Capítulo 17

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Alguém tirou minha cabeça fora e colocou outra aqui. Eu não cheguei antes Dela, mas matei Sophia. Matei Jack e tantas outras pessoas. Os dois são como o início e o fim de um ciclo. Os matei diretamente, olhando em seus olhos. Fiz a justiça. Estava procurando por mim esse tempo todo. Agora sei quem sou. Não sou apenas Scarlet, sou a Garota do Casaco Vermelho. Eu sou a Garota do Casaco Vermelho.

Minha cabeça gira enquanto as peças se encaixam aos poucos. Toda a minha memória volta agora. Saía durante a madrugada sem ninguém perceber. Katherine não via, pois estava fora também, estava cumprindo seu dever no estabelecimento. Uma parte de mim sabe que a morte de todos os outros foi justa, mas e Sophia? Sophia era minha melhor amiga, apesar de tudo. Como consegui ser tão fria a ponto de sufocá-la? Como consegui me esconder? Não posso contar para ninguém. Ninguém pode saber que eu sei. Eu descobri. Eu a encontrei. Eu me encontrei.

***

Entro na cabana e vejo a boca do homem espumar. Sinto-me bem, aliviada. Menos um mal no mundo. Abaixo ao seu lado com um sorriso no rosto. Mexo em suas mãos para ver quanto tempo falta para que ele finalmente vá embora. A polícia é ineficaz. O governo o soltaria depois de alguns meses. Como ele pôde matar a mulher e quase matar os filhos? Como ele conseguiu? E não sentiu nada? Era a sua mulher. Aquela a quem jurou votos de felicidade e eternidade. Na saúde e na doença. No mundo real não existem finais felizes.

— A justiça foi feita – digo, quando finalmente seu rosto perde a cor.

***

Duas partes de mim estão em uma briga constante para ver quem vence. Mas eu não posso ser Ela. Eu sou Scarlet. A mesma Scarlet Summers. E quero levar uma vida normal. Lembro-me de Evan e como ele disse que a encontraria para matar. Se eu soubesse da história, se eu soubesse como Sophia realmente era, teria feito o mesmo? Se eu soubesse que Ela sou eu e eu sou Ela, teria agido da mesma maneira? O que a polícia faria se me encontrasse? Sou alvo de notícias. Sou alvo de obsessões. Sou alvo de um grupo de adolescentes. O que Evan faria se soubesse que quem ele deseja matar sou eu? Eu, Scarlet. Eu. Grito. Grito o mais alto que consigo, como se isso fosse espantar todos os demônios. Katherine não pode saber. Ninguém pode saber. Mas preciso de ajuda. Preciso fugir porque sei que não posso mais simplesmente ser Scarlet. Agora, sou duas. Sou uma só feita por duas metades de um imã. Ninguém pode me ouvir aqui.

Algo me leva para o antigo quarto. Algo faz com que eu abra o baú ao lado da cama. E ali estão, três pares de casacos vermelhos. Devo ter mais. Onde estão os outros? Como ninguém descobriu? Grito de novo. Sento no chão e grito. Grito pela alma que se esvaiu. Grito por todas as vezes que vi Katherine apanhando e sendo abusada. Por todas as vezes que isso aconteceu comigo. Grito em nome de todas as vidas que já foram tiradas graças a mim. Grito por Sophia e pelas minhas mãos em volta de seu pescoço. Grito por Nicholas. Grito por Evan e nossas histórias deixadas para trás. Grito por ter que abandonar tudo e não seguir o ciclo da sociedade. Grito porque tenho que fugir. Grito porque, agora que sei, não sei se devo continuar. Não sei qual deve ser meu próximo passo. Grito pelos pássaros que eu mesma coloquei na janela. Eu tentei me alertar tantas vezes. Scarlet sabe. Eu sei. Eu sei. Eu sei. Grito pela morte de Jack. Grito pelas mãos trêmulas e pela impotência de Jessica. Grito por tudo o que se perdeu quando Katherine e eu ainda fazíamos tranças no cabelo da outra. Grito. Grito como nunca gritei antes e deixo que as lágrimas desçam novamente. Grito por Bethany e todas as vezes que ela sofreu. Grito por Noah. Grito pelas festas, as vezes em que me senti normal por algumas horas. Grito por todos os gritos de Katherine e por não ter conseguido salvá-la a tempo. E, então, sorrio. Sorrio porque eu sou a Garota do casaco vermelho e posso tirar a vida de cada responsável pelo sofrimento da minha irmã. E grito. Grito pelo sangue do meu pai em meu casaco. Grito por sua amante, a qual nunca saberei o nome. E, então, silêncio. Silêncio.

E mais silêncio.

Estou sozinha.

Sei para quem posso contar. Sei quem pode me ajudar a fugir, por mais que queira negar. Ele é o único tão doente quanto eu. Ele é o único que não pode me julgar, pois também abriu a porta para que a escuridão entrasse. Preciso pegar minhas coisas. Preciso encontrar Nicholas e sumir. Dar adeus à vida que sempre pensei que teria, aquela que sempre condenei, e seguir outro caminho. O caminho da justiça. O caminho de uma fugitiva. O caminho de uma adolescente com os ombros pesados e um tanto de sangue nas mãos.

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E aí, justiceiros? Prontos para a Parte 2?

Vocês podem esperar por muito mais sangue e conflitos existenciais, problemas psicológicos e traumas. É uma parte mais intensa, mas ainda assim com o mesmo fundo adolescente pra não perder essa pitadinha mais leve. Vocês vão gostar muito. Preparem-se <3

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A Garota do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora