Sai do quarto e comecei a procurar ao Guilherme, andei até o pátio central que fica em frente aos dormitórios, cozinha, área de lanche e alguns galpões. O lugar estava cheio, as pessoas passavam apressadas, todas voltando cansadas. Uma mulher anda cambaleando em minha direção, ela trompa em meu braço, murmura um pedido de desculpas meio embaralhado e volta a andar um pouco cambaleando e cruzando as pernas.
Voltei a andar e olhava em todas as direções procurando qualquer pista que mostrasse onde os dois poderiam estar. Senti um vento gelado tocar a minha espinha, um leve arrepio fez os pelos do meu braço e das pernas ficarem arrepiados, a sensação de que algo muito ruim estava prestes a acontecer passou pela minha mente, mas não tive muito tempo para pensar nisso. Algo caiu no chão e explodiu, iluminando o céu, um barulho me deixou surda por alguns segundos e logo depois um zunido alto e irritante preencheu meus dois ouvidos. Não sei em que momento fui jogada contra o chão, mas estava deitada na terra e uns dois metros de distancia de onde estava a alguns segundos, olhei para o céu e uma onda e poeira não me deixava enxergar. Levantei e senti uma dor horrível na perna, olhei a tempo de presencia meu osso que havia saído da perna e estava retornando ao seu lugar, gemi de dor, mas em poucos segundos a ferida não existia mais. Limpei uma grande quantidade de sangue que estava acumulada na minha perna e olhei para todas as direções.
A nevoa de poeira ainda estava alta, mas eu já conseguia ver o que havia acontecido. Alguma coisa tinha explodido no pátio, algumas arvores e pedaços de grama pegavam fogo. Ouvi vários gritos, eles vieram de todas as direções, pessoas choravam e passavam correndo por mim tentando ajudar. Por um leve momento fiquei paralisada. Forcei minhas pernas a andarem e elas responderam, andei vacilante em direção ao que parecia o choro de uma mulher.
Contornei algumas chamas e me deparei com uma cena aterrorizante. O pátio que algum minutos antes estava cheio de pessoas, indo e vindo, cansadas e felizes, agora estava repleto da mais terrível destruição. As arvores haviam sido derrubadas e um grande buraco abriu no chão, mas nem de longe isso se comparava ao terror que se apresentou diante de meus olhos, coloquei a mão na boca e cai de joelhos no chão. Os corpos sem vida de dezenas de pessoas estava estirado no chão. Olhei em todas as direções e pude ver membros amputados, sangue, pessoas chorando e algumas dando seus últimos sopros de vida e morrendo com a esperança de alguém viria os ajudar. Naquele momento percebi que mesmo se eu tivesse todo o poder do mundo não poderia salvar a todos.
- Anna, me ajuda – Uma voz fraca e quase inaudível tenta chamar a minha atenção, olhei para os lados e não vi ninguém. Tentei levantar, mas as minhas pernas vacilaram, acabei caindo com as mãos no chão e elas param acima de uma poça de sangue que se afinava até um rastro, o segui involuntariamente e me deparei com Luiza. Ela estava se arrastrando só com os braços, pois as pernas haviam sido arrancadas de seu corpo. Deixei o grito preso na garganta junto com milhares de lágrimas, não consigo entender como ela ainda está viva, muito menos pedindo ajuda.
- Luiza, estou indo – Engatinho até ela, tento parecer forte e confiante, mas minha voz vacila.
Ela está deitada com a barriga para baixo, seus olhos estão arregalados e demonstram toda a dor e medo que ela está sentindo. Seguro sua mão e ela não esboça nenhuma reação. Ela tenta falar algo, mas cospe uma grande quantidade de sangue.
- Desculpa amiga, não posso te salvar, eu sinto muito – Seu olhar suplica para que eu a ajude, mas não há nada que eu possa fazer, não saberia como ajudar a minha amiga, já curei membros amputas, mas fora metade de um braço ou dedos, nunca toda a parte de baixo de um tronco, o máximo que posso fazer é cicatrizar, nunca criar partes novas, seria como antecipar a sua morte. As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, seguro sua mão mais forte – Vai ficar tudo bem, tem um lugar lindo esperando você.
Após o que pareceu uma eternidade de sofrimento, seus olhos se fecham e ela parou de respirar, nesse instante, me entrego completamente ás lágrimas, grito e soco o chão. Não sei quanto tempo fiquei chorando, mas isso não importa, porque quando sequei as lágrimas e levantei do chão, nada havia mudado, a destruição, a morte e todo aquele sangue, tudo ainda estava do mesmo jeito.
Alguns grupos de pessoas chegavam e tentavam ajudar as que estavam feridas. Procurei alguém que estivesse organizando as equipes e de longe pude ver Suzana gritando ordens e apontando para diversas direções. Corri até ela que ficou aliviada quando me viu.
- Onde você estava? Guilherme está te procurando igual um louco.
- Estava perto daquilo que explodiu – Ela me olha de cima baixo e seus olhos param em cima de todo o sangue que cobria meu vestido – Como posso ajudar?
- Você está bem?
- Sim.
Ela me observa por alguns segundo, parece estar pensando no que devo ser útil.
- Você poderia procurar a Suzana.
Baixo a cabeça e respiro fundo.
- Eu estava com ela. Ela não... – Abro os braços e indico o sangue. Ela coloca a mão na boca e respira fundo, seus olhos enchem de lágrimas.
- Meu Deus Anna. Tem certeza disso?
Apenas confirmo com a cabeça. Ela senta no chão, coloca o rosto entre as mãos e começa a chorar. Passo as mão delicadamente pelas suas costas.
- Vou me juntar a algum grupo e ver no que posso ajudar.
Ela afirma com a cabeça, ando na direção de três pessoas que começavam a formar um grupo. Um deles gritava e apontava para um local perto dos dormitórios.
- Anna – Guilherme grita de longe e acena – Anna espera.
Meu desejo era de virar as costas e continuar andando, mas eu deveria contar sobre a Luiza para e ele, alguém devia contar ao Gabriel e esse alguém só poderia ser ele. Comecei a falar quando ele já estava em uma distancia onde poderia me escutar.
- Vou ajudar os feridos e não se preocupe não vou usar meus poderes.
Ao invés de parar, ele continuou andando, jogou seus braços ao redor no meu pescoço e começou a chorar desesperadamente. Ele me soltou e caiu sentado no chão, colocou a cabeça entre a mão e mexia agitado em todas as direções. Só então percebi que ele também estava completamente sujo de sangue.
- Ele morreu Anna. Meu irmãozinho morreu Anna...
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Anna
FantasyAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...