Festa

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Guilherme fazia uma cara de tédio enquanto dançava com Suzana, senti pena dele. Devia ser difícil ter que tratar bem alguém que te machucou tanto. A música parou de tocar e ele saiu da pista de dança, ela ainda tentou o puxar, mas ele disse algo que a fez recuar.

- Está cuidando o Gui, Anna?

Luiza lança aquele olhar sarcástico, olho para Gab e ele apena sorri. Abaixo a cabeça e sinto e vergonha acumular nas minhas bochechas.

- Não se preocupe Anna, eu sei que você gosta do meu irmão – Ele sorri. Então ele sabe... Ótimo Anna, mais uma pessoa para tirar sarro da sua cara – Ao contrário da minha namorada, não vou ficar te incomodando em relação a isso.

Dou um sorriso tímido quando Lu revira os olhos.

- Eu não incomodo ela – Ele levanta uma sobrancelha e ela mostra a língua.

- Não deixe ela ficar fazendo isso, ela não tem limites.

- E ela está bem aqui – Luiza cruza os braços e olha irritada.

- Está parecendo um bebê chorão.

Paro de prestar atenção nos dois quando vejo Guilherme conversando com a menina gordinha, talvez eu devesse descobrir o nome dela, ao invés de ficar chamando desse jeito. Ela ri de algo que ele diz e passa a mão pelo se braço, reviro os olhos e levanto da cadeira.

- Onde você vai Anna? – Luiza está quase levantando para me acompanhar.

- Vou dar uma volta e deixar vocês sozinhos um pouco.

- Não vai muito longe.

Ela volta a se sentar e fica olhando enquanto me afasto. Estou tentando ignorar os sonhos que tem me atormentado, mas as lembranças do que aconteceu nele, todos aqueles homens mortos e aquela criança... Balancei a cabeça tentando afastar o pensamento. Me afastei um pouco da festa e fique olhando para as pessoas ao longe, algumas delas nas barracas de comida, correndo para entregar tudo o mais rápido possível, algumas outras fazendo passos estranhos na pista de dança. De onde estou consigo ver Gabriel e Luiza rindo e andando até um ponto mais afastado e solitário.

Percebi Guilherme andando em minha direção, estava de cabeça baixa e chutava algumas pedras no caminho.

Ele usava calça jeans, sapatenis e uma camisa social, sem todo aquele cabelo e a barba excessivamente grande, ficava um pouco mais bonito. Seu corpo magro e alto, com alguns pequenos músculos, não era muito atraente, seu maior charme eram os olhos profundos, sua boca vermelha e aquele sorriso teimoso que quase nunca saía.

Eu não estava com muita vontade de conversar, então decidi voltar para o quarto, queria um lugar calmo para tentar entender todos esses sonhos que tenho tido com Kalestra. Eles parecem tão reais, até o jeito como a respiração dela tocava meu rosto, ainda conseguia lembra da sensação.

Entrei no quarto e fechei a porta, antes que conseguisse sentar na cama, ouvi duas leves batidas. A abri e fiquei surpresa quando encontrei Guilherme encostado no batente da porta, estava olhando para o chão e levantou os olhos rapidamente quando abri a porta.

- Está tudo bem Anna? Vi que você saiu cedo.

Sua voz é calma, mas demonstra ansiedade.

- Sim, só queria pensar um pouco – Dou um sorriso e ele retribui com um leve sorriso tímido – E você, não quis mais dançar com a Suzana?

Ele me olha semicerrando os olhos. Que pergunta idiota, definitivamente, não sou boa nesse tipo de coisa.

- Ela me puxou. Não tive escolha – Ele levanta os ombros e suas bochechas ficam vermelhas.

Não teve escolha...? Era só dizer não.

- Entendo.

Ele olha para trás e passa as mãos pelo cabelo, coçando a nuca e depois me olhando.

- Podemos conversar?

- Fiz alguma coisa errada?

Ele parece estar nervoso, não me olha nos olhos e a maior parte do tempo encara o chão ou olha para os lados.

- Posso entrar? – Na minha cabeça uma voz implora para não deixar ele entrar, mas meu coração grita muito mais alto dizendo que isso é um caso de vida ou morte – Entre.

Afasto um pouco da porta e ele entra quase correndo. Fecho a porta e no exato momento em que ouço o clique da fechadura, o arrependimento bate. Por que eu fechei a porta?

- Aconteceu alguma coisa? Eu fiz algo de errado?

Ele continua a passar as mãos no cabelo, está um pouco nervoso e pensativo. Então ele se aproxima e fica uns dois passos de distância. Seus olhos estão focados no meu, sinto minhas pernas ficarem bambas e desvio o olhar.

- Quando o Samuel me disse que a filha de um amigo viria, fiquei muito irritado. Odeio os filhinhos de papai que só estão aqui, porque é uma espécie de punição, um castigo, ou seja lá como você quiser chamar. Então eu te conheci no aeroporto, você parecia tão perdida e ingênua, pensei que você não duraria dois dias nesse lugar.

Não consigo entender o que ele quer dizer, pode ser uma ofensa ou não, mas ele está tão nervoso e ansioso, que prefiro ficar em silêncio.

" Então, você mostrou que é uma garota no mínimo diferente e eu não digo isso por esse dom que você tem – Ele se aproxima e fica a poucos centímetros. Meu coração fica desesperado dentro do meu peito, ansioso por qualquer palavra que ele diga – É claro que tem alguma coisa errada Anna e começaram a ficar erradas quando você entrou na minha vida, mas esse é o erro mais bonito que poderia ter acontecido.

Ele toca o meu rosto e sinto a minha pele ficar quente onde ele toca. Conforme se aproxima fico mais nervosa e meu coração parece que vai explodir. Quando seus lábios tocam os meus, sinto uma explosão de alegria, me entrego completamente a ele e quando me dou conta, estamos deitados na minha cama e ele insiste em levantar a minha saia.

- Espera um pouco – Sento na cama afastando com delicadeza, ele me olha um pouco sem jeito – É que eu nunca...

Deixo a frase no ar e ele me olha meio descrente. Espero ansiosa ele raciocinar tudo.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora