Lizzie voltou alguns minutos depois com uma bandeja nas mãos contendo algumas agulhas, algodões e outras coisas que não consegui distinguir.
- Vai doer apenas um pouquinho.
- Tudo bem – Só então percebi o círculo dourado em seu dedo, na mão esquerda – Você é casada?
Ela me olha sorrindo, mas as mãos continuam firmes na agulha e no frasco onde meu sangue está sendo armazenado.
- Sim, faz um ano.
Ela fala sorrindo, gosto disso, qualquer assunto, faz com que ela abra um sorriso enorme antes de responder.
- Que bom. Te desejo muitas felicidades.
- Obrigada – O frasco está cheio de sangue, então ela pega outro e conecta na agulha. Devo ter feito alguma cara feia, pois ela me olha e toca meu ombro – Esse é o último.
- Tudo bem.
Maria que estava a todo momento sentada em silencio na poltrona ao lado da minha cama, levanta e segura a minha mão enquanto fala com uma voz meio sonolenta.
- Você tem família ou se lembra de alguém?
- Lembro que tenho uma mãe, mas ela está morta.
As duas mulheres me olham e percebo o quanto rude pude parecer.
- Como você tem tanta certeza?
- Porque eles a mataram na minha frente – As duas mulheres se entreolham e eu abaixo a cabeça.
A lembrança da minha mãe é uma das coisas mais amargas que assombram a minha mente, fugimos por dias dentro da floresta, tentando escapar dos homens que queriam me pegar.
Algum tempo depois de ela entregar o pequeno pedaço de papel com as minhas informações, eles nos acharam. Corremos o mais rápido que pudemos, mas eles nos deixaram sem saída. Fui arrancada de seus braços, ela ajoelhada, chorava querendo dar um último abraço em mim. Eu me debatia nos braços do homem cujo rosto eu veria todos os dias e que muito mal ainda iria me causar. Só parei quando um outro homem, um pouco mais jovem, usou uma faca para colocar no coração da minha mãe.
Não lembro o nome dela e seu rosto já mudou de características diversas vezes. Sempre que lia um livro, usava a descrição das personagens para definir as da minha mãe.
- Eu sinto muito.
- Faz tempo – Minhas palavras são quase inaudíveis. Sinto as lágrimas presas na minha garganta, respiro fundo, definitivamente não vou chorar agora.
- Você pode ficar comigo se quiser – Maria me olha curiosa – Só até você se estabelecer e conseguir um emprego. Meus filhos já estão todos casados, meu marido e eu estamos sozinhos a muito tempo.
- Obrigada. Fico muito feliz com a sua proposta, mas eu não quero ficar nessa cidade. Tenho que ficar o mais longe possível do lugar de onde estava, eles ainda podem me achar e eu não quero voltar a ficar naquele porão.
- Anna, estamos com vários homens presos na delegacia, todos suspeitos, se você reconhecer o seu sequestrador, ele passara o resto da vida na cadeia.
- Vocês poderiam prender dez, vinte, trinta homens, mas nunca chegariam perto de prender o número real de pessoas que me fizeram mal. Eu preciso sair desse pais, eles são muito perigosos.
Olho para Lizzie e percebo que meus poderes estão começando a voltar em seu estado normal, provavelmente o cansaço os deixou fracos. Consigo ver a luz que fica envolta de sua cabeça, meus sequestradores disseram que se chama Áurea e que pode dizer muito a respeito da pessoa. Pela sua cor consigo definir a personalidade delas, a de Maria está cinza, significa que está muito doente e Lizzie tem uma áurea amarela, felicidade, isso não me admira.
Ela retira a agulha do meu braço, olho para o local, mas algo me detém. Lizzie tem um leve brilho dourado na barriga, arregalo os olhos e sorrio
- Você precisa tomar cuidado, fique longe de mim, pelo bem do seu bebê – Ela me olha assustada, coloca a mão na barriga e sorri.
- Querida eu não estou grávida.
A peguei de surpresa, com certeza ela não sabia. Eu me sentiria eternamente culpada se algum daqueles homens fizessem mal a ela ou a sua criança que nem nasceu ainda.
- Eu aceito ficar na casa da senhora, mas prometo que será por pouco tempo.
- Pois bem. Vou falar com o meu marido – Ela sai do quarto e Lizzie faz algumas anotações. Parece lembrar de alguma coisa.
- Anna, o detetive vai vir amanhã a tarde falar com você. Para saber mais sobre os seus sequestradores, tudo bem? – Apenas confirmo coma cabeça – Pedi para o meu marido trazer algumas roupas minhas, acho que elas podem servir em você. Afinal temos o mesmo modelo de corpo.
- Obrigada, por cuidarem de mim, não sei como irei retribuir.
- Você não precisa me dar nada. Além de estar fazendo o meu trabalho, eu gosto de ajudar as pessoas.
- Eu sei, mas eu preciso dizer, se algum dia você precisar de ajuda, me avisa. Eu posso fazer coisas inimagináveis.
- Tudo bem – Ela sorri e sai com a bandeja. Antes de fechar a porta, ela se vira e me olha – Por que você achou que eu estava gravida?
- Eu tenho certeza que você está gravida.
Ela não diz nada, apenas sai e fico sozinha.
Me jogo na cama e fico olhando para o teto e só agora me permito pensar no que realmente aconteceu, 'Eu consegui fugir' .
Levo as mão na altura do rosto e percebo que não existe nenhuma cicatriz, meus pés não estão doloridos e provavelmente não estão com qualquer marca, nada que me lembre desse feito.
Passo a mão pelo pescoço e ele não está lá. Levanto rapidamente na cama e olho ao redor do quarto, absolutamente nada me dá uma pista de onde ele poderia estar. Saio da cama e corro até um pequeno armário. Minha visão está escurecida devido a mudança rápida de movimentos. Abro as portas do guarda roupas e dentro de uma sacola está o meu vestido todo sujo e lamacento, com várias marcas de sangue seco. Tiro ele e um colar cai, com uma corrente de couro meio gasto, o pingente é uma pedra rosa em formato de cilindro, um dragão prata está enrolado na pedra, como se ela fosse o maior dos tesouros que ele devia proteger. Aperto ele nas mãos e em seguida coloco no pescoço.
'Isso não pode cair nas mãos erradas.'
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Anna
FantasyAnna é uma jovem de vinte anos que foi mantida por muitos anos em cativeiro e por muito tempo tentou fugir, mas quando finalmente conseguiu escapar de seu raptor e chegar em uma sociedade, não sabia para onde ir, não tinha família ou amigos, muito m...