Capítulo 8

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Minha mãe não conseguia entrar no quarto dela, ela não conseguiu vender a casa, por isso começou a fazer extras no hospital onde trabalhava.
Quando decidiu que iríamos, já tinha dinheiro suficiente para pagar um apartamento em uma área residencial na BR que levava para Mariana. Minha mãe disse que ficaria mais fácil pra eu ir para a escola, eu achava que não faria diferença, mas não falei nada. No dia de folga dela fomos ver o apartamento, ele tinha uma cozinha não muito grande, três quartos, uma sala, um banheiro e maior quarto da casa tinha uma sacada com uma vista muito bonita da cidade.
Minha mãe se agradou, do apartamento e do preço. Não queria vê-la se matando para pagar o aluguel de lá, mas também não queria vê-la dormindo no quarto do meu irmão, eu poderia arrumar um trabalho, mas ainda estava no ensino médio e não tinha um currículo muito agradável, e depois da minha história no jornal, não haveria ninguém que me contratasse para nada.

Na quinta-feira da semana seguinte ela me pediu que eu a ajudasse a arrumar as coisas para a mudança, arrumei as coisas do meu quarto. Arrumei todas as roupas e tudo o que era meu e no dia seguinte eu ajudei minha mãe com as coisas dela. Arrumamos todas as roupas dela, pegamos os perfumes e tudo o que estava na penteadeira.
Quando terminamos, ela olhou para a parte do guarda roupas que pertencia ao meu padrasto.
Ela respirou fundo e eu olhei no fundo dos olhos dela.
- Mãe, se a senhora não se sentir bem não precisa fazer isso. Eu posso terminar sozinha, ta bom?
- Não... Não, eu... Eu consigo. - ela disse tomando força.
Segurei na sua mão e abrimos o guarda roupas. Pude sentir o cheiro dele, fechei os olhos e os apertei. Não queria lembrar do desgraçado. Suspirei e senti minha pressão caindo, senti como se o tempo não estivesse passando. Fiquei um tempo com os olhos fechados, me sentindo pesada e fria.

Quando abri os olhos estava tudo ensanguentado. Franzi as sobrancelhas, eu sentia o cheiro forte do sangue podre. Olhei para as minhas mãos e vi que estava com uma faca.
Olhei ao redor e vi minha mãe me olhando assustada.
Eu estava ofegante, não queria que ela me visse daquele jeito. Mas o que havia acontecido afinal?
Ela me olhava com os olhos arregalados e eu soltei a faca, pude ouvir o "splsh" que ela fez ao cair na poça de sangue que sujava o chão de madeira da minha casa.
Levei as mãos a cabeça e me ajoelhei rogando aos céus que aquilo fosse um sonho. Comecei a chorar e minha mãe se aproximou de mim.
Era dela! Ela estava com uma facada na barriga, aquele sangue era dela. O que eu havia feito? Como pude chegar àquele ponto?
Minha própria mãe! Aquela por quem eu fui capaz de matar por amor. Eu não poderia. Eu não seria capaz.
Eu a ouvia chamar meu nome, mas não conseguia olhar para ela. Ela me pegou no colo e olhei no seus olhos. Ela não tinha olhos. Apenas um buraco de onde escorria muito sangue. Sua voz era chorosa e chamava por mim.
Toquei no rosto dela e pude sentir aquele sangue em mim, ele estava grosso e nojento, eu gritava apavorada. Aquilo não podia ser real! Tudo foi ficando escuro, mas ouvi nitidamente a risada daquele desgraçado. Era uma risada de deboche. Apaguei em seguida.

***

Abri meus olhos devagar, estava muito claro, mas eu reconhecia aquele lugar.
Eu estava em um quarto todo branquinho, estava tomando soro e tinha um cateter respiratório enfiado no meu nariz, sentia um jato de ar fazendo cócegas. Sentia também um gosto amargo na boca, como se eu tivesse dormido durante um dia inteiro. Eu ainda estava sonolenta e não lembrava como havia ido parar ali. Eu sabia que era o hospital onde minha mãe trabalhava, porque já havia dormido muitas noites ali. Quando minha mãe tinha que ir trabalhar a noite, ela me levava, eu fazia meu dever de casa, perambulava pela ala dos internados, porque minha mãe não me deixava passar de lá. Depois, minha mãe aparecia ou algum dos seus colegas trazia a janta, que era quase sempre sopa de carne. E eu ia dormir por ali mesmo, em alguma maca.
Suspirei lembrando o motivo de ela ter que me levar, ela tinha medo de me deixar com meu irmão e meu padrasto, ela não queria que nada de ruim me acontecesse, mas uma vez, eu estava dormindo, quando um garoto, do mesmo quarto em que eu estava começou a ter uma convulsão, a mãe dele estava desesperada e os medicos ficaram em volta dele. Um colega de trabalho da minha mãe me tirou dali. E eu fiquei triste, eu tinha dado meu primeiro beijo naquele garoto mais cedo, eu disse que queria que ele ficasse bom logo e ele disse que voltaria ao hospital só para me ver.
Quando minha mãe pode ir ficar comigo, eu perguntei por aquele garoto e ela me disse que ele tinha ido para casa. Mas eu sabia que ela só estava me protegendo, de novo.

Não vi quando dormi novamente, apenas me dei conta acordando.

Tentei lembrar de como havia ido parar lá, mas era como se não ouvesse nada antes.
Depois de muito esforço, lembrei de ter visto muito sangue no quarto da minha mãe.
Minha cabeça doía e um médico veio me ver.

- Eu sou o Doutor Valentin e estou cuidando de você. Como você está se sentindo, Bárbara? - O Doutor me perguntou entrando no quarto com uma prancheta na mão.
- Minha cabeça está doendo muito. - respondi. - Onde está a minha mãe?
- A sua mãe foi em casa pegar algumas roupas para você. Seu irmão está lá fora, quer que eu chame? - O Doutor Valentin tinha os cabelos ruivos avermelhados, os olhos azul claro e era alto.
- Não, eu me sinto muito cansada. Que horas são? - logo mudei de assunto, George não falava direito comigo desde o ocorrido.
- São 13:45. Bárbara, eu preciso examinar você. - ele disse como se estivesse com pressa.
- O que houve? - Assim que fecho a boca minha mãe entra no quarto com uma bolsa grande de couro marrom.
- Ah, filha! Que bom que está acordada. - minha mãe disse entrando com pressa no quarto. Me abraçou forte e me deu um beijo na testa.
- Bárbara, você desmaiou hoje de manhã, enquanto ajudava sua mãe a arrumar um guarda roupa. Você se lembra disso?
Um flash veio a minha mente. Eu estava no quarto de minha mãe e havia muito sangue, aquela risada... E depois tudo escuro.
Engoli em seco.
- Não... Não me lembro. - eu respondi tentando parecer não lembrar de nada.
- Não se preocupe, Bárbara. Não foi nada de mais. Nós fizemos um raio-x do seu cérebro e parece que está tudo normal.
- Então não foi nada neurológico? - minha mãe perguntou.
- Não, nada neurológico. Faremos um exame de sangue daqui a pouco para entendermos o motivo do desmaio. - Valentin disse para mim e para minha mãe.
Fitei aqueles olhos por um momento.
- Quanto tempo eu ainda ficarei aqui? - perguntei de forma doce.
- Isso vai depender do resultado do exame. - ele disse.
Sorri com os lábios fechados para ele
Olhei para minha mãe.
- Estou com fome. - me reclamei.
- Se me dão licença, eu vou indo. - ele disse esperando uma confirmação.
- Tudo bem. - minha mãe disse de forma simpática.
- Assim que ela se alimentar me procurem, eu preciso do seu sangue. - ele disse sorrindo e depois saiu.

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Oii! Amores! O que acharam desse capítulo???
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Estou dando um tempinho das matanças para que possamos nos recuperar. Maas vocês sabem que tem uma matéria de desaparecidos no Jornal local de Ouro Preto. Será que tem dedinho da Bárbara nessa história??

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O nome é Bárbara e a foto é a capa do livro.
Amo vocês! Beijinhos! 💙

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