Em alguns minutos já era possível ver as luzes dos postes de iluminação que levavam à cidade. Estavam todos cansados, mas a ninguém foi dado o privilégio de dormir. O medo e a preocupação eram nítidos nos olhos de todos, exceto de Juan.
Chegaram na rua da delegacia e foram reduzindo a velocidade até parar em uma pracinha bem próxima.
- Nós vamos mesmo fazer isso? - questionou Anderson
- Na verdade eles podem ver a placa do carro nas câmeras de monitoramento- respondeu Melissa - Vamos embora. Deixa ele na praça mesmo.
- Tá louca, mina? - interrompeu Daniel - Em outra mais longe pelo menos...
E assim fizeram. Anderson dirigiu alguns minutos até um bairro distante e encostou o carro na entrada de uma viela.
- Daniel, desce comigo e vamos tirar esse cara daqui.
- Mariana! - Juan começou a repetir esse nome sem parar. Ele ria e dizia com um sorriso nos lábios.
- Cala a boca, Zé mané! Quem é Mariana?
- Mariana é aquela dos cabelos encaracolados que virá ao amanhecer, trazendo água para os sedentos e a luz da alvorada. Hahahaha! Mariana!
- Anda, Daniel! Para de conversar com ele! Deixa ele aqui. Isso... Pronto!
- Eles o deixaram na entrada da viela, tiraram sua carteira com documentos e caminharam em direção ao carro - Só mais uma coisa - Acrescentou Andy, dando meia volta e acertando um soco no queixo de Juan, deixando-o desacordado.
No carro, Melissa que estava no banco da frente, escolheu não observar a atitude dos rapazes. Ela estava com um sentimento de dever cumprido, apesar de saber o quão errado tudo aquilo era.
Anderson dirigiu até em casa, carregou Melissa para dentro e foi para fora conversar com Daniel. Eles decidiram que Daniel esconderia o carro do Edu até saberem o que fazer com ele. Melissa ficaria lá aquela noite. Já em casa, Anderson sentado no sofá de frente para Melissa:
- Então... Eu sei que esse momento é desconfortante, mas... Precisamos decidir algumas coisas. Você quer conversar agora ou...
- Anderson - interrompeu Melissa - o que você fez comigo aquela noite?
- Melissa, eu te juro que eu não fiz nada. Eu não consegui. Você é uma menina nova, bonita, mas, como eu já disse, eu não sou um monstro.
- Ah, não é? O que você é então? Um mocinho virgem que foi obrigado a participar de um sequestro?!
- Calma Melissa. Não, eu não sou um mocinho inocente. E sim, eu fui praticamente obrigado a fazer aquilo. Quando você fugiu do teatro aquele dia, o Edu foi atrás de você e eu segui ele. Quando alcancei, eu bati nele pra caramba. E apanhei também. Mas ele me ameaçou. Ele disse contaria para a Sheila que tinha ficado com você. Que eu tinha te estuprado. O que não aconteceu. Mas seria a minha palavra contra a sua, a dele e a do Flávio.
- Quem é Sheila?
- É a minha namorada que eu te falei.
- E onde ela tá?
- Ela mora em Santa Catarina, mas isso não importa agora. O Edu me pediu pra ajudar ele a ficar com você. Ele estava louco, Melissa. Mas eu juro que achei que ele só queria um encontro. Eu acreditei que ele queria te levar pra aquele sítio para uma noite de amor. Quando vocês chegaram, ele me disse que o carinha estava com vocês e pediu pra gente dar um jeito nele. O resto você já sabe.
- Então nada disso deveria ter saído dessa maneira?
- Olha, o Edu tem um fascínio por você que eu nunca vi igual. Ele começou com a melhor das intenções, mas subiu tudo para a cabeça. Ele se tornou um dependente, Melissa. Talvez só você seja capaz de acabar com esse desejo.
Melissa ouvia tudo com o olhar voltado para o chão. Havia muito que pensar. Mas agora ela se sentia segura.
- Se você namora, por que me beijou no seu aniversário?
- Melissa, eu já te falei que você é uma pessoa incrível. Aquilo foi só um beijo. Eu e a Sheila temos um relacionamento bem aberto, devido a distancia e tudo mais. Somos bem maduros. Desculpa se significou alguma coisa para você. Se você não se importar, eu vou ligar para a Sheila vir passar uns dias aqui pra cuidar de você. Eu não quero ser visto com você. Nada contra você, mas, acho que isso só pioraria as coisas.
Alguns dias depois, Sheila chega a São Paulo. Ela era uma moça jovem, bonita, simpática e extrovertida. Era notável o porquê de Anderson gostar tanto dela. Ela foi informada de toda a situação e se prontificou a cuidar e ajudar Melissa. Tornaram-se amigas. Muito amigas.
Algumas semanas depois, Melissa estava na sala de espera do hospital para o tratamento fisioterapêutico com Sheila e a enfermeira Susan, quando o noticiário da televisão informou:
- "Foram encerradas nesta manhã as buscas pelo ator e improvisador Eduardo Nunes. O corpo do ator foi encontrado em um matagal próximo a um sítio na zona oeste de São Paulo, já em estado de decomposição. O repórter Jairo Oliveira está no local e tem mais informações.
-"Boa tarde. É isso mesmo. O corpo foi encontrado neste matagal, a 22 km de São Paulo. O Delegado Abner, responsável pela investigação, informou a nossa equipe que a causa da morte foi suicídio. Foi encontrado um revólver o local, e olha só que curioso, o cadáver estava segurando uma rosa na hora do crime. Jairo Oliveira. De volta aos estúdios.
- "O corpo do ator será velado hoje à tarde no teatro TUCA, em São Paulo, onde o ator trabalhava ao lado da Cia Barbixas de Humor, onde serão prestadas homenagens dos amigos e familiares."
As três moças se olharam estarrecidas.
- Esse não é o seu namorado?! - questionou Susan
Melissa chorou. E seu choro foi real. Ela sentiu a dor de perder alguém pela primeira vez.
Sheila tentava consolá-la. Em vão. Melissa não podia aguentar aquela notícia, dada de maneira tão rude e insensível.
-A rosa! Eu! Ah meu Deus... Edu! Nããããããããão!
Susan providenciou um calmante e aplicou em Melissa que adormeceu rapidamente.
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Destino improvável
FanfictionMelissa não tem um bom relacionamento com seus pais desde que foram morar na Paraíba, quando tinha dez anos. Teve uma adolescência, digamos, conturbada. Vários fatores influenciaram a decisão de voltar para São Paulo. Melissa parte com vinte e doi...