Salvação

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 Cai de joelhos ao seu lado e o abracei. Ele enterrou a sua cabeça em meu pescoço e começou a chorar desesperadamente. Fiquei fazendo carinho em sua cabeça até ele acalmar e afastar dos meus braços.

- Ele deu a vida dele pela minha Anna – Sentei no chão ao seu lado e esperei ele continuar – Nós estávamos indo em direção ao portão, para pegar algum carro e ir até a polícia. Estávamos passando pelos consultórios quando a bomba explodiu. Com o impacto a chão tremeu e fez a parede do consultório cair – As lágrimas voltam a cair e sua voz falha – Ela ia cair em cima de mim, mas o Gabriel me empurrou e ela caiu nele.

- Eu posso ajudar Guilherme, vamos até ele.

Tento puxar a sua mão, mas ele permanece sentado.

- Não podemos Anna. Ele foi esmagado pela parede, seu crânio...

Ele para de falar e eu tento afastar a imagem de Gabriel que se forma m minha mente.

- Sinto muito Guilherme.

Sento ao seu lado e passo as mãos por suas costas. Ele fica em silencio, tentando manter o pouco de controle que conseguiu juntar. Suzana aparece ao nosso lado e me lança um olhar de interrogação. Apenas sussurro o nome de Gabriel e balanço e cabeça negativamente, ela coloca as mãos na boca e sai andando rápido. Fico imaginando como contar sobre Luiza, mas tenho certeza que ainda não é a hora, vou esperar ele perguntar sobre ela.

Olho a minha volta e me pergunto o que deve ter acontecido. Quem iria querer destruir um lugar onde o único objetivo era ajudar as pessoas? Guilherme toca o meu rosto e me olha nos olhos, dou um sorriso tímido e seus olhos brilham.

- Preciso encontrar a Luiza, ela deve estar deses... – Não consigo escutar mais nada. Aquele mesmo arrepio na espinha aparece. Sinto todo o meu corpo arrepiar. Levanto do chão e olho em todas as direções. O que será dessa vez? Outra bomba? Homens armados?

Uma luz rasga o céu, ela surge de trás do galpão onde junto com Samuel guardei todas aquelas caixas que estavam no caminhão. Essa luz começa a descer em nossa direção. Algo dentro de mim diz ser outra bomba. Olho para Guilherme e ele está petrificado, olhando para o mesmo ponto em que todas as outras pessoas no pátio. Ela ira nos atingir, em segundos tocara o chão e todas essas pessoas estarão mortas. Guilherme, Suzana, Samuel... todos.

Fecho os olhos e tomo o poder que tenho dentro de mim. A bomba está a centímetros do chão, sinto tudo ao meu redor se mover devagar. A bomba vai cair no mesmo locar onde a primeira atingiu o chão. Me concentro nele, sinto as luzes coloridas saírem do meu corpo, em questões de segundos estou no local onde a bomba vai cair. Ela é pequena, tem o formato daqueles peixes que fazemos quando éramos crianças. A seguro entre meus braços e abraço, deixando ela apoiado em meu peito. Sei que meus poderes não poderão me salvar do que essa bomba vai fazer comigo, mas não deixaria todas essas pessoas morrerem quando posso as salvar.

Deixo a nuvem colorida a minha volta, elas irão segurar o impacto da bomba, ou é isso que eu imagino que fará. Fecho os olhos e penso no quanto amo ao Guilherme, o quanto quero que ele seja feliz. Então a bomba explode, não sinto a dor que esperei sentir, ouço um leve barulho e tudo fica colorido, sou tomada por minhas luzes. Consigo tocar elas que fazem cocegas em minha pele.

Me sinto ser puxada para cima, mas não consigo ter certeza, pois tudo a minha volta é colorido e sem forma. As luzes começam a penetrar a minha pele. Grito de dor, tento me debater, mas não consigo me mexer, a dor invade a minha alma e vejo tudo ficar preto antes de perder a consciência. 

********

- Anna – Uma voz feminina me chama, meu corpo está dolorido, tento abrir os olhos, mas minhas pálpebras estão pesadas – Anna querida, acorde. Acabou.

Abro o olhos e encontro a mulher que falava comigo, fico assustada quando percebo que é Kalestra quem está sentada ao meu lado.

- Kalestra? Onde estou?

Ela tem os cabelos cacheado solto ao redor do pescoço e um fio irreverente cai diante dos seus olhos, está vestindo um vestido azul turquesa comprido.

- Em um lugar seguro. Levante, você precisa ser forte.

Sento na cama e olho ao redor. Estou em uma casa de madeira estranha, pois é cheia de flores que nascem do chão e crescem até o teto, alguns raios de sol entram pelas frestas na parede, a cama em que estava deitada é simples, feita de ferro e com lençóis brancos. Não estou mais vestindo aquela roupa suja de sangue, mas um vestido branco longo e de renda, ele tem um corpete e os ombros caídos.

- O que aconteceu com o Guilherme? Estão todos bem no acampamento? Lizzie e Pedro? – Lembro do casal que me ajudou e sinto meu coração pesar quando penso na dor que eles irão sentir quando souberem que estou morta.

- Estão todos bem no acampamento. O Guilherme está muito abalado, mas iremos cuidar disso, como cuidamos do casal que te salvou.

- O que você fez com eles? – Levanto a voz e Kalestra apenas suspira, ela parece ser apenas 5 anos mais velha que eu, mas sua personalidade se mostra muito mais velha.

- Eles estão bem – Ela anda em direção a porta e eu a sigo, entramos em uma pequena cozinha, com as mesmas flores nas paredes – Lembra da fada que estava com eles – Confirmo com a cabeça – Conversamos com ela, a única forma de manter eles em segurança, foi te apagando da memória deles.

- O que? Como fizeram isso?

- Você tem muito o que aprender, minha querida. O importante é que eles não lembram de você e estão a salvo dos moradores das trevas.

Sento em uma das cadeiras e ela me entrega uma xicara de chá.

- Estou morta?

- Anna querida, a morte é relativa.

- Nunca mais verei eles?

Sinto uma lagrima escorrer pelo meu rosto, seco com a palma das mãos e encaro a xicara.

- Nunca é uma palavra muito forte. Talvez você devesse dizer que não ira os ver tão cedo.

Ela pisca para mim e sinto uma leve esperança subir em meu peito. Então uma pergunta meio obvia surge na minha mente.

- Que lugar é esse?

Ela não responde apenas levanta da cadeira e anda até a porta, fazendo um leve sinal com as mão para que eu a acompanhe. Ela abre a porta e saímos para uma pequena varanda, a luz do sol machuca meus olhos, pisco algumas vezes para os adaptar. Quando finalmente consigo enxergar o lugar, fico maravilhada diante da cena que se estende diante dos meus olhos.

- Você está em casa Anna.

- Você está em casa Anna

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