela se endireitar na banqueta e abrir a boca. Uma névoa verde jorrou da garganta da múmia, serpenteando pelo chão em anéis grossos, sibilando como vinte mil cobras. Tropecei em mim mesmo tentando chegar até o alçapão, mas ele se fechou com uma batida. Dentro da minha cabeça, ouvi uma voz, deslizando por um ouvido e se enroscando por meu cérebro:
"Eu sou o espírito de Delfos, porta-voz das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton. Aproxime-se, você que busca, e pergunte."
Eu quis dizer: Não, obrigada, porta errada, só estava procurando o banheiro.
Mas me forcei a respirar fundo.
A múmia não estava viva. Era algum tipo de receptáculo horripilante para uma outra coisa, o poder que girava em espiral à minha volta na névoa.
"Você tem alguma profecia para mim?" Eu pergunto sem hesitar.
"Com os filhos do relâmpago, do sol e da lança você irá. Na cidade de Atenas recuperará aquilo que roubado foi.

A Filha de PoseidonOnde histórias criam vida. Descubra agora