Um belo dia para se foder

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The way you see the world
It got you this far
You might have some bruises
And a few of scars
But you know you're gonna be okay

Something Wild (Lindsey Stirling)

John's POV

Lá estava eu no corredor esperando o Sherlock sair do psicólogo. Meu amigo sempre falava que não era necessário que eu ficasse lá, mas eu sabia que ele provavelmente sairia de lá chorando e eu não podia deixá-lo chorando. Amava aquela coisa chata demais para deixá-la triste.

Ele ainda não havia voltado para a escola e não podia culpá-lo. Todos em Sherrinford estavam falando sobre a mãe dele e ouvi coisas horríveis como "acho que foi ele que matou a mãe" ou "alguém que pariu uma aberração daquelas merecia coisa do tipo". É claro que bati em cada um dos imbecis que disse coisas do tipo. Anderson foi um deles. A estupidez ambulante ousou dizer que o Sherlock era quem havia matado sua mãe e dei-lhe um soco na cara que o fez cair no chão. Perguntei se mais alguém tinha algo a dizer, porém ninguém me respondeu. Levei uma advertência, mas valeu a pena.

-Tchau, doutora Mortimer - disse Sherlock saindo do consultótio.

-Oi, Sherlock!

-John, quantas vezes falei que não precisa ficar aqui?

-E quantas vezes eu ignorei? Quer ir para onde hoje? Que tal o café novo que abriu?

Sherlock concordou e fomos até o café de mãos dadas. Não me importava mais se as pessoas estariam olhando e acho que ele também não. Sou gay com todas as letras e quero ver quem vai mudar isso. Chegamos lá e Sherlock não falava nada, continuava cabisbaixo e pensativo como sempre estava desde aquele dia.

-John, que filme é esse que está passando na TV? - Perguntou.

-Ah, é O Espelho Tem Duas Faces da Barbra Streisand. É sobre o nariz dela como todos os outros filmes da mesma - disse e ele não falou nada. - Sério, Sherlock? Eu fiz uma piada sobre a Barbra Streisand e você não riu?

-Rir? Não tenho feito isso há algum tempo e você sabe.

-Eu sei o que aconteceu, Sherlock. Eu estava lá. Mas se bem que você poderia tentar sorrir um pouquinho...

-Não, John. Ela não vai voltar e ainda não o encontraram. Fica difícil sorrir quando lembro disso.

-Tudo bem, então se esqueça de tudo por um dia. Um dia só nós dois nos divertindo e depois podemos voltar à realidade. Por favor? - Implorei fazendo biquinho. - Podemos ficar no parque que nem a Barbra está fazendo agora. Vamos, só por um dia.

-Acabamos de chegar aqui!

-E estamos indo agora. Não é um pedido.

Pegamos nossos cafés e saímos de lá com Sherlock emburrado. Andamos até o parque e percebi que todos estavam olhando para ele. Fiquei puxando assunto para ele não ver as pessoas o encarando, mas acho que não funcionou. Deitamos na grama onde não havia pessoas por perto e ficamos olhando um para o outro.

-Por que estamos aqui mesmo? - Perguntou.

-Para você esquecer de todo mundo e se divertir um pouquinho. Agora pare de ser teimoso, por favor.

-Ei, posso perguntar uma coisa? Por que você voltou a ser atencioso comigo?

-Porque eu conheci meu pai e vi que estava me tornando ele. Qualquer coisa é melhor que aquilo.

-Como assim você conheceu o seu pai? Por que você não me conta essas coisas?

Expliquei a ele o que aconteceu e ele começou a rir. Finalmente eu vi aquele sorriso lindo de novo!

-Posso te perguntar uma coisa agora? Naquela hora você ia mesmo se matar?

-Ia...

-Sherlock! Por quê?

-Porque eu não tinha mais ninguém que eu gostasse. Você estava andando com Anderson, minha mãe... você sabe o que houve com ela. É que às vezes eu sinto tanta raiva do mundo que tenho vontade de dizer "vá se foder" para cada ser humano existente.

-Então porque você não faz isso? Manda todo mundo se foder?

-John, me diga que...

-Exatamente! Eu e você andando na pracinha dizendo "vá se foder" para todo mundo que passar - disse e ele começou a rir.

-Você é louco, John Watson!

-E você me ama por isso.

Segurei a mão dele e corremos até minha casa. Não paramos de rir até chegar lá, quando tivemos que ficar em silêncio para que meus pais não nos vissem. Entramos pela porta de trás e pegamos os materiais necessários para a nossa aventura.

Sherlock subiu na bicicleta e coloquei Heroes do Bowie como trilha sonora, que combinava bastante com o momento. Quando chegamos na pracinha meu amigo segurou o megafone e fez as honras.

-VÃO SE FODEEEEER! - Gritou.

-TOMEM NO CU! - Completei.

-VOCÊ, MOCINHA QUE ESTÁ NO CHÃO, VÁ SE FODER!

-VOCÊ, MENINO QUE ESTÁ TOMANDO SORVETE, TOME NO CU!

-FODAM-SE TODOS!

-E TOMEM NO CU!

-VOCÊ, SENHORINHA QUE ESTÁ ALIMENTANDO OS POMBOS, VÁ SE FODER!

-E TOME NO CU!

-UHUL!

Nós dois demos crises de riso e tivemos que parar um pouquinho, porque senão iríamos passar mal. Paramos de rir um pouco e vimos que uma multidão de gente estava vindo atrás de nós. Trocamos olhares e comecei a pedalar bem rápido para que não nos alcançassem.

-Alguma ideia de onde ir agora, caro Holmes?

-Não sei, caro Watson. Que tal à casa do demônio, vulgo Phillip Anderson?

-Não ofenda o demônio ao compará-lo com aquela coisa! Gostei da ideia.

Pedalei até a casa do demônio e Sherlock tocou a campainha escondendo o megafone. Nós dois estávamos parecendo criancinhas de cinco anos passando trote, mas valia cada segundo.

-Sherlock Holmes? Tá fazendo o que aqui?

-Anderson?

-O quê?

-VÁ SE FODER! - Gritou ao megafone. -Corre, John. FOGE!

Ele pulou na bicicleta e pedalei o mais rápido possível. Ele não parava de rir. Sentia tanta falta daquele sorriso! Fui com a bicicleta até atrás da escola, onde estava bem escuro no momento.

-John, acho que nunca mais vou falar "vá se foder" na vida!

-Digo o mesmo. Divertiu-se?

-Tá maluco? É claro que sim! Foi o dia mais feliz da minha vida! Você é o melhor namorado de todos!

-Namorado? - Perguntei nervoso.

-É claro que sim! Achou que era o quê, besta?

Dei um passo à frente para beijá-lo e ele fez o mesmo. Foi um beijinho romântico e intenso. Estávamos tão bem, até que...

-Parados! - Gritou um homem com uma lanterna.

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