O anjo no provaDOR

149 11 2
                                    

Melissa se trancou no provador de roupas da loja e se agachou encolhida num canto abraçando os joelhos. Percebeu que fugir foi tolice! Não adiantou nada correr daquele jeito. Seus pensamentos ainda lhe perseguiam ferozmente.

A imagem de Edu aparecia em sua frente como flashbacks e se misturava com o rosto do Anderson.

- O que o Edu quer? Por que o Flávio fez aquilo? Afinal, o que o Anderson fez comigo? Como eu faço pra sair daqui?

Era muita coisa para entender e engolir. Sua mente surtava e o soluço só piorava as coisas. Não ter certeza do que havia acontecido com seu corpo proporcionava à Melissa uma mistura intensa de ódio e medo. Não havia como piorar. Mas umas batidas na porta do provador e uma voz doce de criança lhe chamavam.

- Moça, está tudo bem? - era possível ver um par de perninhas na ponta dos pés.

Melissa ouviu aquela voz tão meiga como a de um anjo e sentiu nela um tom de ternura. Como se uma luz a despertasse de toda aquela atmosfera negra.

-Tá sim... - disse Melissa enxugando os olhos - vai lá com a sua mãe, ela pode estar preocupada, né? - ficou olhando a porta do provador esperando ela ir embora ou lhe dar uma resposta, mas ela demorou a lhe responder.

Melissa então se levantou do chão e ficou olhando para o espelho. Olhar no fundo dos olhos e ver que neles já não havia um brilho como antes, gerou nela um sentimento de remorso e motivação para recuperá-lo. Encheu-se de coragem e abriu a porta.

Para seu maior arrependimento. Havia uma arma apontada para ela e dois homens com meias-calças no rosto mandando ela se juntar as outras pessoas. Melissa ficou paralisada olhando para a menininha.

- Se você cooperar ninguém se machuca, mas se você tentar alguma gracinha eu atiro na sua testa e deixo você aí mesmo!

Aquelas palavras fluíram na mente dela como um convite à morte. Simplesmente acabar com toda aquela perseguição que lhe atormentava desde a infância. Mas aquela pequena menininha de cabelos negros e olhos brilhantes lhe abraçou tão forte que Melissa sentiu-se como o único porto seguro dela naquele momento.

Enquanto se juntavam aos demais reféns do assalto, Melissa perguntou à menina seu nome e quem eram seus pais.

- Fica calma, tá? Vai ficar tudo bem - a menina tremia de medo e lhe abraçava cada vez mais forte.

- Me-meu nome é Lu-Luiza. Meus pais estão lá fora na rua - tímida, apontando pra saída, fez Melissa sentir-se responsável por leva-la até eles.

Em meio a tantos choros, imaginava o desespero da mãe ao saber que o pior podia acontecer com a sua filha.

Os assaltantes estavam nervosos e descontavam nos reféns. Chegaram a agredir um casal de idosos. Foi tudo muito rápido. Ouviam-se choros, orações e de algumas pessoas, o silencio perturbador de suas bocas e o tremor de seus corpos que já falavam por si.

Era nítido que os assaltantes eram inexperientes, então a gerente da loja se ofereceu para abrir a caixa registradora e entregar logo o dinheiro. Eles a puxaram pelo braço até o caixa, ela retirou o dinheiro e entregou a eles em silencio. Mas por causa do nervosismo, acabou se desequilibrando e ao se apoiar no balcão, acionou o alarme da loja fazendo um enorme barulho.

Imediatamente Luiza desabou no choro decorrente do susto.

- Calma, Luiza - Melissa se esforçava para acalma-la - vai ficar tudo bem, daqui a pouco você vai estar lá fora com os seus pais, mas para de chorar - palavras que não puderam ser ouvidas, devido ao enorme barulho que estava na loja.

- MANDA ESSA FEDELHA CALAR A BOCA OU EU MESMO FAÇO ISSO! - o assaltante vendo que já havia perdido o controle da situação, era capaz de qualquer coisa.

- Se acalma pelo amor de Deus! Daqui a pouco tudo isso vai acabar - disse Melissa já desesperada, abraçando Luiza e prevendo o pior.

Foi tudo muito rápido. Melissa só viu a sombra daquele homem atrás de si com a arma apontada para Luiza.

De repente um tiro.

Não dava tempo dizer mais nada. Melissa viu que Luiza estava bem e sorriu. Do canto do seu sorriso escorreu sangue e ela sentiu seus olhos ficarem pesados. Caiu ali mesmo, aos pés da menina.


NOTA DA AUTORA: Esse capítulo foi escrito com a ajuda da Amanda Carolina. (Mands)

Destino improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora