Capitulo 16 : O desabafo.

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Nick se dirigiu até a beira da porta da cozinha, se escondendo no escuro e esperou Stu sair, de algum jeito ou de outro o coelho iria passar por alí. Se encostou na parede, cruzou as pernas e, fitando o vazio, esperou Stu.
Uns 5 minutos depois ele escutou os passos de alguém e logo sentiu o cheiro de Stu.
''É...ser meio selvagem às vezes é bom. Pelo menos posso sentir o cheiro desse coelho.'' Disse Nick em seus pensamentos.
Quando viu a porta se abrindo, e Stu saindo disse antes que o coelho o visse:

-Ora, ora, ora... Então quer dizer que sou um bom rapaz mas não sirvo pra sua filha porque sou uma raposa. É isso mesmo?

Stu pulou de susto e fitou diretamente nos olhos de Nick, com medo.

-Responda, vamos! Disse Nick, o encarando de volta, fazendo o coelho se encolher de medo.

Stu se recuperou do susto. Respirou fundo e abriu o jogo:

-Sim. É por isso sim. Desde que Judy foi pra cidade eu sempre tive medo de que ela aparecece aqui com uma renca de raposinhas para o ''vovô'' aqui cuidar. Mesmo que a fecundação de um espermatozóide de uma raposa com um óvulo de uma coelha seja impossível vai saber se você tem rabo preso com um outro alguém.

Nick deu uma risadinha irônica e perguntou:

-Você acha mesmo que eu tenho 9 raposinhas com outra raposa?

Stu respondeu:

-Tenho quase certeza.

Nick sentiu o coração bater mais forte e logo seus braços começaram a tremer e suas mãos se fecharam em punho, o ódio tinha tomado conta de seu coração. Não se sabe se foi pela descarga de adrenalina ou por instinto, mas a irônica raposa que Judy conheceu em Zootopia renasceu das cinzas dentro do coração de Nick.

-Claro. Claro que tenho. Mas eu fui idiota demais para perceber que se eu me apaixonasse pela filha de um caipira meu casamento iria acabar... Stu, você tem muita sorte. Você sabe por que?

O coelho disse:

-Eu sabia... mas por que eu tenho tanta sorte?

-Simples, cara. Porque se eu não tivesse arregaçado com as minhas mãos lá no canavial, assim, pra tentar te provar que sou um macho honesto e trabalhador, eu daria uma bela surra em você. É o que você merece.

Stu se assustou e encarou Nick com cara de marrento.

-O que foi, coelho? Cara feia pra mim é fome. Quer que eu vá lá na horta buscar uma bela cenoura pra você? Eu aproveito e já lavo ela com meu sangue.

Stu virou e respondeu:

-Você cortou suas mãos porque quis. Eu não o obriguei.

Nick balançou a cabeça que não e disse:

-Que decepção.

-O que foi raposa. Não aguenta as verdades que a vida pos em seus ombros? Disse Stu, se sentindo em vantagem.

-Quem, eu? Não, eu aguento firme. Disse Nick dando uma risadinha e continuou:
-Eu aguento muito bem. O que eu não aguento é fazer tudo por uma pessoa e não receber o que mereço. Bem, de Judy eu recebi. Agora, de você...

Stu nem deu bola, apenas tirou do bolso um monte de notas de 100 e 50 dólares, por volta de uns 1500 Dólares de Zootopia, e o estendeu para Nick. Nick mais uma vez explodiu de raiva e deu um bom tapa na mão de Stu fazendo com que as notas se espatifassem no chão e falou, quase gritando.

-Se eu tivesse trabalhado apenas para você eu aceitaria essa porcaria de dinheiro. Saiba que sei me virar sózinho e não preciso me matar aqui nessa roça para conseguir uns trocados. Eu tenho emprego, tá? Saiba também que sou policial e parceiro de Judy. Sim, já fui malandro e dei golpes em muitas pessoas. Mas mudei, cara. Largei meus golpes, meus amigos e minha vida antiga por Judy, mudei para fazê-la feliz.
Essa coelha despertou o amor que estava morto no meu coração e desde então tenho me dedicado inteiro pra ela. Como ela mesmo disse eu a respeito, a amo e cuido bem dela. Melhor do que você, que sufoca todos os sonhos dela. Saiba que à poucos dias salvamos um felino que foi sequestrado por terroristas e fomos dispensados para nos esconder antes que nos atirem na cabeça. Mas antes, claro, ganhamos medalhas de honra pelo feito. Por isso viemos pra cá, pra tentar fazer você deixar a gente namorar.
Sim cara eu tenho farda, sei usar uma arma, ando com algemas na cintura e se ver você fazendo graça lá em Zootopia vou ter o gosto de te arrebentar e te jogar numa cela fria, gelada como seu coração.
Mas, na boa, acho que vou voltar para minha vida de malandro. Porque por mais que eu me esforçe, por mais que eu me dedique e por mais que eu fizer tudo pelos outros, eu vou sempre ser visto como a raposa traiçoeira não é mesmo?

Nessa hora Nick esqueçeu da dor de suas mãos e socou a parede com força, para não socar a cara de Stu. Ele estava ofegante e dava pra ver o ódio em seus olhos. Na mesma hora sua mão sangrou, jorrando sangue em suas roupas de novo. Dava pra ver também alguns outros machucados pelo corpo de Nick, todos feitos pela cana. Ele ignorou a dor e continuou:

-Olha aqui, Stu. Olha as minhas patas. Você acha que se eu estivesse tentando dar um golpe em vocês para ficar com a Judy, satisfazer meus prazeres e jogar ela fora pelo resto da minha vida, eu faria isso com minhas patas macias?

Stu olhou as patas de Nick e até passou mal. As patas estavam.extremamente cortadas à ponto de se enxergar um pouquinho de carne se mexendo na ponta do dedo anelar de sua mão esquerda. Sangue, nem precisa comentar. Se misturava ao pelo alaranjado de Nick fazendo o brilhar parecendo uma cena de filme de terror.

-Responda. Pressionou Nick.

-Não. Não, eu não acho. Eu não acredito. Respondeu Stu, buscando ar.

-Pois bem. Sou um bom garoto não sou? É uma pena que eu seja uma raposa. Disse Nick irônicamente e se retirou, mas no meio do caminho foi chamado por Stu que perguntou:

-Como escutou a conversa que tive com Judy?

Nick abriu um sorriso e disse:

-Sou uma raposa. Tenho os meus truques.

Dizendo isso sumiu no breu da fazenda indo em direção do paiol. Chegando lá ele ouviu uma voz baixinha chorando, acendeu um lampião e viu um coelhinho chorando, encolhidinho bem no fundo do paiol. Nick usou um pouco do amor que restava em seu peito para colocar a mão no ombro do coelho e perguntar:

-Por que você está aqui chorando?

Quando o coelho se virou, Nick viu que não era um coelho e sim uma coelha, Judy Hopps. Ela respondeu:

-Porque me chamo Judy e você é meu ''Romeu''. E não podemos namorar.

-Mas, não era ''Romeu e Julieta'' o nome da história? Disse Nick, tentando a consolar.

-Mesmo assim. A história de ''Romeu e Judy'' não existe
Assim como nosso amor, que não pode existir.

Nick se abaixou e abraçando Judy, com as mãos ensanguentadas, disse:

-Mas meu nome também não é Romeu. E a história de ''Nick e Judy'' pode existir sim.

-Sua esperança é imortal, é?
Perguntou Judy.

-Uma coelha esperta me disse uma vez que a esperança é a última que morre.
Respondeu Nick, enxugando as lágrimas de Judy e lambuzando o rosto dela de sangue.

Judy parou de chorar e abraçou a raposa, voltando a ter esperança.
Enquanto isso, Stu estava na cama, Bonnie dormindo ao seu lado, mas ele não dormiu aquela noite. Ele estava arrependido. A imagem das patas de Nick sangrando não saia de sua cabeça e ele também imaginava Nick fardado chutando suas costelas com a ponta do cuturno, enquanto ria maléficamente. Isso perdurou a noite toda, até o canto do galo às 6 da manhã.

Zootopia : como é grande o meu amor por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora