Marcas do Passado

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Passaram-se alguns dias desde a visita de seu pai e a essa altura Melissa já estava com uma melhora considerável. A enfermeira Susan, responsável pelo caso, fez questão de estar ao lado da sua paciente durante todo o processo.

- Hoje você tem uma visita especial - dizia Susan enquanto preparava o quarto pra quando Melissa acordasse - seu namorado vem te ver! Ele pediu que eu avisasse quando você fosse acordar. Eu vou só arrumar seu cabelo e já ligo para ele. Vou deixar você bem bonita.

Quando Susan saiu do quarto, em poucos minutos chega alguém inesperado. Abrindo lentamente a porta e entrando silenciosamente, Joan Lucas se posicionou ao lado do leito de Melissa.

- Eu sinto muito por você, Issa - seus olhos se encheram de lágrimas e piedade - eu sei que eu não deveria ter vindo até aqui depois de tudo o que você fez comigo. Mas... Olha, eu sofri muito. Eu era feliz com você e sei que você também era. Por que você fez isso comigo? Eu te amava muito, sabia? Desde aquele acidente, eu me tornei o homem mais infeliz da face da terra.

Enquanto ele dizia essas palavras, Melissa ia recuperando a consciência. Apesar de permanecer com os olhos fechados, Melissa ouvia e entendia exatamente tudo o que Joan falava.

- Não entendo porque você me rejeitou ao saber que eu não poderia mais andar. Lembro-me como hoje o seu olhar pra mim a me ver nessa cadeira de rodas. Mas isso não foi o pior. Parte da culpa foi minha também. Naquele acidente eu matei o nosso filhinho. Tudo bem que você ainda só tinha três meses, mas era o nosso filhinho. Aquele acidente não tirou apenas a minha capacidade de andar, mas também tirou o nosso sonho, a nossa família - Joan a essa altura já estava aos prantos - maldito dia em que comprei aquela moto!

Melissa ouvia cada palavra de Joan e parecia que facas estavam sendo enfiadas em seu peito. Ela não conseguiu segurar e uma lagrima quente escorreu em seu rosto.

- Minha Issa... Era assim que eu te chamava, lembra? Eu sei que você está me ouvindo. Eu só vim te pedir desculpas por todo o mal que eu te fiz. A você e ao nosso filhinho. Mas a sua rejeição já me pagou.

- Joan - balbuciou Melissa, abrindo os olhos - Joan, me perdoa - com dificuldades e chorando muito, esticou sua mão em direção à Joan, que a segurou e beijou.

De repente a enfermeira Susan abre a porta - Melissa, seu namorado chegou! - surpresa pelo inconveniente, Susan tosse forçadamente e Edu entra carregando um buquê de flores.

- Eu queria ser o primeiro que você visse quando acordasse, mas parece que eu cheguei atrasado, não é mesmo?

- Ah, então esse é o seu namorado? - perguntou Joan enquanto soltava a mão de Melissa para posicionar a cadeira de rodas de frente a Edu.

- N... Não - Melissa tinha muita dificuldade para falar, estava muito fraca.

- Tente não falar, mocinha - interrompeu a enfermeira - você precisa de repouso.

- Eu não devia estar aqui. Sinto muito - disse Joan enquanto saía do quarto.

- Espere - balbuciou Melissa

Joan saiu do quarto e Edu se aproximou do leito e lhe deu um beijo na testa.

- Meu amor, eu fiquei tão preocupado! Eu liguei pro seu pai e paguei a passagem dele para que ele viesse te ver.

- Sai daqui seu imbecil - Melissa estava com medo e fraca

- Deve ser o efeito do sedativo, não se preocupe que isso logo passa - disse Susan - vou deixar vocês um pouco a sós para conversarem, mas só por alguns minutos porque ela precisa descansar.

- Ora, ora, moça... Eu cuidei de você durante essas semanas e é assim que você me retribui?

- Você é louco!

- Louco por você meu anjo. Ei, quem é esse cara que estava aqui? Não gostei nada da cena que eu vi, hein?

- Eu quero sair daqui! - inutilmente Melissa tentou se levantar - Ah meu Deus! - disse chorando bastante - Eu não sinto as minhas pernas! Eu não sinto as minhas pernas!

- Do que você está falando? É efeito da anestesia, se acalma!

-Seu idiota! Eu não sinto as minhas pernas!

A enfermeira entrou no quarto e aplicou um calmante em Melissa. Em poucos segundos ela já havia dormido novamente.

-Senhor Eduardo, precisamos conversar - disse Susan - a Melissa infelizmente não vai poder andar por algum tempo. Mas com o tratamento dos remédios e fisioterapia conseguiremos reverter isso. Ela vai receber alta amanhã, mas iremos continuar com os exames.

- Pode deixar, vou preparar a minha casa e amanhã venho busca-la.

Ambos saíram da sala e no corredor encontraram Joan. Edu passou sem dar a mínima e foi embora. Susan disse a Joan sobre o diagnóstico de Melissa e ele se prontificou a ficar com ela o quanto fosse preciso. Ele passou a noite ao lado de Melissa. Apesar de todo o remorso que sentia por ela ter lhe rejeitado, ao vê-la, sentia-se apaixonado.

Talvez a vida esteja ensinando a Melissa. Talvez o destino esteja acertando as contas. Talvez, apenas, porque a vida é improvável, assim como o destino também é.


Destino improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora