Everything Has Changed

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Bem vindos a Sherrinford High, vulgo Inferno. Lá é recheado de seres humanos desnecessários com mais esteroides que QI no cérebro. Sempre tive que aturar esses animais, mas a tortura ficou séria quando algum imbecil roubou minha ficha do psiquiatra e percebeu que eu "via coisas". Qual é o problema de ver coisas? Pelo menos estou usando o meu cérebro para alguma coisa, ao contrário dos retardados da escola.

Sim, eu sei que "retardados" não é um termo politicamente correto. Mas qualquer coisa relacionada àqueles seres certamente não é correta. Nem deve ser.

— E aí, esquisito? Vendo coisas ultimamente? —Anderson me mandou um bilhetinho, o idiota chefe daqui. Sua vida é tão vazia quanto o seu cérebro, e acho que isso explica o porquê de ele amar atormentar a minha vida.

— Sim, é claro! — retruquei com meu habitual sorriso irônico, não sabendo se ele está a ver. — Tinha visto você tirando uma nota boa na escola. Aquilo tava bom demais pra ser verdade.

Mandei o bilhetinho por um dos lacaios dele, cuja cabeça é mais oca que a de Anderson, porque nada explica alguém querer ser como aquele estúpido.

Ele cerrou os punhos e faz uma carinha de cachorrinho raivoso quando leu o bilhete. Uau, que medo, ele sabe usar as mãos!

Para a minha sorte, o sinal tocou e finalmente pude me retirar daquele inferno e ir para a minha casa, que é basicamente outro, mas pelo menos posso assistir a Gilmore Girls lá.

Peguei meu walkman velho e minha bicicleta, pus a última fita da Bjork e fui pedalando pela patética cidadezinha de Sherrinford.

Tudo aqui parece irreal e estúpido. É uma típica cidade sexista e racista de interior. Praticamente todos aqui são belos, brancos, cristãos e heterossexuais. Aqui o que comanda não é o que existe, e sim o que as pessoas querem que exista.

Inúmeras vezes eu vi maridos espancando suas esposas ou pais espancando seus filhos, mas ninguém reclama. É só passar uma maquiagem no machucado ou fingir que não aconteceu. Essa é a lei implícita mais forte de Sherrinford: Fingir. Sei disso melhor que os outros cidadãos, porque acima de todo mundo, eu sou perfeito em fingir.

Sempre estou fingindo, imaginando. E não faço isso por drama ou para ser o garotinho misterioso legal, faço isso porque sei que ninguém se importa. De que é que adianta se abrir e falar tudo se ninguém vai ouvir?

Porque essa é a cidade. Não é sobre ouvir ou falar, é sobre imaginar e fingir que tá tudo bem.

Desliguei o walkman e fui deixando a minha bicicleta vermelha no portão. Havia um caminhão de mudanças do lado de casa. Perfeito! Mais um vizinho punk ouvindo Ramones a noite toda. Maravilha!

— Sherlock, é você? — gritou a minha mãe.

— Não, mãe, é o Bilbo. Essa é a Montanha Solitária, né?

— Amor, nossos vizinhos chegaram! — ela gritou de novo.

— Fascinante, mãe! — ironizei, dessa vez dentro de casa.

— Vai lá dar um oi pra eles, bebê! — Ela beijou a minha testa, esticando-se um pouco, já que sou bem mais alto.

— Mãe, eu tô morto de cansado!

Ela se virou e foi para a cozinha.

Esperançoso, me deitei no sofá e relaxei um pouco, mas logo ela voltou com uma torta que deve ter feito para os vizinhos.

— Mãe, o que é isso? — perguntei, já sabendo a resposta.

— Por favor, vai lá entregar isso pra eles. Parece que o filho tem mais ou menos a sua idade...

Com uma cara feia, peguei a torta. Contra a minha vontade, devo dizer, caso não tenham notado ainda.

Segurando a torta e me perguntando seriamente se não deveria comê-la e fingir que entreguei, fui até o lado do caminhão de mudanças e vi um garoto loiro. Minha mãe estava certa, ele parece ter a minha idade.

— Oi! — ele falou, sorridente. — Aparentemente eu sou seu novo vizinho.

O garoto é bem mais baixinho que eu, chuto uns 15cm. Mas ele é bonito, bem bonito.

— Pois é. — Sorri com pouca vontade. — Minha mãe fez essa torta pra vocês, porque aparentemente, ela acha que está nos Estados Unidos nos anos 60.

Ele riu um pouco e pega a comida, antes de agradecer. Uma mulher, que presumi ser sua mãe, se aproximou.

— Quem é esse, John? — ela questionou, com o mesmo sorriso do filho.

— Esse é o... Ai meu Deus, esqueci de perguntar seu nome!

— Sherlock Holmes. — Apertei a mão da mulher.

— Você estuda na Sherrinford? — ele perguntou.

— Sim, infelizmente. — Por alguma razão, eles devem ter achado isso engraçado, porque estavam rindo. Não era graça, era só a verdade.

— O Johnzinho aqui vai começar lá amanhã — disse ela. — É ótimo que ele já conheça alguém.

— É... — respondoi.

— Ei, você quer ir pra locadora? Eu acho que vi uma enquanto tava vindo pra cá... — tornou John.

— Claro! É a Sherrinford Films. — Sorri. Eu nunca tinha ido à locadora com alguém e aquele era o meu cantinho feliz.

John e eu demos tchau à mãe dele e fomos caminhando até a locadora. Ele não parava de falar. Me perdi no que ele estava falando na terceira frase, e daí em diante fiquei devaneando. Fiquei preso na minha própria mente, como quase sempre estou.

— Sherlock? — ele perguntou, trazendo-me para a vida real.

— Desculpa, eu me distraí.

— Tá tudo bem! — Ele sorriu. Será que aquele garoto para de sorrir?

— Então... Quer alugar o quê?

— Tava pensando em Janela Indiscreta ou Mr Smith Goes To Washington.

— Você é fã do James Stewart, né? — perguntei, tentando não criar expectativas, mas já fazendo milhares.

— Com certeza! Eu sei que ele não é nenhum astro pop atual nem nada, mas eu nunca vi nenhum filme dele que eu não tenha gostado.

Eu também não, pensei

Ao chegar na locadora, cumprimentei Billy, o dono, e fui direto para a seção de suspense para procurar por Janela Indiscreta, enquanto John foi na seção de drama, procurar pelo outro filme. Em questão de poucos minutos encontramos o que queremos.

— Sherlock com um amiguinho novo! — provocou Billy. Ele é a pessoa mais legal dessa cidade, mas é gay, então eu sou o único que reconhece isso.

— É, eu sou o John, o amigo novo dele! — John o cumprimentou com entusiasmo.

"Amigo". Era a primeira vez que alguém me chamava assim.

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N/A.: Oi, gente! Eu havia retirado a publicação pois decidi revisar (dessa vez pra valer) essa fanfic.

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