Capítulo 15

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Às 08:15 tomei um banho e fui de ônibus até a minha antiga casa para ver como Lorena estava.
Assim entrei no quarto onde ela estava tirei o casaco branco que usava e coloquei luvas. Ela acordou assustada quando eu liguei a luz, sua respiração estava ofegante, talvez estivesse tendo algum pesadelo. Peguei uma tesoura e um saco plástico em cima da mesinha e fui até ela.
- Estava tendo um pesadelo? - perguntei. Ela apenas me olhou e depois abaixou a cabeça. - Ah, eu sou seu pesadelo, né? - ri da minha piadinha.

Cortei todo o seu cabelo e guardei cada mecha no saco plástico, passei a tesoura pelo seu pescoço até chegar no seu peito. Olhei para ela que estava com lágrimas pelo rosto e me olhava com raiva. Sorri.

- Sabe, eu achei que você queria aventuras na sua vida, sair da rotina... Não era isso que queria? - falei para ela com certa ironia. - Então pronto. Afinal, não é todo dia que você é torturada pela assassina da sua melhor amiga, não é!?

Ela me olhou confusa.

- Ah, é. Fui eu que matei Bruna. A torturei e matei, roubei o carro do Erick e abandonei o corpo lá dentro.

A surpresa em seu olhar estava acompanhada de lágrimas.

- E o mesmo acontecerá a você. - sorri. - Você merece. É o mundo girando e você pagando pelo que fez.

Olhei bem dentro dos olhos dela para ver bem cada sentimento ali expressado.
Não me contive e soltei uma risada gostosa.

- Fascinante. - disse - Cada expressão sua é um alimento pra mim."Conversar" - fiz aspas com os dedos - com vc é quase um monólogo se não fosse pelas suas expressões, não são palavras, são muito mais que isso. Quero apreciar suas expressões e reações.

Eu havia comprado luzes natalinas e levado para lá, tirei da sacola e da caixa.
Amarrei as mãos dela para frente e dei as luzes coloridas para ela.
- Quero que desenrosque todas essas lampadazinhas pra mim. Ou melhor, pra você. Você vai usá-las. - Sorri.
- Água... - ela me respondeu com um sussurro rouco e em seguida apertou os olhos como se sentisse dor.
- Desenrosca dez, aí eu te dou água. - falei.
Me sentei a sua frente, assistindo aos seus movimentos, anotando no caderninho das minhas anotações sobre anatomia as partes mais interessantes dos seus movimentos.
Ela havia passado por um procedimento clandestino feito em animais domesticos e estava se recuperando bem. Sua coordenação motora estava bem, seu funcionamento mental e racional também estavam funcionando.
Depois de dez lâmpadaszinhas eu dei água e um pedaço de pão que eu havia levado para ela.

- Continue fazendo. Não tente nada. Não vai adiantar, nada mais vai ser como era antes, eles vão te olhar e ver apenas a menina que foi torturada. Nunca mais vão ver você como você é. Esse rótulo será sua nova identidade. E não há nada que possa fazer você voltar a falar.

Cheguei em casa antes das 11:00, cozinhei bife acebolado ao molho branco, fiz batata frita, arroz temperado e macarrão para acompanhar. Esperei dar 12:30 para acordar minha mãe e esperar que George viesse comer.
Depois que minha mãe e eu comemos, recebi elogios pela comida e avisei que meus amigos viriam para estudarmos. Ela me ajudou a limpar e guardar tudo.
George estava na casa da namorada e não viria para o almoço.

Arrumei meu quarto escondendo meus canivetes, meus desenhos de pessoas sendo torturadas, apaguei o histórico de busca do not book e do celular reorganizei alguns livros da estante e esperei eles deitada no sofá enquanto mexia no celular.
Eu já tinha avisado na portaria do condomínio e do prédio que eles viriam, só queria saber o motivo de estarem demorando.
Quando deu 14:47 eles chegaram e desci até a portaria para levar eles até o meu apartamento.
Sadie me abraçou assim que me viu, isso era reconfortante para mim, mas também me deixava preocupada.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei baixinho para que apenas ela ouvisse.
- Não, está tudo bem - ela me respondeu no mesmo tom.
- Aí, guria! Porque tu foi inventar de morar tão longe?? - Gabriel interrompeu meu abraço com Sadie.
Adorava seu jeito alegre de ser
- Vocês vieram de ônibus? - perguntei.
- Não, minha mãe veio deixar a gente, esse guri que faz drama mesmo. - Sophia me respondeu.
Subimos para o meu apartamento e passamos direto para o quarto.

- Fiquem a vontade - eu disse pois é isso o que as pessoas dizem para as visitas.
Nos sentamos no chão porque tinha mais espaço.
- Guria, eu amei esse teu tapete! - Gabriel comentou sobre meu tapete azul escuro que cobria a maior parte do chão do quarto.
- Ah, ele é muito macio. - Sophia comentou também.
Eu sorri pois não sabia o que falar.
- Minha mãe comprou alguns tapetes pra casa toda. Ela tinha comprado esse pra ela, mas eu gostei tanto da cor que ela acabou me dando. - disse desconcertada.

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