Confusão

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- O que aconteceu Anna? – Não olho para Luiza, fico somente mexendo no meu prato. Coloco um pouco de comida na boca e suspiro – Não vai me responder Aninha?

Não sei o que dizer para ela, não sei o que dizer para eu mesma. Eu nem conheço esse Guilherme e já estou com ciúmes dele... isso é um absurdo.

- Não aconteceu nada Luiza – Falo um pouco desanimada. Deixo meu prato vazio de lado e pego uma maça.

- Me chama de Lu, só minha mãe me chama de Luiza – Ela coloca o prato de lado e senta de frente para mim, me encarando – Por que você está triste?

- Eu não estou triste, só pensativa – Bato o dedo indicador na cabeça.

- E no que você está pensando? – Ela cruza as pernas e apoia o queixo nas mãos.

Resolvo abrir o jogo com ela.

- É normal eu sentir ciúmes de alguém que eu acabei de conhecer?

Desvio o olhar dela e fico brincando com a ponta da minha camisa. Começo a me sentir uma boba.

- Ai Anna eu te avisei – Ela se joga contra a parede sorrindo – Todas as garotas são apaixonadas pelo Guilherme.

Abraço as pernas e coloco o queixo sobre os joelhos.

- Eu não estou apaixonada – Quase saiu um 'Eu acho' no fim da frase, mas eu o contive.

- Eu entendo, ele é um cara legal, não é muito bonito, mas tem aquele olhar misterioso e de poucos amigos – Ela me dá um leve empurrãozinho – Eu entendo você, também não resisti um par de olhos semelhantes e toda essa história de ajudar os necessitados.

- Por que ele faz isso? Digo ajudar os necessitados? – Encosto na parede e espero ela pensar em uma resposta.

- É uma coisa da mãe deles, ela sempre fez questão de educar os filhos mostrando que existem outras pessoas no mundo, sem os mesmos privilégios que uma família rica pode oferecer. O pai deles é dono de uma das empresas mais importantes de engenharia no Brasil. Os dois seguiram o exemplo do pai quanto a profissão, mas o Guilherme pensou mais além, abriu um projeto que iria levar saúde e moradia digna para as pessoas de países pobres, então começou tudo isso – Ela faz um sinal indicando tudo ao nosso redor – O Gab entrou logo depois, ajudou em algumas coisas e resolveu cursar enfermagem, para ficar à frente nas questões da saúde, enquanto o Gui cuidava de todo o resto.

Não consigo parar de pensar em quanto trabalho ele teve construindo todo esse lugar.

- Deve ter sido difícil.

A porta abre e Gabriel entra olhando para todos os lados, um belo sorriso aparece no seu rosto quando seu olhar cruza com o de Luiza.

- Olá moças. O Gui me disse que você tinha acordado Anna. Vejo que está bem melhor.

Ele senta ao lado da namorada e lhe dá um beijo na bochecha.

- Estou muito bem. Pronta para o trabalho.

- Você nos deu um susto, com toda aquela luz.

Ele faz uma careta boba e inocente, Luiza não tira os olhos dele.

- Eu sinto muito, não sei como aquilo foi acontecer.

- Eu sei – Luiza fala balançando o corpo e batendo as mãos de leve. Um sorriso brincalhão aparece no seu rosto – Talvez você tenha perdido o controle dos seus poderes por estar perto do Gui.

Sinto o meu sangue ficar acumulado nas minhas bochechas, lanço um olhar repreensivo para Luiza que sorri.

- Meu irmão pode ser estressante as vezes, mas fazer a Anna perder o controle, eu acho que não.

Ele parece não ter entendido a indireta venenosa de Luiza. Mudo de assunto o mais rápido possível, a fim de segurar aquela mente maligna.

- Que horas será a festa?

Luiza para com a boca aberta, a interrompi antes que ela falasse algo.

- Começa as cinco. Eu tenho que voltar – Ele fala levantando e puxando a namorada – Fico feliz de você estar bem Anna. Amor preciso de você no consultório.

Ela lhe lança um olhar safado e ele pisca. Reviro os olhos, eles poderiam ser mais discretos...

- Anna, eu volto para te ajudar a se arrumar.

Ela me dá um beijo na testa e recolhe os pratos. Os dois saem quase correndo, me deixando sentada sozinha no chão.

Pego a minha bolsinha com pasta e escova de dente e vou até o banheiro. Fico escovando meus dentes e olhando meu cabelo, é incrível como ele mudou, ele era preto e liso, agora está castanho claro e ondulado, passo as mãos por ele e suspiro. Como isso foi acontecer?

Guardo todas as minhas coisas e dou uma última olhada no espelho. Definitivamente não sou mais bonita que Suzana e não teria chance contra ela.... Dou um tapa na minha cabeça quando percebo no tipo de coisa que estou pensando, daqui a pouco vou estar ameaçando os outros, como aquela menina...

Quando estou quase saindo do banheiro, encontro a garota gordinha e loira. Reviro os olhos e lembro em como o pensamento tem forças, mas não o suficiente para fazer alguém brotar do nada. Deixo ela passar primeiro na porta e ela me dá um empurrão quando passa, bati o ombro na parede e ele estrala. Gemi de dor e o massageei, me viro para a garota e ela está me fitando com os olhos e sorrindo.

- Achei que você tinha voltado para casa – Seus olhos estão sedentos por sangue.

- Não, só estava em outro lugar – Dei um sorriso e ela bufou.

- Sei de um lugar para onde você deveria ir – Ela se aproxima com um olhar ameaçador.

- Eu também sei de um onde você deveria ir – Penso bem no que vou falar, provavelmente vou arrumar uma inimiga para o resto da vida – Um lugar tipo o chiqueiro de onde você saiu.

Ela abre a boca e fecha umas duas vezes. Saio do banheiro, antes que ela raciocine o que eu acabara de dizer. Ando rapidamente até o deposito / quarto, antes de entrar, dou uma olhada em todas as direções para ver se ninguém estava me vendo. Só quando estava lá dentro, me permiti sorrir da cara de idiota daquela garota.

Sentei na cama e fiquei entediada olhando para a parede. Olhei para o vestido e resolvi experimentar ele, não vi quando Lizzie colocou ele na mala. Tirei a camisa e andei em direção a cadeira onde ele estava encima. Quando cheguei ao pé da cama, a porta se abriu e por um milésimo de segundo pensei ser a Lu. Na minha mente já tinha uma forma de repreender ela, por ter quase contado ao namorado o que sinto pelo irmão dele ou acho que sinto.

Fico petrificada ao perceber quem está na porta. Meu coração acelera e minha respiração falha.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora