CAPÍTULO 2. PARTE (2)

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Meus olhos ardem querendo chorar, mas preciso ser forte, não posso deixar ninguém me ver chorar, não por uma coisa fútil como essa. Me recomponho, seguro algumas partes importantes do notebook e olho para o céu novamente atrás de respostas que não vêm.       

    Cleuduarda insiste na sua permanência no meu quarto, sentada na minha cama com um sorriso sarcástico. — Amanhã você compra outro notebook. O importante, minha filha, é você perceber que precisa me obedecer. — Por um momento penso na possibilidade de ela estar realmente preocupada comigo, mas logo em seguida desfaço essa conclusão.— Sério? Você vai ficar comigo? Mamãe, me promete que nunca mais vai me deixar? Por favor? Eu te amo, mamãe! — ironizo com os olhos cheios de lágrimas. A revolta que estava guardada em meu peito se revela, mostrando o quanto eu sou frágil. — Eu te odeio! — esbravejo trêmula. Sinto um aperto no peito, fico sufocada. — Eu sou sua mãe! — ecoa Cleuduarda ao se levantar da cama, descrente. Dou de ombros. — Ketherine, você é cruel! Certamente você esperava uma mãe perfeita, mas para sua desilusão encontrou-se comigo. Seu pai queria que nós ficássemos juntas por um motivo. — O tom é neutro, mas alguma coisa na voz me faz olhar para o lado. — Terminou o discurso? — pergunto desolada por dentro. — Amanhã você compra outro computador. — Pessoas não são como objetos que você pode quebrá-los e depois consertá-los ou até mesmo comprar novos. — hesito ao me afastar da porta. Olho para o outro lado enquanto Cleuduarda anda para o seu quarto no final do corredor e rapidamente bato a porta em suas costas. Coloco o notebook em cima da mesa e caminho até a janela, de onde assisto a uma cena muito bonita de um pai passeando com a sua pequena filha. Me retiro discretamente da janela e vou para o banho. Ao sair do banheiro, depois de uma ducha fria, me visto com o uniforme de trabalho de meu pai, o mesmo que ele usava sempre. Apesar de ficar como um vestido em mim, me sinto confortável todas as vezes que o uso. Pego o meu diário embaixo do travesseiro e a caneta em cima da escrivaninha. Jogo meus cabelos para trás das costas e começo a escrever.

— Eu escrevo esse diário porque fiz uma promessa. Pai, ainda consigo me lembrar do senhor, apesar de parecer que você era apenas alguém que eu costumava conhecer. Dói tentar sonhar contigo e não conseguir definir o seu rosto. Você disse que seria fácil viver com minha mãe, mas não é. Eu não a conheço, ela é como se fosse uma estranha na minha história. — Assim que termino de escrever, coloco o diário de volta no lugar e olho para janela, observando as estrelas que pareciam mais felizes do que eu. Eu só queria que tudo fosse um sonho, que eu pudesse abrir os meus olhos e ver o meu pai assistindo à TV no sofá. Eu amava assistir futebol com ele. Depois de tantos pensamentos longos, volto para a cama e rapidamente muitas lágrimas aparecem em meus olhos. Me retorço embaixo dos cobertores esperando que tudo melhore amanhã ou que seja diferente. Essa dor não consegue sair de mim com um sorriso falso, porém preciso escondê-la. As lágrimas colam meus cílios um no outro, e assim pego no sono depois de algumas horas de murmurações. 

Abro os olhos e me levanto da cama. Minha mãe não me gritou hoje, sinal de sorte. Ou seria azar? — Eu tô atrasada. Que saco! — resmungo comigo mesma. Me arrumo apressada, visto uma calça jeans escura e uma camiseta branca de banda enquanto por cima meu casaco de pano comum cinza finaliza o look. Tento fazer um rabo de cavalo, mas não funciona comigo por causa do grande volume de cabelo, então resolvo deixá-los soltos. Abro a porta do meu quarto, dando de cara com o corredor silencioso. O quarto de Cleuduarda está com a porta trancada, transparecendo sua ausência. Corro rapidamente até a cozinha, pego um litro de leite e o pote de biscoitos para deixar meu dia mais feliz.

Recebo uma mensagem no celular e leio que Saianara pegou carona com sua nova amiga de sala. Deixo-o sobre a mesa e pego o notebook para colocar no porta-malas do carro. Quando volto, pego a bolsa com a comida e parto pra acelerar o motor em direção à faculdade.

— Certeza de que tô atrasada. — digo com os dedos cerrados no volante. Saianara certamente está brava comigo, pois eu a havia deixado na mão na noite passada. Eu não queria ir a uma noite de cumprimentos, isso era patético. Acelero o carro pensando no que eu poderia enfrentar hoje, só sabia que precisava ser forte acima de tudo. Eu teria que enfrentar o Adriano, o que sinceramente estava sendo a coisa mais fácil em minha vida. 

 A estrada é bastante larga, o que dá conforto para o meu carro dançar de acordo com a música que toca na rádio. Sorrio ao olhar para o lado esquerdo, de onde Lulu me cumprimenta fazendo um sinal ofensivo com o seu dedo médio. Respondo à altura, devolvendo o dedo com um sorriso simpático de quem dava bom-dia. Os cabelos dela parecem artificiais de tão brancos, num penteado que formava um coque perfeito. Ela admira seu gramado com orgulho. Sua casa tem uma beleza bem natural por causa das plantas e árvores no jardim. Nesse instante, me pergunto onde estaria a família dessa senhora. Onde está seu esposo? E seus filhos? Isso se tivesse. Ela transparece tanta vida que até é difícil acreditar que uma senhorinha tão fofa como ela possa cometer um ato tão feio. Eu seria idêntica a ela quando fosse mais velha. 

  Quando chego à faculdade, estaciono o carro no mesmo lugar de sempre, um espaço mais solitário. Espero que dessa vez Duki possa ficar em paz. Desço do carro procurando o meu celular nos bolsos e me lembro de ter o esquecido em casa na hora de pegar as minhas coisas.— Agora posso me mutilar! Hoje tudo será mais longo. — bufo decepcionada comigo mesma. Caminho desesperada à procura da minha sala. O corredor está vazio, tornando qualquer eco do meu suspiro dramático um alarme. A única coisa que penso é na bronca que provavelmente vou receber. Viro à esquerda com passos ligeiros e recebo um encontrão que leva todos os meus materiais ao chão. Me curvo para ajuntá-los na minha bolsa e sinto falta do meu caderno de anotações. Ao procurar, percebo a presença de uma pessoa, que me faz rapidamente me recompor. — Posso ajudar? — Adriano pegando o caderno e o rasgando em duas partes. — Sério isso? — Escondo uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Ketherine, no fim você vai embora! — O sorriso largo de Adriano faz aquela cena parecer aterrorizante. — Então faça melhor que isso. — Olhares desafiadores são lançados de ambas as partes. Dou um passo para trás, não para fugir da briga, mas para desviar dele e ir procurar minha sala imediatamente. Olho por cima do ombro de Adriano com dificuldades pelo meu tamanho e vejo que o corredor continua vazio. Como ele está fora de sala em horário de aula? Seu casaco jeans escuro o faz parecer um mocinho, mas sempre existem dois tipos de mocinhos. No caso dele, é o mocinho que levava a garota inocente para o mau caminho. 

Adriano segura meus pulsos, apertando-os com muita firmeza. Consigo sentir seu rancor pela maneira como me aperta. Ele me puxa para o lado, me encurralando contra os armários dos alunos, e solta meus pulsos doloridos. Seu antebraço aperta a minha garganta, dificultando minha respiração. Luto contra ele, mas acabo não tendo um bom desempenho. O único jeito é olhar nos seus olhos em busca de alguma outra saída. — Eu quero o meu carro consertado hoje tarde. — ordena ele, vermelho de tanta raiva. — Eu não vou consertar nada. — Seguro seu braço com minhas duas mãos tentando me soltar.  

    Adriano é bem forte para um cara tão estúpido como ele. — Ketherine, não estou brincando. — Ele bate com a sua outra mão livre na porta do armário próximo ao meu rosto. — Adriano, também não estou. — falo cada palavra quase sem forças para pronunciar. Minhas pernas não conseguem se mexer, sinto as minhas vistas ficarem escuras. Ele solta o meu pescoço e se distancia de mim com um sorriso sombrio enquanto tusso tentando recuperar o ar que me falta. — Você é uma garota bem corajosa. — diz erguendo sua sobrancelha esquerda.— Você que é um garoto bem briguento. — Ambos sorrimos. Sinto um pouco de desconforto na voz ao falar e acaricio a garganta para que eu possa me sentir melhor. — Preciso ir para minha sala. — digo me afastando. Desvio dele para ir para a aula enquanto Adriano fica atrás de mim me olhando com os seus pensamentos enigmáticos.


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CONTINUA...

OBRIGADO POR TUDO!

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