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— Acho que tem alguém pensando na vida.

Luis me acorda do meu devaneio.

— A vida deve estar boa, para estar sorrindo — ele fala.

— Acho que está começando a melhorar... — murmuro.

Ele, que estava concentrado nos seus afazeres, para e me olha. Esboçando nenhuma reação, somente me olhando. Me sinto desconfortável por estar recebendo essa atenção. Engulo em seco e quebro o contato visual.

— Eu... Vou colocar esses... — aponto para os livros — livros... Na prateleira — termino de dizer, ainda desconfortável e sem entender a sua reação.

Pego os três livros na minha frente e vou seguindo a passos lentos em direção às prateleiras, observando Luis de canto de olho. Ele parou de me olhar e voltou a fazer o que estava fazendo. Mas o que tinha dado nele?

Vou andando entre as prateleiras, olhando a ordem alfabética como está organizado. Coloco os dois primeiros livros no seus lugares e procuro o destino do último.

— Lydia— Luis diz atrás de mim.

Me assusto com a sua aparição, já que estava concentrada. Continuo de frente para a prateleira e de costas para ele. Sei que deveria me virar, mas algo me diz que é melhor continuar assim um pouco, talvez pela sua estranha atitude alguns minutos antes.

— Sim? — volto a procurar o lugar do último livro na prateleira.

Luis fica em silêncio por um instante, e só escuto sua respiração profunda. Meu coração começa a acelerar. Por quê? E continuo esperando ele falar alguma coisa.

— Por que você está tão silencioso? — digo me virando pra ele.

Fico observando seu rosto, ele levanta o olhar para o meu. Sorrio sem graça.

— Para de ficar me olhando assim.

— Se for pra ver você sorrindo desse jeito, vou continuar.

— O que?

— Lydia... — começo a ficar tensa — Eu posso não ter deixado claro, ou talvez você que não tenha percebido. O que é mais provável. Mas eu...

Ele dá um passo a frente, no pequeno corredor que estamos, o que faz estarmos bem próximos.

— Percebidooque? — digo rapidamente.

— Percebido que eu gosto de você.

Escuto as batidas do meu coração nos meus ouvidos. Ele se aproxima novamente, colando-se em mim. Engulo em seco, e não sei o que fazer.

— Eu posso não estar apaixonado. Mas você é uma garota linda. Muito. Linda. E deve ser só atração, mas isso não passou, e você mexe muito comigo. Tenho que me segurar todas as vezes que está perto, porque você é mais nova, eu sei que isso não tem nada a ver, mas eu te respeito muito pra não tentar nada que não queira. Eu sinto ciúmes de você. Não tenho direito nenhum pra sentir isso. Mas perceber que tem outro garoto mexendo com você desse jeito... — ele respira fundo.

Fico escutando tudo, sem desviar o meu olhar do dele. Nunca passou pela minha cabeça algum dia isso acontecer. Nunca prestei atenção no Luis desse jeito, e agora eu vejo. Ele não é um garoto feio, mas também não é lindo demais. Ele é bonito, sim. Com o seu cabelo e seus olhos castanho escuro, pele parda e seus braços fortes. Ele ainda está muito próximo, e estou paralisada, supresa demais para tomar alguma reação.

Como...

— Como eu sei que tem algum garoto? É só olhar pra você. É fácil te ler.

Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, e depois volta seu olhar para mim.

— Eu não sei o que você quer agora, mas estava mais do que na hora de ser direto com você, já que nunca percebia que eu estava afim.

Eu continuava paralisada olhando para ele. Ele coloca seus braços na prateleira atrás de mim, bloqueando qualquer modo de fuga. Aimeudeus. Me coração acelera novamente.

— Eu gosto de você, Lydia.

Sinto minhas mãos começarem a tremer, e aperto o livro em minhas mãos. Luis vai se aproximando lentamente do meu rosto. Já que nosso corpo já estava colado, não havia muito espaço entre nós. O que vou fazer?

Ele continua com o olhar vidrado nos meus olhos, até seu nariz tocar o meu. Seu olhar cai para os meus lábios, e ele inclina a cabeça. Sinto sua respiração, e não fechos os olhos, só continuo paralisada, e depois sinto. Seus lábios estão roçando os meus, e aos poucos vai se tornando firme. Lydia faça alguma coisa!!

O sino da porta toca.

Rapidamente empurro o braço dele e viro o rosto.

— Novo cliente!  — digo saindo em passos rápidos com o coração acelerado.

Quando chego no começo do corredor na qual estava, travo no lugar. O livro cai da minha mão. Sinto os passos do Luis atrás de mim.

— Quem é Lydia? — Luis pergunta.

Eu fico olhando assustada e surpresa para a pessoa que acabou de entrar, e ele não consegue manter o olhar no meu.

— Gabriel!

Ele se encolhe.

— O que aconteceu com você!?

Gabriel estava horrível. Seu olho estava roxo por debaixo dos óculos, sua bochecha machucada, seu supercílio cortado, queixo arranhado...

Mas o que aconteceu com ele?!

Fui me aproximando lentamente dele, estudando seu estado. Quanto mais eu me aproximava ele se encolhia.

— Mas... O que houve com você? — digo em um tom calmo e doce.

— É... Eu...

Fico olhando-o esperando um resposta, e ele desvia o olhar.

— Olha pra mim. — depois de uns instantes ele olha — Pode me contar. Você sabe que pode confiar em mim...

Com os olhos fixos no meu, vejo uma lágrima cair, e meu coração se apertar.

Estendo a minha mão para toca-lo, mas ele se vira e vai embora as pressas, me deixando sem saber o que lhe aconteceu.

A Pessoa Dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora