Capítulo 4

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Acordo assustada. O quarto está escuro e não escuto nenhum barulho vindo da sala. Não encontro meu celular, ele não está na cômoda, ao lado do abajur, onde sempre o deixo. Deve ser madrugada. Penso em sair correndo para o quarto de Katherine e acordá-la, mas abandono a ideia. O silêncio denuncia seu sono. Faz muito tempo que não a vejo dormir.

Tiro as cobertas e acendo a luz. Era para ter algo na minha perna. Algum arranhão, alguma coisa. Eu tenho quase certeza. Alguém estava comigo. Alguém estava comigo e eu vi. Foi só um sonho, Scarlet. Luto contra a minha mente, mas ainda posso sentir o calor das mãos no meu tornozelo.

É quando escuto uma respiração afobada que tenho certeza não estar sozinha. Procuro o interruptor, mas desisto quando não o encontro com facilidade. Corro direto para janela e, então, vejo, por milésimos de segundo, um rosto desconhecido. Um rosto de alguém ofegante, desesperado, que sai correndo logo que as cortinas se abrem. Abro a janela.

— Ei! – grito, mas a pessoa não para.

Katherine abre a porta do quarto e eu pulo de susto.

— Por que você está gritando que nem retardada? – pergunta, curiosa.

— Volta a dormir, Katherine.

— Faz muito tempo que eu não durmo – ela murmura.

Mas eu ouvi.

— Tinha alguém aqui – digo, finalmente –, eu senti, na minha perna.

— Eu investigo e você fica assombrada. Com certeza, foi o último cara que Ela matou – responde friamente, enquanto sai do quarto.

— Nem tudo é causado por Ela.

Então, minha irmã para no meio do caminho.

— Tem razão. As piores coisas estão dentro da nossa mente.

Então, é dia. Meu celular está ali, e quando pergunto para Katherine sobre a noite anterior, ela respira aliviada. Respira aliviada, pois finalmente conseguiu dormir. Ignoro o arrepio que sobe pelo corpo. Foi um pesadelo. O pesadelo mais real que já tive, mas não significa nada.

Sou despertada dos meus pensamentos com o toque único do celular. Evan. Penso duas vezes antes de atender.

— Se for sobre Ela, eu estou desligando o telefone – interrompo-o antes mesmo de começar.

— Você diz que sua irmã e eu falamos tanto sobre isso, mas é você quem não para de pensar nela.

— Também estou desligando se for pra me insultar.

Tenho certeza de que ele está revirando os olhos do outro lado.

— Melhor desistir? – percebo a impaciência.

— Fala logo, Evan Scott.

— Com você dizendo meu nome assim, fiquei até excitado – força uma voz rouca.

— Para de me enrolar.

— Quero te pedir desculpas, na verdade – respira –, por ontem.

— Preciso me preparar pra chuva? Você nunca admite seus erros.

— Se você não parar de jogar na minha cara, fica difícil.

— Otário.

Sorrio.

— Só quero te pedir uma coisa.

Ando em direção à varanda, longe de Katherine.

— Vocês podem continuar pesquisando. Eu quero descobrir tudo tanto quanto vocês. Mas minha irmã... Parece que isso tudo é uma desculpa. Uma grande desculpa pra que ela não saia da bolha.

A Garota do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora