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Iris

  And I don't want the world to see me
'Cause I don't think that they'd understand
When everything's meant to be broken
I just want you to know who I am  

Iris (Goo goo dolls)

-Olá, Sherlock! -Falou a psicóloga.

-Oi, Doutora Mortimer.

-Diga-me, o que aconteceu nesta semana?

-Eu fiz um amigo! –Disse sorrindo.

-Real ou imaginário? 

-Real, até onde sei. Ele é bonito, legal e me defende do Anderson. Não é muito inteligente, mas é uma pessoa ótima.

-Isso é muito bom para você, Sherlock. Já pensou em contar a ele sobre seu incidente ano passado? –Perguntou a doutora fazendo esforço para não me chamar de louco.

-Se nem meu pai gosta mais de mim, imagine o John!

-Sugiro falar para ele sobre o ano passado, vai te ajudar a se abrir.

Quando saí de lá, pensei no que a doutora disse. Isso ia me ajudar a me abrir, mas o John nunca mais me olharia da mesma forma. Todos na escola me chamavam de aberração ou de louco, mas não sabiam pelo que passei.

-Oi, John! –Falei acenando para ele.

-Oi, Sherlock! Qual é a trilha sonora de hoje? –Perguntou John.

-Guns N' Roses, mais especificamente Welcome To The Jungle, que sempre me lembra da escola.

-Adoro esse seu amor pela escola –disse Watson rindo.

-Vamos? –Perguntei antes do John subir na bicicleta.

A escola foi normal como todos os dias: Burros me xingando, vacas e antas atrás dos burros e cascavéis passando dever de casa. Eu e meu amigo passamos o recreio junto e ele segurou minha mão várias vezes. Quando a aula terminou, tomei coragem e resolvi admitir meus problemas a ele.

-Ei, John, você vem comigo até a quadra? Tá tudo vazio agora –pedi esperançoso.

-Certo. Aconteceu alguma coisa? –Perguntou meu amigo enquanto andamos até a quadra.

-É que eu queria te contar uma coisa. Você já deve ter notado que os animais costumam me chamar de aberração, não é? -Falei me deitando na quadra. -Bom, eles me chamam assim porque ano passado eu me internei num sanatório. Eu estava lá por... porque eu estava ouvindo vozes demais e eu vi meu pai espancando a minha mãe. Bati nele incansavelmente e quando dei por mim, vi que ele não tinha feito nada. Depois daquele dia, tive que me internar. Gostaria de ser como você, John. Com uma família perfeita, sem ter que olhar no espelho todos os dias e perguntar porque não morro logo.

-Meu pai me abandonou –disse John rápido.

-O quê?

-Meu pai abandonou a mim e a mãe quando descobriu que ela estava grávida. Mamãe se casou com esse cara que é bem legal, mas eu sempre lembro que há um homem por aí que me deixou e também sempre penso em como sou tão inútil a ponto de alguém me abandonar mesmo antes de nascer.

-Você não é inútil, John. E eu nunca vou te abandonar. Prometo -disse fitando seus olhos azuis.

-Nem eu, Sherlock. Conta comigo. Já que estamos sendo sinceros sobre tudo, posso ser sincero sobre uma coisa?

-Claro. O quê?

-Eu meio que tenho uma quedinha por você –falou Watson tímido.

-Ahm?

-Eu tenho uma quedinha por você, Sherlock Holmes –disse ele segurando minhas mãos que no momento tremiam.

-Você... am... não é o único. –Respondi e ele me puxou para um beijo. Foi doce e gentil. Senti sua língua explorar cada parte da minha boca de maneira carinhosa e amei a sensação. Intercalamos o beijo com alguns selinhos e mordi delicadamente seus lábios algumas vezes. Eram apenas eu e John, tudo mais pareceu que não existia. Não havia mais animais me xingando ou pais me batendo, havia apenas eu e ele, e nada mais importava.