- O que você disse? – Levanto e olho para Maria, ela recua e sinto seu corpo tremer de medo.
- Eu conheço sua história.
- Como você pode conhecer a minha história se nem mesmo eu conheço?
Pedro senta no chão e Lizzie o abraça, começa a chorar e sorrir ao mesmo tempo.
- O que aconteceu amor? Eu pensei ter levado um tiro.
As duas mulheres olham para mim, levanto os ombros.
- E isso aconteceu, mas eu te curei – Elas me olham com olhos arregalados, Pedro sorri e fica em pé.
- Tudo bem, isso foi alguma espécie de piada que deu errado?
- É melhor ele descansar – Olho para ele que tem uma expressão confusa no rosto.
- O que está acontecendo?
- A Anna estava falando a verdade querido, não é piada, se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, não acreditaria também.
- Então prove.
Ele me olha, não entendo como poderia provar para ele, a não ser que alguém se machucasse. Como se estivesse lendo a minha mente, Maria se afasta, pega um pedaço de vidro do chão e faz um corte no braço, do pulso até o cotovelo.
- Eu não preciso provar nada, Maria eu não vou fazer isso.
Ela senta poltrona, está perdendo muito sangue.
- Vai ter que me curar se quiser saber a sua história.
Ela está me chantageando.... Ando até ela e seguro seu braço com força, o sangue escorre entre meus dedos, ela geme, não preciso fazer muito para ela ficar curada, a ferida não é grave, em poucos segundos está completamente cicatrizada, um leve sinal marrom aparece no locar onde estava o corte. Pedro e Lizzie estão olhando o que acontece por cima do meu ombro, sito a respiração dos dois na minha nuca.
- Isso foi incrivelmente estranho – Ele sai da sala com as mãos na cabeça e Lizzie o segue.
- Agora trate de me contar o que sabe sobre mim.
- Está tudo bem?
Um jovem carregando algumas caixas na mão está parado na porta, ele é moreno, com olhos pretos, um cabelo castanho e comprido, deve ter a minha idade aproximadamente, está vestindo uma roupa vermelha, fica ali parado, olhando a porta escancarada.
- Quem é você?
- Sou o entregador de pizza – Olho para Maria, mas ela está mexendo no lugar onde estava o corte, está fascinada com a pequena linha em seu braço – Lizzie, tem um garoto estranho aqui na porta.
Ela volta correndo com Pedro a sua frente, os dois respiram aliviados ao ver o rapaz.
- Anna, isso não é jeito de falar com as pessoas – Ela lança um olhar repreensivo – Oi José, desculpe por isso.
- Tudo bem, já estou acostumado.
Ela anda até a bolsa, pega alguns papéis e entrega a ele, pegando as caixas logo em seguida, o garoto sai, não sem antes de me lançar um olhar irritado.
- Vamos comer?
- Preciso arrumar essa porta antes – Pedro tenta fechar a porta, mas ela está com a maçaneta quebrada, foi arrancada da porta e ainda está no batente – Amor, pega alguma daquelas fitas cinzas para mim, por favor – Lizzie coloca as caixas encima da mesa e sai da sala, um cheiro agradável vem delas, poucos segundos depois ela volta com um rolo cinza nas mãos – Obrigado.
Ele deixa a porta encostada e passa a fita nela, não fica exatamente perfeito, mas ele nos olha com uma cara orgulhosa e ninguém se atreve a dizer que está horrível com um monte de fita passando por todas as partes.
- Vamos comer – Maria já está sentada na mesa e abrindo as caixas, nos chamando.
- Você precisa me contar o que sabe.
- Eu consigo fala e comer.
Sento ao lado de Maria, não acredito que aquela velha doce e generosa que estava comigo no hospital ficou tão insuportável. Pego um pedaço daquela massa fina e gordurosa, mordo e mais parece uma mistura de todas as comidas em um único pedaço, é gostoso, mas não consegui me concentrar na comida, estava olhando fixamente para a Maria.
- Você pode começar.
- Tudo bem – Ela limpa a boca e o casal que estava do outro lado da mesa se curva para frente tentando escutar – Minha mãe me contava a história de uma fada que vivia na floresta, ela era capaz de curar qualquer ferida ou até mesmo trazer alguém dos mortos. Ela também dizia que essa fada pegava as crianças malvadas e as sacrificavam pelas vidas de quem salvava, mas isso era mentira.
- Você está inventando isso, me conta a verdade.
- É verdade.
- Então a Anna é uma fada? Você também está achando isso um absurdo Liz?
- Totalmente.
- Conta a verdade Maria.
- Estou falando a verdade. Deixe me contar a história inteira.
"A muitos séculos quando nosso país estava em guerra, estávamos perdendo feio, então uma bruxa chamada Calima, foi capturada e forçada a criar uma forma de nossos soldados pararem de morrer, ela recusou a fazer isso, pois iria alterar o curso da vida. Os soldados não aceitaram sua resposta, então eles a torturaram por dias, até ela fazer um feitiço. Pegou o sangue de uma fada da cura, a última de sua linhagem, junto ao sangue colocou um feitiço, deixando uma brecha, onde todas as vezes que alguém fosse curado, outra pessoa morreria, não um inocente, mas alguém com a alma tão podre quanto a daqueles homens. Pediu para que os soldados trouxessem uma mulher, alguém para tomar a poção, deveria ser uma jovem virgem, eles roubaram a filha de um aldeão, chamada Kalestra, de vinte anos, a levaram até bruxa e fizeram a menina tomar o sangue enfeitiçado, ela quase morreu, mas o feitiço a curou, a bruxa entregou uma pedra rosa com um dragão de prata, quem obtivesse a pedra poderiam controlar a pobre moça, poderia ferir, mas não matar e os poderes da Kalestra não alcaçaria a pessoa que o usar. Então eles a largaram no meio do campo de guerra, para ela curar os homens feridos e ela o fez, mas todas as vezes que um deles era curado, outro morria da mesma forma que o primeiro.
Eles correram até a bruxa e ela disse que era a consequência do feitiço, eles bateram nela e a quase a mataram, ela então disse que havia outra forma, todas as vezes que a moça matasse alguém a vida dessa pessoa iria para outra, alguém de coração bom. Então no meio da noite, eles a colocaram no lugar onde as tropas inimigas estavam e ela matou a todos antes mesmo de o sol nascer, matou mais de dois mil homens, eles ganharam a guerra e depois tentaram matar Kalestra, mas o feitiço não deixava isso acontecer, quando procuraram a Calima, ela estava morta, havia se suicidado, pegaram a moça e jogaram no porão de uma casa no meio de uma floresta e a mantiveram lá, com guardas em todas as portas, mas teve um homem que usava a pedra rosa no pescoço e cuidava particularmente dela, ele a violentou e machucou, até ela engravidar e quando teve a sua filha seus poderes passaram para a criança e eles conseguiram matar Kalestra, mas o problema só aumentou, pois agora eles teriam que cuidar de uma criança, chamaram uma bruxa para cuidar dela, mas a mulher se apegou e ajudou a fugir, roubando também o colar, por anos ela ficou escondida na floresta, a menina cresceu e casou com um homem, estavam felizes e tiveram uma menina, por quatro anos eles foram felizes, até os homens que prendiam Kalestra a acharem e pegarem a criança."
- Como você pode saber disso tudo?
- Porque a minha mãe era bruxa que ajudou a sua a fugir.
- Isso é impossível.
- Sua mãe tinha quarenta anos quando se casou e ainda tinha uma aparência de vinte anos, a idade de Kalestra, vocês podem não acreditar em mim, mas eles não vão desistir de procurar por você Anna e Lizzie é melhor aceitar a proposta de enviar essa moça para outro país como ela pediu ou você, seu marido e até esse filho que está na sua barriga, vão acabar mortos, como todas as pessoas que ficam próximos as descendentes de Kalestra.
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Anna
FantasyAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...