Ainda não consigo acreditar que estou indo em direção a Beacon Hills para encontrar alguma pista. Qualquer coisa. Pelo que o jornalista disse, a polícia recolheu tudo. Mas tenho quase certeza de que Ela sabia que viríamos.
— Katherine, seu celular está com internet?!
Ela assente.
— Então, procura o depoimento do senhor, preciso ver o rosto dele. E a foto dos trigêmeos também.
Em menos de um minuto, estaciono o carro em um acostamento. Ela aperta o play.
— Eu a vi – o velho diz ao fundo. Posso ver todas as suas feições. A barba a fazer, os olhos esverdeados. – Sempre me dizem que ela anda de costas. Sempre. Mas, dessa vez, juro que ela estava me encarando. Só que não consegui olhar em seus olhos. Tinha uma máscara ali. Uma máscara que cobria sua identidade.
— E por que você simplesmente não correu e a arrancou?
O homem retoma a pose. Parece até mais jovem por um instante.
— Porque eu não queria acabar como aqueles garotos. Alguém como Ela gosta de guardar sua identidade.
— Ela te ameaçou?!
E, então, ele recolhe sua bengala. Vira de costas e sai, deixando o repórter sozinho.
Em mais alguns minutos, estamos com o endereço da casa abandonada. Não demora muito para chegarmos até lá.
A estrada é de terra e, assim que descemos do carro, meu sapato fica um pouco sujo. Mas isso não tem relevância. Não sei se é coisa da minha cabeça, porém, ainda sinto o cheiro de queimado no ar. A casa está bem ali, exatamente como na televisão, aos pedaços. Mas não há nem sinal de que um dia corpos passaram por aqui.
Não há dúvidas. Entro em meio aos escombros e peço para Katherine vigiar. Ela não gosta da ideia, mas obedece. Começo retirando a madeira, contudo, não encontro nada por baixo. É só depois de muito tempo revirando e revirando e ficando completamente suja que penso em algum esconderijo secreto. Seguro cada pedaço de madeira novamente, mas, dessa vez, me certifico de que não há nenhum furo em cada uma delas. Encontro a vencedora. É um buraco bem pequeno, extremamente difícil de ser encontrado. Há um papelzinho ali.
Sabia que vocês seriam espertas o suficiente para encontrarem. Estou mais perto que podem pensar. Talvez esteja atrás de você agora mesmo.
Mas a única pessoa que está atrás de mim é Katherine. Não faria sentido.
Escuto as árvores balançando ao mesmo tempo, como se alguém estivesse ali. Imagino que seja Ela. Aí sim o bilhete teria nexo. Tudo o que faço é ficar à espreita como uma raposa e passar o bilhete para Katherine. Sinto vários calafrios intercalados. Ela pode estar nos observando agora.
— Se for você que está na floresta, por favor, saia agora. Pode se revelar pra nós. Só queremos ajudar – Katherine diz ao vento, sem nem pensar duas vezes.
Mas quem sai da floresta é um policial. Ele é alto, negro e aparenta ter quarenta anos. Sinto um medo repentino. Quero manter distância.
— Ora, se não são duas garotinhas enxeridas. – Ele olha para o papel na minha mão e o pega. – Creio que isso seja uma evidência, mocinha.
Seus olhos se arregalam quando ele lê o bilhete. Logo em seguida, nos segura pelo braço e nos leva até o carro da viatura de polícia, bem ao lado do meu. Não acredito que fui tão burra e cega de não perceber.
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A Garota do Casaco Vermelho
Misterio / SuspensoSinopse: A Garota do Casaco Vermelho é uma lenda urbana viva. Sua identidade é conhecida somente pela veste. O casaco. Ninguém sabe ao certo quem ela é, mas todos conhecem muito bem sua missão: matar aqueles que fazem mal ao mundo. Entrelaçados não...