Sai do aeroporto e o sol quente bateu no meu rosto, imediatamente senti um cheio de lixo sendo queimado, tossi algumas vezes e coloquei a mão na boca, olhei para os lados procurando o ônibus e o encontrei a alguns metros de distância, era um ônibus velho, não tinha vidro nas janelas e muito menos pintura, subi com dificuldade por causa mochila, todos os lugres na frente já haviam sido ocupados, os banco eram divididos em pares, encontrei um lugar ao lado de uma moça gordinha e de cabelos loiros, ela fez cara feia quando fiz menção de colocar a minha mochila no banco.
- Anna – Olhei para o lado e Luiza estava me chamando, andei até seu banco, Gabriel estava sentado na janela com a mochila entre as pernas e Luiza no corredor – Aconteceu alguma coisa? Vi você conversando com o Guilherme.
- Está tudo bem.
- Sério? – Afirmo com um sinal de cabeça, ela e Gabriel se entreolham – Que bom, ele não costuma ser muito amigável. Que ótimo, a mulher maravilha sentou no seu lugar.
Olhei para trás e Suzana, a mulher loira que estava conversando com Guilherme estava se arrumando ao lado da menina gordinha.
- Tudo bem, vou sentar mais no fundo, acho que aquela menina não gostou muito de mim.
- O problema não é você, ela devia estar esperando que o Guilherme sentasse do lado dela.
- Por que ela iria querer isso?
- Todas as meninas estão apaixonadas pelo Guilherme.
- Essas meninas tem um gosto estranho.
Deixo os dois rindo e ando mais para o fundo do ônibus, onde os bancos estavam cheios de caixas em cima, acabei sentada no penúltimo e para o meu azar logo atrás de mim estava um monte malas empilhadas, fiquei torcendo para nenhuma cair na minha cabeça. Coloquei a mala entre as minhas pernas e fiquei olhando quando Samuel entrou e sentou no volante, Guilherme entrou logo depois e ficou conversando com Samuel. Olhei para fora e havia um grupo de crianças que brincavam ao lado do ônibus, eram cerca de dez crianças e elas riam e corriam umas atrás das outras, então o ônibus ligou com um ronco enorme fazendo elas gritarem e darem um pulo, por cerca de dois segundos elas encarram o ônibus com os olhos arregalados, então começaram a rir e empurrar umas às outras, ri junto com elas e acenei, todas acenaram para mim e correram até a minha janela, o ônibus saiu e elas correram atrás , fiquei olhando o quanto elas sorriam enquanto corriam, algumas foram ficando para trás, continuei acenando quando todas param. Olhei para o lado e fiquei surpresa ao perceber que Guilherme estava sentado, me encarando, com uma cara furiosa.
- Algum problema?
Ele não respondeu, apenas desviou o olhar, respirei fundo. Como alguém pode estar apaixonada por esse homem? O ônibus chacoalhava, me jogando contra a lateral e me fazendo bater na parede, quando passamos por um buraco o ônibus foi jogado para cima e uma mala caiu na minha cabeça e foi parar no meu colo, gemi de dor quando ela bateu, minha nuca ficou latejando, passei a mão tentando aliviar a dor. Guilherme pegou a mala do meu colo e jogou para banco de trás novamente.
- Eu sinto muito, você está bem?
- Sim, obrigada.
Percorremos o resto do caminho em silencio, já era a noite quando chegamos em um acampamento, havia várias casas com paredes de madeira ou de latão. Saímos do ônibus e entramos em um quarto onde vários beliches foram dispostos em três fileiras cada fileira com dez beliches. Samuel me chamou e me levou até o lado de fora, a mochila nos meus ombros exercia um peso enorme, mas não reclamei, não queria parecer chorona.
- Menina, amanhã vou te acordar bem cedo, você vai me ajudar a descarregar o caminhão, provavelmente vai acordar antes de todo mundo.
- Tudo bem.
- Pegue essa lanterna, vamos acordar antes de o sol nascer, o Pedro me mandou entregar isso para você. Durma bem.
Ele me entregou uma mala, eu voltei a entrar no quarto, quase todas as camas estavam ocupadas, andei até o último beliche, haviam outros vazios, mas não queria falar com ninguém. Joguei a minha mochila e a segunda mala na cama, abri ela e tinha alguns sapatos, todos com etiqueta e uma coberta.
- Lizzie – Falei sorrindo.
- Oi Anna, vamos ao banheiro, daqui a pouco vão desligar tudo.
Luiza me esperou enquanto eu pegava uma roupa para dormir, andamos apressadas até o banheiro, havia um feminino e outro masculino, entramos e tinha uma longa fileira de casinhas com vasos sanitário e chuveiros, e as pias. Tomei um banho e coloquei uma calça legue e uma camisa, escovei os dentes e Luiza ainda estava no banho, quando saiu seu cabelo estava completamente molhado e pingava na camisa.
- Eu precisava desse banho.
Ela escovou o cabelo e os dentes, então saímos, quando estávamos na metade no caminho, as luzes se apagaram e ficamos no escuro, um completo breu, Luiza agarrou meu braço.
- Anna, como vamos voltar?
Lembrei da lanterna que Samuel deu, mas ela tinha ficado no quarto. Droga Anna, como você não pensou nisso?
- Luiza, eu vou fazer uma coisa, mas você tem que me jurar, que nunca vai contar a ninguém ou coisas horríveis podem acontecer
- Que isso Anna, se for assim é melhor nem fazer.
- Você prefere ficar aqui a noite inteira a guardar um segredo? É melhor mesmo a gente ficar aqui.
Ela pensou por alguns segundos.
- Tudo bem Anna, eu guardo seu segredo.
- Você Jura?
- Juro
Levantei a mão direita, aprendi a fazer isso quando fiquei presa no escuro do porão, o problema é que eu fico com uma enorme dor de cabeça depois, fiquei concentrada na palma da minha mão, então pequenas luzes coloridas começaram a aparecer, Luiza tentou se afastar, mas eu a segurei, logo tudo a nossa volta estava iluminado, andamos em silencio até a porta do quarto, as luzes roxas, vermelhas, azuis, laranjas, brancas e de todas as cores faziam sombras estranhas por onde passávamos, quando Luiza ia abrir a porta segurei seu braço.
- Você não pode contar nem ao seu namorado.
- Eu não vou Anna, mas você tem que me explicar isso direito.
- Você só precisa saber que isso é muito perigoso.
- Isso é radiação?
- Não, mas pode matar também.
Ela não disse mais nada, apenas entrou e se deitou. Andei até o meu beliche, minha cabeça estava começando a doer, uma pequena lâmpada iluminava o lugar, havia um homem deitado de costas no beliche de cima, não prestei atenção nele, arrumei a minha mala, deixei elas no chão ao lado da minha cama, o homem de cima se virou e não era ninguém menos que Guilherme, a luz fraca deixava seu rosto ainda mais diabólico.
Era só o que faltava.
Deitei na cama e encarei o colchão de cima.
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Anna
FantasíaAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...