Caixas

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As folhas batiam no meu rosto conforme eu corria, minha respiração estava pesada e eu deixava rastros de sangue por onde corria, de repente vi uma luz e corri na sua direção, mantive os olhos fixos nela, passei por um arbusto, mas não tinha mais a festa, pessoas correndo por todos os lados, barracas de comida, só uma garota segurando um lampião na altura das pernas, tentei ver seu rosto, mas as luzes dele faziam sombras estranhas do seu rosto, então tudo ficou claro, o dia amanheceu, em um simples piscar de olhos, então eu a reconheci, aquela menina era eu, estava usando um vestido florido comprido bege.

- Anna tenha cuidado.

Ela falou tão baixinho que quase não consegui escutar.

- O que você quer?

Ela chegou perto, tão perto que sentia a sua respiração na minha bochecha e o seu hálito enquanto falava.

- Acorda Anna, acorda – Levantei assustada, Samuel segurava uma lanterna no meu rosto, fiz uma cara feia e ele tirou – Se arruma menina, temos muito trabalho.

Peguei uma calça jeans, camiseta e um All-Star, fui ao banheiro, lavei meu rosto e me troquei, voltei correndo para o quarto para deixar a minha roupa de dormir, estava escuro, nem perguntei que horas eram, minha lanterna iluminava o caminho, encontrei Samuel esperando pacientemente encostado na parede ao lado de fora do dormitório, joguei as minhas coisas na mala e voltei, andamos até um lugar onde havia dois caminhões estacionados.

- Vamos descarregar os dois e levar até aquele armazém.

Ele apontou um lugar do outro lado do pátio, um grande galpão prateado. Andou até um pequeno quartinho e tirou dele dois carrinhos de carga.

- Vamos começar.

Falei sorrindo.

- Eu prefiro fazer isso a noite, o sol é muito quente por aqui. Você vai levar os objetos mais leves – Ele começou a carregar o meu carrinho com caixas e mais caixas marrons, depois o dele que tinha muito mais caixas, o caminhão estava lotado e eu fiquei imaginando se o outro também estaria – Vamos só colocar dentro do galpão outro grupo que vai arrumar.

Fizemos o caminho até o lugar, a estrada era lisa, mas muito estreita, então ele andou a frente e eu logo atrás, tentando acompanhar os seus passos, quando chegamos colocamos tudo no chão e voltamos para o caminhão. Fizemos esse percurso cinco vezes antes de o sol nascer, o primeiro caminhão já estava quase acabando, então começamos a fazer o percurso mais rápido, estávamos voltando a nona viagem quando Samuel me entregou um coleto igual ao que Guilherme estava usando, ele era cinza com vários bolsos e estava escrito "Voluntário" nas costas.

- Esqueci de entregar isso mais cedo.

Coloquei e ele ficou um pouco grande, mas eu adorei.

- Obrigada.

Falei sorrindo, então voltamos a carregar os carrinhos, estava quente, mas havia arvores pelo caminho, elas faziam uma sombra gostosa, Samuel disse que essas sombras só ficavam durante a manhã, por causa da posição do sol, então na parte da tarde iriamos fazer outras coisas. Quando estávamos quase chegando no caminhão Guilherme chamou por Samuel, continuei andando e disse que iria esperar no estacionamento, ele só confirmou com a cabeça. Sai andando arrastando com dificuldade os dois carrinhos. Subi no caminhão e comecei a colocar algumas caixas mais leves na beirada, para depois colocar no carrinho, deixei cerca de doze caixas e fui descer, mas era alto, sentei no chão, mas minhas pernas não alcançavam, pernas curtas, então lembrei do que Pedro disse "Baixinha e cabeçuda", fiquei olhando para o chão, pensando em alguma forma de descer sem acabar machucada.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora