Capítulo 8

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— Segunda-feira —

É uma segunda-feira. Abro a janela do quarto logo de manhã e fico apenas olhando a paisagem. Não é das mais bonitas, uma vez que a vista é para o jardim e ninguém costuma aparecer lá. Ao lado dele, há um pequeno bosque, e acho que isso intimida as pessoas. Gosto de ficar sozinha lá dentro, às vezes, só deixando a vida passar.

Seria mais fácil assim. Todos nós tentamos pegar a vida em nossas mãos, segurá-la, colocar num potinho e começar a moldar. Moldar não de acordo com suas vontades, mas de acordo com a imposição da sociedade. Sou a favor do vento, do destino. Sou a favor de ser a massinha e deixar que a vida me molde. Porque é assim que deveria ser. Mas as pessoas tentam, constantemente, mudar o fluxo. É o que eu faço também, se não quiser acabar em um hospício.

Sophia não fala comigo desde o último episódio com Bethany. A última coisa que fez foi trancar a menina no banheiro masculino do colégio. Era um plano feito por nós duas, mas não apareci. Só no meio da madrugada, quando as coisas já tinham acontecido, entrei no colégio e abri a porta. O olhar de desespero de Bethany esfaqueou meu coração. Tudo o que eu queria, naquele momento, era levar Sophia para o meio do refeitório e tirar a máscara na frente de todo mundo. Mas não adiantaria. São raros os dias em que Sophia Scott é só Sophia.

Minhas divagações são cortadas por um grito de Katherine. Saio correndo para o quarto ao lado. A garota está em frente à janela, de costas pra mim. Seu corpo, completamente tenso. Aproximo-me com medo do que pode ser. Há três pássaros mortos no parapeito da janela.

Um para cada um de nós - penso. - Scarlet, Katherine, Evan. Bobagem. Arranco o pensamento infantil de minha cabeça. Mas tenho que inseri-lo de novo quando Katherine vira os pássaros de barriga para cima um uma régua. Na barriga de cada um, há uma letra. Mas não são nossos nomes que estão ali.

Três iniciais. J. D. S.

Jacob Smith.

Dave Williams.

S...

Os dois últimos nomes. As duas últimas pessoas que a Garota do casaco vermelho matou. E ela está tentando nos dar uma dica. Avisar sobre um futuro crime.

Olho para Katherine e trocamos olhares assustados. Pego o celular dela, tremendo, e aponto a câmera para os pássaros. Mas ela o arranca da minha mão.

— Você esta louca, Scarlet? Isso são evidências. Provas.

— Exatamente por isso estou fotografando.

— Isso pode cair nas mãos erradas – me repreende.

Guardo o celular no bolso e, de repente, sei qual é o terceiro nome. Sei quem será a terceira vítima.

Sophia Scott.

Deveria gritar. Deveria correr e salvar minha amiga. Deveria lutar contra isso. Avisar Evan, correr contra o tempo. Arrancar a máscara de Scott. Mas tudo o que faço é reprimir o pensamento. Há tantos nomes com essa inicial.

E, então, por mais que meu interior grite para que eu grite, por mais que meu coração esteja dilatado, minhas mãos automaticamente fecham a janela. Meus pés me levam para meu quarto e finjo que nada daquilo aconteceu.

— Terça-feira —

Estamos caminhando juntos de volta para casa. Evan e eu. Nicholas não aparece no colégio desde o dia do depósito. Ele não é estudante e, provavelmente, nem da cidade, pois ninguém sabe de seu paradeiro. Não que eu tenha perguntado, mas se ele estiver aqui, sabe se esconder muito bem.

A Garota do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora