Ao Infinito (Romance Gay)

Mudar

Luke tinha finalmente terminado seu TCC, que tinha demorado quase três meses para ficar pronto. Ele começou a fazer faculdade de Letras há cinco anos, quando completou 19. Ele decidiu que não ia se desesperar para fazer faculdade, e ele parecia bem-disposto quando começou. O mesmo não pode ser dito dos últimos três semestres. Ele desandou desde que começou a pensar nas possibilidades que tinha para seu TCC, mas ele só queria uma coisa: que ele fosse o mais verídico possível. E de que forma ele poderia ser verídico? Contando sua própria história.

Foi exatamente no momento em que ele teve essa ideia que eu senti que um turbilhão de obstáculos começaria a nos atrapalhar como antigamente.

Luke estava no banho, e tinha deixado seu notebook ligado em cima da cama. Não era de o meu feitio ficar bisbilhotando as coisas do meu namorado, mas eu precisava saber o que ele estava escrevendo. O Word estava aberto e o título da história era um tanto peculiar. Quando li o nome do primeiro capítulo, resolvi tentar ler, mas ouvi o barulho do chuveiro desligando, então larguei o aparelho na cama no mesmo lugar em que estava, e retornei à minha posição original segurando meu celular fingindo que tudo estava normal.

Assim que a porta se abriu, Luke saiu do banheiro totalmente nu, o que me deixou um pouco envergonhado.

― Er, Luke. Tem uma toalha lá dentro.

Ele pareceu não entender o motivo da minha vergonha, mas sentia uma leve necessidade de abstinência até que ele conversasse comigo sobre o livro.

― Você já me viu nu. Várias vezes desde que mudamos para cá. Não entendi o porquê de seu comentário.

― Desculpe. ― disse enquanto fingia estar lendo uma mensagem em meu celular. ― É que você esteve tão ocupado, e eu engordei um pouco, pois deixei de ir à academia.

― Então o problema é esse? Você se sente gordo?

― Luke, não briga comigo. ― comentei calmamente e sem fazer voz de coitado, pois ele me disse milhões de vezes que aquilo o irritava.

― Não estou brigando. ― respondeu ele enquanto colocava suas roupas e normalmente como se ele soubesse que eu queria falar a respeito do livro.

O silêncio se instalou no quarto por alguns instantes, e Luke reparou que minha cara era de repreensão.

― O que foi? ― perguntou ele fazendo pose de autoritário com suas mãos na cintura. ― Quer conversar sobre alguma coisa?

― Por que não me contou sobre o livro?

― E eu preciso? É meu trabalho.

― Mas deveria me consultar, até porque o primeiro capítulo já tem meu nome nele.

― Vai problematizar isso agora? Se toca, é só uma história.

Respirei bem fundo para não me levantar e dar na cara dele. Eu também percebi nesses últimos meses, que Luke se tornou uma pessoa amarga, que adora retrucar sobre tudo que lhe caísse na telha. Se não houvesse motivos convincentes, ele se fazia de certinho até não lhe restarem argumentos.

― Esquece está legal? Você está certo, é só um livro. ― disse me levantando e dirigindo-me à porta.

― Aonde você vai?

Somente fechei a porta e andei pelo restante do apartamento, até chegar à porta principal, onde fiz questão de abrir também, e sair de casa com um possível rumo em mente.

Após andar por alguns quarteirões, cheguei a um prédio grande, de cor cinzenta, que se camuflava muito bem à noite iluminada daquele verão escaldante. Apertei o botão do apartamento 27, e esperei até ouvir uma voz familiar saindo do interfone.