Depois do ocorrido com meu "pai", minha mãe decidiu que eu ficaria um tempo afastada da escola, até me sentir melhor psicologicamente, - o que não fazia sentido, eu me sentia melhor do que nunca - depois de ter declarado a minha inocência por legítima defesa, um juiz também determinou que eu fizesse acompanhamento com psicólogo uma vez por semana. Eu tinha que fingir estar abalada, dizia que tinha pesadelos e a psicóloga me passava antidepressivos. Minha mãe estava de fato abalada, e ela era quem fazia as sessões de verdade. Eu ia lá e atuava, era como brincar de ser uma adolescente frágil e abalada, mas na verdade, eu não era nada daquilo, eu era forte, muito mais do que qualquer um poderia imaginar.
Minha mãe me transferiu no começo de Outubro, fui pra uma escola em Mariana, minha mãe achou que seria mais seguro ir para uma escola longe.- Como foi o seu primeiro dia de aula, Bárbara? - me perguntou a psicóloga, ela era negra dos olhos escuros, tinha os cabelos encaracolados sempre soltos, ela se vestia muito bem, sempre estava usando vestidos longos ou saias até o pé.
- Foi diferente do que esperávamos. - eu respondi. Eu gostava dela, gostava de como ela sempre me ajudava a pensar num futuro bom. Eu não tive muitos amigos e por isso aproveitava a amizade dela. Ela não sabia, mas eu gostava de brincar com ela, sempre brincávamos de "me ajude", eu era a mocinha instável e ela me ajudava a me sentir melhor antes que nossa sessão acabasse. Eu sempre deixava ela encurralada, ficava cada vez pior, até faltarem 15 minutos pra acabar, aí eu deixava ela ganhar o jogo.
- Ah, é mesmo? Quer me contar como foi? - ela gostava de mim e sempre sorria quando conseguia o que queria.
- Eu cheguei no horário normal de entrada, meu irmão foi me deixar. Então eu pedi informação na secretaria e eles me deram um papel com os meus horários e o número da minha turma. Quando eu cheguei na minha turma já tinham bastante pessoas, e eu me sentei no meio, onde tinha uma boa visão do quadro e não tinham tantas pessoas. Todos estavam em grupinhos e conversavam alto, foi como se eu não estivesse ali. Eu coloquei o fone e fiquei ouvindo música, e aí uma garota veio conversar comigo, o nome dela é Sadie e parece que já somos amigas. Ela conversou comigo, me reconheceu do jornal e disse que todos estavam falando de mim, mas eu não deveria ligar, por que logo, logo eles iriam esquecer.
- E ela tem razão, Bárbara. Você precisa ser forte e vencer essa situação de cabeça erguida. Você não teve culpa do que aconteceu, e não deve se sentir culpada. - ela disse me interrompendo. Eu sabia que não era culpada e nem me sentia culpada, mas algumas pessoas não achavam a mesma coisa.
Abaixei a cabeça e sorri como se estivesse desconcertada.
- Quer continuar me contando? - ela sugeriu.
- Sadie sentou ao meu lado e me contou sobre as pessoas e sobre os professores. - continuei depois de um momento - Ela também ficou comigo no intervalo e nas outras aulas. Quando acabou eu liguei pro meu irmão e ele foi me pegar. Foi só isso.
- Sabe, sempre vai ter pessoas que não gostam da gente. Todos nós enfrentamos essas coisas. Mas o importante é como você vai reagir. Você não pode baixar a cabeça, Bárbara. Você não pode se sentir culpada. Você não pode ligar para o que as pessoas dizem sobre você. Se elas não dizem a verdade, isso não pode te abalar, Bárbara. - ela segurou a minha mão e procurou os meus olhos. Eu olhei para ela e sorri com os lábios fechados. Ela sorrio.Foi assim que acabamos a sessão e eu fui dar uma volta enquanto minha mãe começava a sessão dela. Eu já tinha destino certo. Desde que vi a garota na praça, passei a obervá-la, no inicio, ela ia para a casa do namorado depois da escola, a casa dele ficava perto de uma cafeteria, então as vezes eu ia para lá antes que eles chegassem de carro e as vezes eu ia bem depois. Eles ficavam na casa dele cerca de uma hora e meia, depois ele ia deixá-la na casa de uma senhora. Dei uma pesquisada e descobri que aquela senhora era tia dela. Ela ficava lá até às 19:30 da noite, e depois ia para casa.
Ela morava no outro bairro, era uma longa caminhada a pé. Um dia resolvi explorar a rota a pé e voltei da sessão sozinha, disse para minha mãe que iria caminhar para pensar melhor, mas estaria com o celular e ela poderia me ligar.
Então eu descobri que não muito longe da passagem dela tinha um parquinho abandonado, totalmente tomado pelo mato. Tinha uma espécie de casinha, ela era suspensa, em um lado tinha uma escada e do outro tinha um escorrega, um escorrega que estava quebrado e a escada também estava, mas era perfeita.
Depois de muito esforço, eu consertei a escada e estava tudo perfeito.Eu estava pronta.
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Rascunho de Bárbara
Horor"Uma hora, um minuto, um segundo. Um pensamento, uma frase, uma atitude. Tudo pode mudar a vida de uma pessoa. Se você tivesse que escolher, entre matar e morrer. Você mataria? E se fosse a vida de alguém que você ama? E se fosse alguém que você fo...