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Meus amigos curiosos faziam várias perguntas sobre a conversa que tive com Evan, fazendo com que os professores chamassem a atenção deles várias vezes. Disse tudo do pouco que conversamos, omitindo a parte que sua última namorada morreu. Não acho que seja um assunto que deva ser compartilhado por ser tão pessoal, mas a minha curiosidade quer saber o que houve com ela para ter esse trágico fim. E me sinto um pouco triste em pensar como Evan devia ter ficado ao receber tal notícia.

No momento estava só, arrumando meu material para ir embora. Igor não me esperará hoje, e provavelmente dia nenhum, pois agora ele acompanhará sua namorada. A chuva continuava lá fora e parecia que não iria parar tão cedo. Quando tudo estava organizado, saio da sala e desço as escadas e ao longe vejo Evan conversando com o coordenador.

Um pequeno sorriso se forma em meus lábios instantaneamente. Balanço a cabeça, e vou indo a passos lentos ao portão, mesmo que a chuva comece a me molhar. Quando já estou fora da escola, olho para o céu, ótimo! Estou sem um guarda chuva, e chegarei toda...

Um guarda chuva aparece acima de mim bloqueando as gotas de chuva, olho para a pessoa que está segurando. Os olhos negros me olham como se pudessem me absorver, e seus lábios formam o típico sorriso.

— Você pode ficar doente.

— Sou dura na queda — Mas o que é que estou falando?

Ele sorri de canto.

— Vamos. Eu te acompanho até uma parte do caminho.

— N-não precisa se incomodar. E-eu não ficarei...

— Mas eu quero Lydia.

Quando ele pronuncia meu nome, um calor percorre o meu corpo todo. Parece que meu nome fica mais bonito nos seus labios. Lydia, Lydia! Querendo ou não você acabou de conhecê-lo, se segura!.

Tudo bem — murmuro.

Depois de alguns passos em silêncio e com Evan me observando, tento começar alguma conversa.

— Hmm gostou do seu primeiro dia de aula?

Ele olha nos meus olhos por alguns instantes.

— Foi o melhor primeiro dia que já tive. Não é sempre que a gente encontra alguém que estamos sonhando. — Ele sorri e o acompanho.

— Não é sempre que alguém... — mexe comigo. Pigarreio — Como... 

Coço a nuca meio tímida com que irei perguntar. Evan fica em uma postura tensa.

— Você se sentia quando... Sonhava comigo?

Ele relaxa quando termino a pergunta. Será que ele achou que eu perguntaria sobre sua namorada?

— Como eu me sentia...? Eu me sinto bem. — ele olha para o nada quando pensa na sua resposta — Na primeira vez, mesmo que não a conhecesse eu gostei, muito, estava precisando daquilo. Daquele conforto que era estar com você. Na verdade eu me sinto confortável com você, mesmo que a nossa única relação seja os nossos sonhos.

Uma parte de mim quer que não seja essa nossa única relação. E outra parte mais racional, me avisa que acabei de conhecê-lo. Sim, não sei nada sobre ele, mas ele transmite a mesma coisa dos sonhos...

— E você? — ele me pergunta.

— Casa. — Ele fica confuso — Na primeira vez eu fiquei sem entender, pois não conhecia o tal garoto bonito. Conforme fui sonhando, eu desejava sonhar todas as noites. Você... era tipo sinônimo de casa, lar. Eu gostava da sua presença.

Ele me para. Meu coração acelera. Estamos frente a frente. O que ele vai fazer? Me beijar? Ó sim! Vocês acabaram de se conhecer! Ó não!

Ele olha cada detalhe do meu rosto, e por um momento me sinto exposta demais. E começo a pensar em defeitos que talvez nem existam em mim, já que toda essa atenção me deixa inquieta.

— Você é exatamente igual ao meu sonho. Nada de diferente.

Ele toca o meu cabelo, e engulo em seco. Mordo o meu lábio inferior, e espero. Ele olha pra minha boca, e acaricia minha bochecha. Sinto a minha pela queimar aonde ele toca.

— Linda do mesmo jeito.

Ele me chamou de linda! Ele me acha linda!

Ele abaixa seu braço, e desvia o olhar do meu. Coça a nuca como se tivesse sem graça com que fez. Você fez nada...

Não volto a andar, e nem ele. Agora que o estuda sou eu. Ele existe mesmo. E é do mesmo jeito que sonhei. Sem tirar nem pôr. Não ligo que ele esteja notando o modo como olho, mas ele está aqui. Realmente aqui. Posso estar deslumbrada por causa dos sonhos, mas ele é tão bonito. A pele morena, os olhos escuros e atrativos, boca desenhada, estatura perfeita... Levanto a mão aos poucos para toca-lo, e fico tão avoada
que não presto atenção ao meu redor.

Evan arregala os olhos e me puxa contra ele, e me vira contra algum muro de uma casa, fazendo com que a minha cabeça batesse. Sinto uma leve dor na cabeça, algumas gotas grossas me molhando e um carro passando. Evan evitou que eu fosse molhada pela poça d'agua na qual o carro passou.

O momento foi tão rápido que não notei como estávamos próximos. E isso tornava mais difícil sustentar seu olhar negro. Respirar se tornou difícil, e as gotas da chuva nem pareciam estar geladas. Evan se afasta e arruma o guarda chuva acima das nossas cabeças novamente, já que com seu movimento rápido, ela quase caiu no chão.

— Você tá bem? Bateu a cabeça muito forte?

Me sinto bem ao notar sua preocupação. Um sentimento bom me invade, o mesmo sentimento de quando recebo atenção.

Balanço a cabeça em negativa.

— Desculpa, eu só não queria que você se molhasse.

Sorrio para ele.

— Ei, não bati forte. E não precisa pedir desculpa, isso é melhor do que ser molhada.

— Pode ser... Já que a água ta muito gelada. — ele sorri e treme um pouquinho.

Paro ao lado dele e observo suas costas. Sua mochila está praticamente toda molhada, e com ela as calças e um pouco a sua blusa. Ele realmente evitou que eu fosse super molhada. Olho-o com gratidão e ele me sorri de volta.

— Obrigada — mordo o lábio imaginando o desatre que seria se no lugar dele fosse eu.

Evan me olha, franze o cenho, olha ao nosso redor, respira fundo e fecha os olhos por um momento. E penso se ele está apreensivo com alguma coisa. Quando ele volta me olhar, sinto como se seus olhos sorrissem para mim.

— Vamos, antes que outro carro passe por aqui — ele sorri de canto.

Andamos mais um pouco, quando ele para.

— Agora vou por aqui. — ele diz colocando o guarda chuva na minha mão.

— N-não, é seu leva.

— Quero que você fique com ele.

— Não precisa, você já se molhou o suficiente, leva.

— Não, quero que você use.

Tento fazer uma cara de seria.

— Evan. Leva.

Ele morde o lábio e sorri. Jesus.

Quando começo a estender o guarda chuva para ele, Evan se afasta.

— Ev... — começo a dizer.

— Isso é um motivo para nos falarmos novamente.

Ele anda rapidamente de costas e sorrindo. E eu fico somente observando-o se afastar.

Quando está alguns metros longe, ele para e acena. Aceno de volta e não consigo controlar o grande sorriso que nos meus lábios se formou.

A Pessoa Dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora