Lizzie retornou ao quarto pouco tempo depois, com algumas roupas nos braços, deixou tudo em cima da poltrona em que Maria estava sentada algum tempo antes, junto deixou uma pequena bolsa preta com flores desenhadas.
- Acho que essas roupas vão servir muito bem em você, também trouxe alguns produtos de higiene para você tomar um banho.
- Obrigada, mas onde eu posso fazer isso? – Olho para os lados procurando um balde com água ou qualquer coisa do gênero.
- No banheiro.
- Desculpa, eu tomava banho no porão em um balde com água, as únicas vezes que ia ao banheiro, era quando ia sair.
- Tudo bem, vou pegar uma toalha e quando voltar você pode tomar seu banho – Ela anda até uma pequena porta no canto esquerdo do quarto, até esse momento ela não havia chamado a minha atenção – Ou você já pode ir tomando seu banho e quando trouxer a toalha deixo pendurada nesse cabide – Ela aponta um objeto em formato de triangulo que está pregado a parede.
- Acho que vou tomando o banho enquanto você vai buscar.
Ela sorri, pego as minhas roupas e vou até o chuveiro, a agua está quente, o sabonete é cheiroso e deixa a minha pele macia, em pouco tempo escuto a porta do banheiro abrir e Lizzie me avisa que a toalha está no lugar. Termino o banho e visto as roupas que ela deixou para mim, coloco uma calça preta, uma camisa branca e saio do banheiro usando um par de pantufas que ela deixou na porta, está chovendo do lado de fora, o céu está escuro e a agua bate violentamente na janela do quarto.
- Vamos pentear o cabelo? – Lizzie está na porta no quarto com uma escova e um espelho nas mãos, dou um pequeno pulo assustada – Desculpa, senta na cama vou pentear seu cabelo.
Sento e seguro o espelho enquanto ela mexe no meu cabelo, levanto ele na altura dos olhos e fico olhando meu reflexo, não sou exatamente uma mulher bonita como Lizzie, tenho o cabelo preto, olhos castanho, uma boca pequena e fina cuja cor é um pouco pálida, meus olhos são castanhos e minha pele é tão branca que consigo ver as linhas verdes no meu braço, meu cabelo é tão longo que vai até a minha cintura, ele é muito liso.
- Podemos cortar seu cabelo, sabe ele tem um corte reto, podemos mudar isso – Lizzie faz o sinal de uma tesoura com os dedos.
- Ele não vai ficar muito curto, não é mesmo?
- Não, vou ligar para a Maria e pedir para ela trazer a tesoura dela de cortar cabelo.
- Obrigada.
Lizzie sai apressada do quarto, fico passando as mãos pelo cabelo, um vulto entra na porta e penso ser ela, mas quando levanto a cabeça, vejo que é doutor Ricardo, ele está parado na porta com alguns papéis nas mãos.
- A senhorita é realmente um milagre – Sento na beirada da cama e olho para ele – Os resultados dos seus exames estão prontos e eles me mostram que você é uma mulher extremamente saudável, muito diferente da que entrou nesse hospital.
- Estou sendo bem cuidada – Sorrio para ele, que fica sério.
- Tenho certeza, mas isso não seria suficiente para melhorar tão rápido.
- Doutor, algum problema?
Lizzie está na porta logo atrás do médico, seu rosto está sério.
- Não, só estava dizendo que os exames mostraram que a senhorita está muito bem e que ela poderá receber alta assim que falar com o detetive.
- Isso é maravilhoso.
- Peça para trazerem alguma coisa para ela comer.
- Claro.
Ricardo sai do quarto e sinto um leve arrepio na nuca, sua áurea e marrom, significa que ele é alguém ambicioso, alguém em quem não se pode confiar.
- Maria vira daqui a pouco, ficou feliz com a ideia de mudar o seu cabelo.
- Eu também.
- Falei com o meu marido e ele está separando várias roupas minhas, para que você possa usar, como ele não entende muito dessas coisas, pedi que a nossa empregada o ajudasse.
- Você vai acabar ficando sem roupas.
- Eu uso branco na maior parte do tempo e tenho tantas roupas que muitas delas ainda não usei.
- Posso te fazer algumas perguntas?
- Sim – Ela senta na poltrona ao lado da cama e espera sorrindo que eu comece.
- Onde estamos? Digo em que cidade estamos?
Ela fica pensativa por algum tempo, olha pela janela, a chuva está cada vez mais forte.
- Estamos em Campo Grande, cidade vizinha a que você nasceu, não vizinha tipo do lado, mas estão no mesmo estado.
- Em que ano estamos?
- 2016.
- Fiquei muito tempo naquele porão.
- Eu sinto muito, mas o importante é que você nunca mais irá voltar para aquele lugar.
- Existe algum exame que as mulheres podem fazer para descobrir se estão grávidas?
Ela me olha séria e com os olhos semicerrados.
- Sim, por quê?
- Você deveria fazer.
Ela sorri.
- Você é muito persistente.
- Só quando sei que estou certa.
Uma batida na porta me faz pular, Lizzie levanta tão rápido da poltrona que quase cai.
- Detetive, você me assustou. Me deu até náuseas.
- Isso não é por causa do susto – Falo sorrindo, ela abre a boca para falar alguma coisa, mas o homem na porta nos interrompe.
- Desculpa Liz.
- Anna esse é detetive João – O homem anda em minha direção, ele é loiro e muito jovem, tem olhos azuis e uma pele morena, ele tão alto e magro que parece ter somente couro e osso – O que faz aqui tão cedo? Achei que viria só amanhã.
- O doutor me ligou, disse que havia a possibilidade da Anna ser liberada hoje e que isso só dependia de mim, então resolvi vir hoje mesmo.
- Isso é muito bom.
- Olá Anna, estou aqui para ajudar você, mas eu preciso que você me conte exatamente tudo o que se lembrar.
A voz dele é calma, sua áurea é amarela como a de Lizzie. Gostaria de poder contar tudo, mas sei que devo ocultar algumas coisas, especialmente sobre os meus poderes, eles poderiam me chamar de louca ou poderiam me usar, como as outras pessoas que me capturaram.
- Vou contar.
- Muito bem – Ele pega uma cadeira que estava no canto da parede próxima a porta e senta do meu lado, Lizzie volta a sentar da poltrona, ele pega uma pasta, abre e começa a fazer algumas anotações, tira um pequeno aparelho do bolso e coloca na mesa que fica ao lado da minha cama – Tudo o que você disser será gravado – Ele aperta um botão do aparelho – Pode começar.
- Tudo começou a alguns anos...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anna
FantasyAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...