Charitè (Capítulos Finais)

162 15 0
                                    

Engoli seco diversas vezes quando entramos na limusine de Greg, pois eu não me sentia mais em uma missão de descoberta tipo no desenho de Scooby Doo que eles resolviam crimes com a maior facilidade, mas nada me deu tanto medo quanto o carro, que ia na direção do hospital Charitè sem parar nos faróis. Jimmy provavelmente iria matar o Cole.

Ele pediu para que eu trocasse minha blusa antes de irmos, mas eu mantive um saco de gelo enorme no rosto, evitando assim um sangramento maior.

Para a minha surpresa, Jimmy pediu para o motorista parar o carro, e me vi de frente ao prédio em que encontrei Luke; o mesmo em que Jimmy morava.

— Vamos — disse ele abrindo a porta e saindo, esperando calmamente que eu o seguisse.

— Não íamos para o hospital? — Ousei perguntar mesmo sabendo que era arriscado.

— Quieto.

Entramos no apartamento dele sem muita demora. Ele parecia estar preocupado.

Mesmo que eu quisesse muito, eu nem me arrisquei a sentar em algum lugar. Jimmy foi direto para o quarto, e a primeira coisa que fiz foi pegar meu celular. Digitei o número de Luke e liguei para ele.

No primeiro toque, eis que escuto um barulho vindo do quarto e se aproximando aos poucos. Era Luke, com a arma de Jimmy apontada para suas costas.

— Ora ora, ia ligar para o seu namoradinho?

— O que ele está fazendo aqui? Era para você estar no hospital cuidando do Cole.

— Você não me engana Max, sei que mandou mensagem para o Luke quando peguei o vinho. Eu não sou idiota. Imagino que tenha falado algo do tipo: "Luke, tire o Cole do hospital e leve-o para um lugar seguro, pois o Jimmy está com uma arma".

Luke estava com um olhar de culpado, mas ao mesmo tempo, ele aparentava estar com medo.

— Que previsível Max. Acha mesmo que vai simplesmente sair daqui e viver uma vida linda ao lado do seu amor?

— Você já conseguiu o que queria Jimmy, deixa o Max ir embora — disse Luke virando para encará-lo.

— Consegui mesmo? Como você sabe o que eu quero, seu fedelho de merda?

— Você quer a mim. Seu irmão trouxe o Max para me tirar do seu acordo, mas não deu certo porque eu ainda estou aqui.

— Está ouvindo Max, ele quer ficar.

— Luke, você não está pensando direito — disse quase implorando para ele não fazer aquilo.

— Estou sim Max, estou pensando muito bem. Essas são as consequências dos meus atos. Você não deve pagar por nenhum deles.

— Mas eu vim aqui para te salvar.

— Desculpa Max, eu não posso ir, não quando vai arriscar a sua vida também.

— MAS EU TE AMO PORRA — gritei já furioso e sem paciência. — Nada do que aconteceu entre nós nos últimos dias valeram de alguma coisa para você? Eu vim aqui porque a gente só encontra o amor uma vez na vida. E quero que meu eterno amor seja você. Para sempre.

Meu olho já estava lacrimejando. Eu não conseguia aguentar isso. Fazia tempo que eu queria falar aquelas palavras para Luke e, agora que falei, não sei se fora o melhor momento.

— Eu também te amo Max — disse Luke chorando também. — Me desculpa por ser um babaca com você e por ter deixado a nossa relação acabar.

Ele assumiu o erro.

— Mas dessa vez — continuou. — Eu vou fazer o que é certo para salvar o amor da minha vida.

Jimmy não estava no melhor dos humores para poder dizer alguma coisa relevante, mas eu sabia que no fundo éramos só eu e ele, e que nenhum contrato poderia acabar com isso, mesmo que Jimmy continuasse apontando uma arma para nós dois.

— Vai embora Max — disse Luke. — Um dia a gente se reencontra.

Mais lágrimas caíram do meu rosto e eu me vi chorando mais uma vez. Não acreditei no homem que Luke se tornou e em como ele estava prestes a desistir da sua liberdade para me ver feliz.

Acho que essa era a questão. Eu só precisava saber no fundo se ele realmente me amava.

E ama.

Eu descobri que ele ainda me ama, e muito.

— Você não ouviu Max? Vá embora!

— Eu estou indo — disse me virando para a porta do apartamento. — Ah, uma coisa antes. Vocês dois foram convidados para a festa de amanhã.

— A gente não vai.

— Tudo que eu mais desejo é que você vá para a festa. Mesmo que não queira mudar de ideia, eu torço para que reconsidere, e vá, vai ser divertido.

Saí pela porta com um ar estranhamente triste, mas ainda mais eufórico do que eu poderia estar. Desci pelo elevador quase pulando de alegria e passei pelo saguão dando muita pinta para os funcionários.

Do lado de fora do prédio, senti aquele ar gélido de final de noite me preenchendo, e abri os braços fazendo questão de rodar alegremente por toda a escada, descendo lentamente cada degrau.

Avistei a limusine do lado de fora me esperando, e abri um sorriso enorme.

Enquanto caminhava em direção à porta pensei em tudo que Luke havia me dito, sobre como ele me amava e como estava sacrificando a sua vida para que eu não me desfizesse da minha. Nada podia ser tão romântico e poético quanto as palavras que dissemos um ao outro. Tudo que eu mais queria era poder abraçá-lo pela última vez antes que eu fechasse aquela porta atrás de mim. Mas aquilo não seria necessário. Tinha uma festa prestes a acontecer, e eu não podia me dar ao luxo de me desfocar em algo tão importante.

Assim que entrei na limusine dei uma risada tão alta, que assustou o motorista. Para minha alegria, o motorista também riu junto, e eu me senti familiarizado com o tom sarcástico da risada dele.

Olhei para o lado e peguei uma carteira marrom sem muitos detalhes nas fechaduras. Sabia exatamente de quem era aquilo, o que me fez gargalhar ainda mais. Quando finalmente parei, dei uma bela olhada no retrovisor antes de avistar Cole que tirou os óculos escuros revelando seus lindos olhos, que davam um contraste maravilhoso ao melhor terno que um chofer poderia usar.

— E aí, está pronto? — Perguntei a ele, que virou o rosto e deu um sorriso como se esperasse aquela pergunta à noite toda.

— Vamos nessa, caralho!

Ao Infinito (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora