Capítulo 11

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Desço as escadas do sótão. Há algo que me puxa em direção ao quarto dela. Mas tenho medo de abrir a porta e entrar, ainda que todos estejam lá em baixo. Mesmo tendo a certeza de que nunca ninguém saberia. Tenho medo de entrar e lembrar-me dos bons momentos. Tenho medo de seu cheiro, de nossas memórias. Medo do que posso encontrar. Mas também tenho sede pelo desconhecido esquecido. Ignoro a porta do quarto. Digo para minha cabeça que esse não é o momento.

Desloco-me lentamente sobre os degraus, novamente. Uma avalanche de memórias toma conta da minha cabeça. Momentos em que estive com Evan. Quando não existia uma garota encapuzada fazendo justiça, quando não faziam festas com essa temática. Quando a cidade era apenas mais uma coisa pacata e nós tentávamos torná-la especial do nosso jeito meio desastrado e insano.

***

É a primeira vez que estou em frente à casa deles. Sophia está na casa de Noah e os pais foram almoçar fora. Seremos só eu e Evan pelo resto do dia. Não me orgulho de vir até aqui escondida, mas ele disse que era o único jeito. Sua mãe não é muito fã de pessoas invadindo o ambiente. É isso que sou, uma invasora.

Toco a campainha e espero por alguns minutos. Confiro o celular enquanto espero. Nenhuma mensagem. Faz alguns meses que não vejo minha irmã. Por pior que essa frase possa soar, é um alívio não ter ela ao meu lado. Evan finalmente abre a porta com um sorriso no rosto. Parece uma criança animada pra mostrar a casa pra primeira amiga do jardim de infância.

Se fôssemos dois adolescentes com hormônios à flor da pele no começo do primeiro ano, assim que ele abrisse a porta, me jogaria em seus braços. Ele me arrastaria até o quarto e faríamos o que todo mundo pensa que fazemos quando estamos sozinhos. Mas nossa amizade é a prova viva de que homem e mulher não precisam necessariamente se igualar a namoro, sexo ou amizade colorida.

— Seja bem vinda, invasora.

Faço uma menção agradecendo. Evan dá risada e me puxa pra dentro.

— Sophia disse que tem morangos na geladeira, caso a gente precise apimentar as coisas? Mas, primeiro: morango é doce. Segundo, por que todo mundo acha que a gente vai necessariamente transar?! – Sua voz, cortada entre risadas, mal chega em meu ouvido.

Estou encantada com a casa. As paredes da sala são estampadas por papéis de parede vermelho, contrastando com o piso de madeira escuro. Até mesmo as lâmpadas acompanham esse estilo. Sinto-me como se estivesse em algum daqueles filmes antigos e luxuosos.

— Scarlet – ele me chama –, todo mundo fica impressionado quando entra aqui, pois é... – sua voz soa indiferente. – Mas existem muitos problemas entre as paredes – murmura.

Mas eu escuto.

— Quer conhecer meu quarto? – ele sugere malicioso.

Mantenho a pose. Temos essa mania de ficar nos provocando, embora saibamos que nada disso vai acontecer. É uma coisa nossa, um fala aqui, outro rebate ali.

— Mais especificamente, quero conhecer a sua cama. – Mordo o lábio.

Ele não aguenta e começa a rir descontroladamente.

— Nunca mais faça isso, sério – continua rindo.

— Eu sei que fico muito sexy. – Solto o cabelo que estava preso.

— Você tinha que ver a sua cara. Tinha muito que ter filmado isso, socorro! – Ri ainda mais. – É essa a cara que você faz pros garotos que frequentam o seu quarto?

A Garota do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora