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Frágil.

Era como eu me sentia e pensava sobre mim nesse momento.

Fui e estou sendo frágil em todas as situações. Cadê aquela Lydia que disse que não ligaria, que esqueceria e mostraria ser outra pessoa? Sei que não dá pra ser firme em todos os momentos, mas também...

Eu não sou assim, não posso me deixar desmoronar desse jeito, mesmo com esses acontecimentos. Fico me repreendendo mentalmente e buscando ao mesmo tempo motivação para eu firmar quem eu sou. Eu não sou boba desse jeito, de modo algum! Então porque eu estou deixando as pessoas me afetarem?

Nesse momento frágil, eu só precisava do meu melhor amigo ao meu lado. Pra desabafar, dizer o que sinto, talvez chorar e ouvi-lo, sei que ele me confortaria e iria me falar o que eu precisava. Mas ele não está... E por mais que eu tenha meus outros amigos, eu não tenho a mesma conexão que tenho com Igor.

Preciso aprender a lidar sozinha.

Eu quero retribuir o Luís? Não. Tô com muito raiva do Alan? Sim. E o que eu tenho que fazer para não me sentir assim? Ser sincera e evitar o máximo que eu conseguir o embuste.

Respiro fundo e sigo meu caminho até o meu trabalho. Meu dia na escola foi tenso demais, nunca imaginei passar por uma situação daquelas e me sinto exposta, como se tivesse sido um brinquedo fácil demais de manusear. Não quero me sentir dessa forma.

Paro em frente a porta de vidro do meu trabalho, respiro fundo novamente e me sinto um pouco inquieta. Entro, o sino da porta toca e Luís aparece entre as prateleiras.

Fico parada olhando-o, esboço um sorriso sem graça. Ele leva sua mão até a nuca e sorri de forma sem graça.

— Oi — ele diz.

— Oi — respondo de volta.

Ficamos alguns segundos nos olhando, até que sigo para o balcão, para deixar minha mochila e iniciar o meu trabalho.

Preciso falar com ele.

Mas como iniciar?

— Lydia... — fico um pouco tensa— queria falar uma coisa.

Olho para ele e afirmo com a cabeça.

— Desculpa por ontem, eu falei que não queria forçar nada e aparentemente forcei. Deixei claro que sou afim de você, mas de forma alguma quero que fique um clima estranho na nossa amizade. Então...

Sorrio para ele, para ver que tudo bem.

— Como você já tá ciente e eu notei que tem outro garoto na jogada, vou ficar na minha, você já sabe e eu to aqui. Não quero que se sinta obrigada a nada e que a gente continue sendo amigos... Pode ser?

Suspirei fortemente. Parece que saiu um peso das minhas costas.

— Claro — digo indo em sua direção para abraça-lo.

Seu abraço foi quente, reconfortante e durou alguns segundos. Senti que eu precisava de um abraço totalmente sincero e amigável, daqueles que insinuavam que tudo ficaria bem.

— Nossa eu tava precisando de um abraço desse — digo sorrindo quando nos afastamos.

— Ah é? Esta tudo bem? Você está com uma cara de quem andou chorando... Foi pelo o que fiz ontem? — ele pegunta em tom preocupado.

— Não! Não... Claro que não, você nunca foi rude comigo ...

— E quem foi? Vamos... — ele pega a minha mão e me conduz até o balcão para nos sentarmos — pode desabafar que eu tô todo preparado pra história...

Sentei-me e fiquei pensativa. Devo conversar? Que mal faria não é? Quem sabe uma pessoa de fora consiga me aconselhar...

— Se você não se sentir confortável em desabafar comigo, tudo bem... — ele diz após alguns segundos do meu silêncio.

— Não é isso... É que eu comentei com os meus amigos hoje, na verdade queria muito era conversar com meu melhor amigo, mas ele anda meio indisponível... Eu não sei muito bem como explicar... É uma situação chata...

— Você precisa tentar não é mesmo? — ele abre um sorriso amigável.

— Tá... Eu acho que ainda preciso conversar sobre o assunto... — ele me olha atentamente — Eu não sei se sabe, eu tenho um ex namorado...

Ele faz cara se surpreso, porém não me interrompe.

— Meu primeiro namorado, primeira pessoa que gostei, enfim, aquelas coisas todas. Namoramos 4 meses só, ele me traiu e eu terminei — ele fez outra cara de surpreso, mas continuava quieto — fazem mais ou menos uns 6 meses agora, que isso é passado, mas faz algum tempo que ele não vem me deixando em paz...— sua feição começa a ficar apreensiva — Ele fica me provocando, parece que me persegue, diz que eu ainda gosto dele, parece um louco, sério! Aí hoje...

Ao lembrar começo a tremer um pouquinho e Luís percebe.

— O que ele fez Lydia? — sua voz soa preocupada.

— Ele me agarrou na escada da escola, ele foi tão... Bruto, me senti completamente exposta, um nada, pareceu tão fácil...

Ele segura as minhas mãos para me confortar, olho para ele a espera da sua fala.

— Então... Primeiro, como alguém trai uma menina dessa? Pô faz nenhum sentido. Segundo,  alguma medida precisa ser tomada, você quer que eu fale com ele? — fiz que não com a cabeça — Já que não quer e ele vem fazendo isso há algum tempo, você deveria contar para os seus pais, conversar com os pais dele, ou até mesmo denunciar, para que isso não piore.

Fico pensativa e atenta a tudo que ele me fala. Eu sei que ele tem razão, mas parece ser uma medida tão drástica.

— Eu sei que você deve pensar que isso é exagerado, mas hoje em dia, muitos homens agem como se as mulheres fossem propriedade. Você é incrível Lydia, merece alguém que te trate como tal. Se você acha que é capaz de lidar e resolver a situação sozinha, ok, mas só pense no que for melhor para você e não para ele.

— Obrigada Luís, estava necessitando de uma conversa aberta desse jeito, isso estava consumindo meus pensamentos.

— Eu estarei aqui... — seu olhar fica um pouco distante — Em pensar que eu praticamente te agarrei ontem... Me desculpa de verdade...

— Luís o que você fez não chegou nem perto do que ele fez. Você não foi rude, foi de certa forma fofo, eu só...

— Não soube como reagir. Não foi certo da mesma forma, preciso rever minhas atitudes — ele sorri brincalhão.

O sino da porta toca, indicando um novo cliente. Luis se levanta e acaricia meus ombros.

— Deixa que eu atendo, fica tranquila hoje.

Abro um sorriso totalmente sincero. Ele realmente conseguiu fazer eu me sentir mais leve e estava grata por isso. Mas era inevitável pensar que eu poderia estar tendo esse momento com o meu melhor amigo.

Suspiro um pouco desanimada. Ele falou que nunca te abandonaria, no momento ele está distante, mas não vai ser sempre assim... Vai? Ele realmente me deixaria?

Se você acha que é capaz de lidar e resolver sozinha... Veio a voz de Luís a minha mente. Eu sei que sou capaz e aprenderei a lidar. Já deixei Alan me perturbar tempo demais, ele está ocupando muitas páginas da minha vida que estão sendo tempo complemente perdido.

Não vou deixar que ele me incomode novamente e vou me concentrar somente nas coisas, pensar no que é melhor pra mim e tocar minha vida.

E tem coisa boa acontecendo?

Parei uns momentos para refletir. O estresse gerado por aquele babaca suga os momentos que há de bom no meu dia, fazendo com que quase me esqueça que ele está ali, existindo junto comigo, não somente em meus sonhos, mas agora, aos poucos, em minha vida. E era nisso que eu precisava me concentrar.

Evan.

A Pessoa Dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora