Estava distraída olhando pela janela e não percebi um jovem casal sentando do meu lado, eles conversavam animados sobre as luzes que haviam visto em uma festa, olhei para os dois, a moça estava sentada do meu lado, uma menina negra, um pouco mais nova que Lizzie, seu cabelo é todo cacheado e volumoso, é bem mais alta que eu, estava vestindo uma legue preta, uma camisa regata azul escura e sapatilhas, o rapaz com a idade aproximada da menina, é totalmente diferente, branco, cabelo ruivo, olhos verdes, muito mais alto que a moça, está vestindo uma calça jeans, camisa social e sapatenis. A aeromoça trouxe sanduiches e suco, saboreei cada pedaço e gole de suco.
- Como se chama?
A menina do meu lado pergunta com os olhos fixos no meu, estava distraída olhando as nuvens pela janela e saboreando meu sanduiche, acabei nem percebendo que o avião estava em completo silencio, algumas partes estava escuras, provavelmente as pessoas estavam dormindo.
- Me chamo Anna e vocês?
- Sou a Luiza e esse homem lindo é o meu namorado Gabriel – Aceno para ele, que sorri diante da apresentação e fica com as bochechas vermelhas – Ele é um pouco tímido, não liga para ele. Quantos anos você tem?
- Vinte e vocês?
- Vinte e Sete, o Gabriel tem trinta, vamos trabalhar na área da saúde, somos enfermeiros, nos conhecemos na faculdade. O que você vai fazer?
- Eu não sei muito bem, é a minha primeira vez.
- Não tem problema, sempre precisamos de alguém para ajudar. Lembra daquela vez que faltou tanta gente que só dormíamos quatro horas? – Ela se vira para o namorado e os dois voltam a conversar. Começo a ficar com sono, então encosto na poltrona e fecho os olhos, tento ficar em uma posição confortável, mas acabo desistindo.
- Você pode inclinar a poltrona Anna.
- Como? – Luiza aperta um botão e a poltrona fica um pouco mais inclinada, está perfeita para dormir – Obrigada.
- Não agradeça ainda – Ela anda até uma aeromoça, fala alguma coisa para ela que sorri e se retira, ao contrário de Luiza que fica parada, balanço as pernas e cruza braços cruzados.
- O que ela foi fazer?
- Não sei, minha namorada é doidinha.
Ele sorri e eu também, ele é bonito, assim como a namorada, os dois formam um belo casal, duas belezas extremamente diferentes juntas. Luiza se aproxima com dois cobertores nos braços.
- Peguei um para você Anna, daqui a pouco vai começar a ficar frio.
- Obrigada, na verdade eu já estava com frio – Meus braços estavam gelados e meu corpo arrepiado, peguei a coberta e fiquei enrolada nela, Gabriel e Luiza dividiram o outro, dormi e sonhei com fadas, cachorros e um monstro vermelho que saia do pântano.
Senti alguma coisa mexendo no meu nariz, cocei com as costas mão, mas voltou a incomodar, estava com preguiça de abrir os olhos, eles estavam pesados, passei a mão novamente no nariz, mas não adiantou, abri os olhos e a Luiza estava me encarando com um pedaço de tecido nas mãos.
- Acorda dorminhoca, vamos pousar em trinta minutos.
- Tinha alguma coisa me incomodando.
- Era eu bobinha, estava passando isso – Ela mostra o tecido, um pano preto, da grossura e comprimento de um dedo - no seu nariz.
Sento na poltrona e ela me ajuda a colocar no lugar novamente, coloco o cinto e fico olhando pela janela, o avião está descendo, consigo enxergar o chão, meu coração acelerar, a pista de pouso aparece e descemos.
- Bem-vinda a África linda.
Gabriel está segurando a mão da namorada e os dois sorriem. Já ouvi falar desse lugar, mas não sei exatamente onde fica, a viajem foi demorada, acordei e dormi várias vezes, li algumas revistas, conversei com o casal do meu lado e parecia que o tempo nunca passava, agora que estávamos descendo do avião e o sol quente fazia o suor descer pelas minhas costas, senti que o tempo parecia estar parando.
Samuel me ajudou a pegar a minha mala, ela foi uma das primeiras a sair pela esteira, ele me deu um crachá com a minha foto e meu nome.
- Fica bem aqui com esse grupo – Várias outras pessoas estavam reunidas em um canto do aero porto, estavam usando o mesmo crachá, coloquei a mochila nas costas e ela estava pesada, logo a coloquei no chão novamente, meus ombros ficaram ardendo, Samuel voltou com um homem alto e branquelo, uma barba enorme e um cabelo amarrado no topo, seus olhos são azuis, ele está vestindo uma calça jeans, camisa preta e um colete por cima e uma bota bull terrier ranger, ele é muito mais alto que Gabriel, mas parece ser mais novo, ele não é bonito, mas parece ser uma boa pessoa. Ele passa sorrindo e para na frente do grupo.
- Olá meu nome é Guilherme e é um prazer ter vocês aqui novamente ou pela primeira vez, temos um ônibus esperando do lado de fora, então se apressem e não se separem do grupo.
Todos andam animados, coloco a mochila nas costas e tento acompanhar ao grupo, passo por Samuel e Guilherme que estão parados conversando com uma moça alta e loira, ela está vestindo uma calça preta, blusa cinza e o mesmo colete e botas do Guilherme, olho para o chão e ando mais rápido, mas sinto alguém puxando a minha mochila quase me fazendo cair.
- Anna, estou chamando você, não me ouviu?
Samuel está com as bochechas vermelhas.
- Desculpa, eu estava concentrada no peso da minha mochila.
- Tudo bem, vem comigo – Ele me leva até Guilherme e a outra moça – Guilherme, essa é Anna de quem lhe falei.
- Oi.
Estendo a mão sorrindo, esperava o mesmo sorriso simpático e a fala calorosa de minutos atrás, mas ele simplesmente ignorou a minha mão e me olhou sério.
- Oi, não sei exatamente o que você veio fazer aqui, estávamos com as vagas todas cheias.
- Vim ajudar.
- Não sei como, eu li a sua ficha, você não tem sequer ensino fundamental, sabe ler ou escrever?
Me senti pequena, minhas bochechas começaram a ficar vermelhas.
- Sim.
- Não sei se você será útil em algum lugar. Provavelmente só será um peso morto.
- Guilherme não fale assim com a moça.
- Você sabe o que eu penso de apadrinhados Suzana.
A moça loira lança um olhar raivoso para o homem na minha frente.
- Não se preocupe, não serei um peso morto, posso muito bem executar qualquer trabalho.
- Ela será a minha responsabilidade – Samuel segura o meu braço.
- Então se vira com ela, não serei responsável pelo que acontecer.
- Me espera no ônibus querida.
- Sim – Dou um sorriso para Samuel e para a moça, me viro para o rapaz e olho dentro dos seus olhos – Se precisar de ajuda, vou estar como Samuel.
- Não irei precisar.
- Eu espero que não mesmo.
Me viro e ando o mais firme possível, mas o peso da mochila deixa as minhas costas doloridas, por mais que eu lute contra, dentro de mim tem uma voz torcendo para que ele precise da minha ajuda, mas não de qualquer ajuda.
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Anna
FantasyAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...