Prólogo

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Eu estava correndo, meus pulmões doíam e meus pés descalços estavam machucados, a cada passo pisava em folhas secas e pedaços de galhos. 

Fiquei presa no pequeno porão de uma casa de madeira no meio da floresta, impossibilitada de andar por muito tempo. Por anos tentei fugir, mas nunca cheguei muito longe, sendo pega antes mesmo de encontrar um meio de pedir socorro. 

Existem tantas arvores que a luz do sol quase não toca o chão, é um lugar úmido e faz com que meu cabelo grude na nuca. 

Não sei se ele já percebeu que eu sai, estou com medo, mas não vou voltar. Meu raptor caiu no sono após o almoço e esqueceu de trancar a porta do porão, passei silenciosamente por ele, abri a porta da frente e corri.

Primeiro fiquei na estrada de terra que segue desde a porta da cabana, até uma rodovia, mas decidi mudar de caminho, seria obvio demais, o primeiro lugar onde iriam me procurar, foi quando entrei na floresta.

Não sei a quanto tempo estou correndo, mas estou exausta, meus joelhos estão cortados devido aos vários tombos, meu vestido branco está sujo de terra, as palmas das minhas mãos estão sujas com uma mistura de sangue e lama.

Olho para traz e não vejo ninguém. Ouço um leve som de carros, espero estar perto de alguma rodovia. Está completamente escuro e não consigo enxergar quase nada na minha frente. A luz do luar está fraca dentro da floresta.

Continuo correndo, não sei exatamente para onde estou indo. Um feixe de luz aparece entre os galhos das arvores, uma onda de esperança faz com que eu corra mais rápido. O som de uma música toca, é bem fraquinho, mas vai ficando mais alto conforme eu vou me aproximando, ouço um par de vozes e o leve som de risadas, consigo ouvir mais vozes, não sei exatamente quantas são, mas as luzes estão ficando mais fortes. 

Desvio do enorme tronco de uma árvore e passo entre alguns arbustos, os galhos arranham as minhas pernas, as luzes atingem meus olhos, paro e espero eles acostumarem a claridade.

Várias pessoas andam em todas as direções e parece que elas não notaram que eu acabei de sair da floresta. Me liberto dos arbustos e ando até uma tenda com vários ursos de pelúcia.

Minhas pernas estão fracas, pessoas de todas as idades, tamanhos e cores passam por mim, algumas me olham com desprezo e outras com pena. Tento pedir ajuda, mas não consigo pronunciar palavra alguma, sinto uma mão tocar meu ombro e me viro lentamente tentando ver quem está atrás de mim.

- Querida, está tudo bem? - Uma senhora negra, com olhos pretos e cabelos grisalhos está me olhando, ela é baixinha e gordinha, por volta dos 50 anos, seu olhar transmite preocupação, respiro o mais fundo que consigo, seguro o seu braço e olho dentro dos seus olhos.

- Me ajuda, eu fui sequestrada e me mantiveram presa. Eu consegui fugir, mas eles vão me achar. Me ajuda, por favor.

Ela me olha surpresa, estou quase desmaiando, consigo sentir a escuridão se aproximando. Caio de joelhos no chão, ela tenta me segurar, mas seus braços frágeis não suportam o meu peso. Ela olha para os lados e então começa a gritar.

- Chamem polícia e os médicos - A senhora me envolve nos braços, sinto o seu cheiro, um perfume doce, semelhante ao de uma flor. Percebo que várias pessoas se juntaram ao meu redor, ela tira o cabelo do meu rosto e diz alguma coisa que não consigo entender. Então acontece, tudo fica escuro e pela primeira vez sinto a leve esperança de estar salva.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora