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Assim que vejo o carro de Cleuduarda estacionado na frente da garagem, percebo que ela já está em casa.
Entro e me sento no sofá, mas logo me deito olhando para o teto. Minha mãe aparece sobre a minha cabeça com um olhar triste e logo depois se senta no outro sofá.
Ops, parece que vou ter um problema. Nessas horas me lembro das minhas boas ações e me pergunto se mereço isso.
— Você foi expulsa de uma faculdade. — O olhar de Cleuduarda me deixa um pouco nervosa. Não por medo, e sim porque não consigo vê-la como uma mãe. Isso me irrita.
— Eu não tive culpa. — tento me explicar, mas ela não liga, porque para ela sempre será minha culpa.
— Você vai começar a fazer faculdade com o Nicolas e vai sair daquele curso idiota. — Ela se levanta do sofá com um olhar autoritário. Elevo o tom da minha voz e me recuso a sair do curso. Aquele é o meu sonho, o sonho que eu havia construído com o meu pai.
— Você está presa em um sonho do seu pai, e não seu. Existe uma grande diferença em fazer um curso que você gosta de praticar e outro que literalmente irá definir sua vida toda e a sua carreira. — Cleuduarda vai até mim e segura nos meus ombros. Eu me afasto para trás, me sinto revoltada de várias formas possíveis.— Você não me conhece, nunca me conheceu. Eu vou realizar o sonho do meu pai. — Eu não quero saber a opinião dela. O importante é o que eu acho.
E o pior de tudo é que penso igual a ela, mas não tenho coragem de enfrentar isso e seguir em frente. É como se eu estivesse esquecendo o meu pai ou me desfazendo dele como um objeto.
Subo para o meu quarto esperando que minha cabeça pare de pensar, como se isso fosse possível depois do dia crítico de hoje.
Estou pela primeira vez em frente a um problema que não consigo consertar. Vou até a janela e a abro, revelando a noite próxima. Deixo uma lágrima escorrer e percebo que pela primeira vez Cleuduarda tem razão, não posso viver um sonho do meu pai. Não podemos viver sonhos de ninguém.
Por mais que seja duro desistir disso, preciso seguir sem medo, pronta para enfrentar os meus verdadeiros objetivos.Pego minha bolsa no chão e de lá tiro o papel com o discurso que eu havia ganhado do Sr. João no curso de mecânica. Pego a carta e a beijo. Acendo uma vela que está dentro da gaveta do guarda-roupa justamente com o isqueiro que havia comprado para explodir o carro de Adriano.
Com a vela já acesa, vou até a janela e coloco-a para o lado de fora. Um ar fresco passa sobre minhas mãos. Pego o papel, dou um último beijo e logo depois o coloco na vela. A carta começa a queimar e, por fim, as cinzas são levadas pelo ar.
Não quero descobrir nada, não quero me desfazer de tantas coisas. Preciso ser forte e aguentar firme. Meu coração parece discordar de tudo que luto para manter em minha mente.
O ar fresco que percorre a minha pele também entra em meus cabelos. Sorrio com um enorme medo de chorar. Há uma lenda da qual gosto muito. Se você perdeu alguém e acabou não falando o que devia quando essa pessoa estava ao seu lado, apenas acenda uma vela, escreva em um papel o que você queria ter dito e o queime na vela, deixando o ar levar as cinzas para a pessoa. Se isso funciona? Não sei. Mas pelo menos você se sente mais aliviado por ter desabafado de alguma forma.
— Sorria! O mundo está filmando você. — penso em voz alta, me lembrando do meu pai quando era noite e ele andava até o meu quarto para ver se estava tudo bem comigo.
Meu pai era tão único que me fazia realmente querer voltar ao passado. Eu não escreveria uma história diferente, no entanto mudaria algumas falas. O meu muito famoso "deixa pra lá" é realmente o meu fantasma.
Eu me afasto da janela e pego um papel para escrever uma nova carta para o meu pai. Assim eu poderia levá-la amanhã em seu túmulo.
Meu celular começa a vibrar dentro do meu bolso, o que me faz pegá-lo sem pensar duas vezes para saber quem é.— Noah. — sussurro recusando a chamada. Não quero conversar ou tentar ter um diálogo de perguntas dele para mim, sinceramente não estou a fim.
Vou até o meu guarda-roupa e me encosto na porta, onde Suzana havia me encurralado. Ainda dá para imaginar a cena. Sinto muita saudade de Suzana como também sinto de Saianara. Já faz três dias que não a vejo. É tão difícil assumir qualquer erro em uma situação tão crítica. Eu havia errado com a Saianara, precisava conversar com ela, que sempre foi bacana comigo. O único problema é que eu sempre fui muito independente, ao contrário dela.
Deito-me e logo em seguida pego no sono olhando para a parede onde está escrito "Saianara e Ketherine". Pela primeira vez percebo o tanto que uma amizade faz falta. Estou precisando até mesmo de um abraço. É tão estranho para mim e ao mesmo tempo tão familiar.
Eu me viro para o outro lado e fecho os meus olhos entrando no sono de uma só vez. Abro os olhos e me levanto da cama com muita saudade de alguém que não consigo definir quem é.
— Hoje vou vestir um lindo vestido. — Começo a sorrir assim que aquelas palavras saem da minha boca e percebo que não vou fazer isso.— Nada contra.Visto minhas roupas de sempre e vou até a cozinha. Como hoje é sábado, minha mãe não irá trabalhar. Cleuduarda toma o seu café alegre, o que me faz sentir vontade de vomitar.
— Preciso sair. — Meus braços estão cruzados, minha feição nada feliz.
— O Duki está quebrado. — Uma hesitação em forma de alívio.— Sua forma de pedir um favor é totalmente inexplicável. — Ela segura sua xícara com uma delicadeza quase irritante, e acima de tudo o seu sorriso se comunica disfarçadamente.— Não força! — Descruzo os braços ainda olhando dentro dos olhos dela, mesmo que de certa forma seja difícil por causa da xícara.
— Cuide bem do meu carro. — Uma olhada fria de lado e um sorriso amarelo vindo diretamente de mim.
Saio de casa e vou até a garagem. Assim que a abro, percebo que Duki está lá dentro. Acho estranho, mas prefiro ficar calada e fazer de conta que está tudo certo, melhor dizendo, que nada tinha acontecido.
Certamente Cleuduarda esconde algo de mim e não aceita que eu descubra ou tente saber. Ela não é a grande vilã, é somente um eu perdido no futuro.Entro no carro e acelero indo em direção ao cemitério onde o meu pai havia sido enterrado. Preciso conversar e me expressar de alguma maneira, e só posso conseguir isso com a única pessoa que me deixa ser fraca, demonstrar sentimentos.
Saber que essa pessoa já havia me abandonado há algum tempo me irrita, porém me deixa mais forte e muito mais independente. Meu pai tinha sido a pessoa mais importante na minha vida, a pessoa por trás da metade da dor que há em mim. Uma dor que me mostra a realidade sobre a felicidade e que me faz enxergar o mundo preto e branco que existe disfarçado com cores artificiais, que facilmente são apagadas por pequenas borrachas.
Assim que estaciono o carro na frente do cemitério, desço sem pensar duas vezes e vou caminhando até o túmulo do meu pai. Aproximo-me e fico de joelhos dobrados, olhando para a lápide dele com sua foto sorridente. Seus olhos pareciam não conhecer a maldade do mundo.
— Pai, eu tenho um discurso para o senhor. — As lágrimas gritam dentro de mim. Preciso ser forte.
— Está sendo muito difícil sem o senhor, porém eu sou guerreira e guerreiros nunca desistem. Não posso desistir de viver, eu quero me sentir de verdade. Pai, eu tenho medo de me aproximar das pessoas e elas me fazerem feliz por um instante e logo depois me deixarem, como o senhor. Não posso sobreviver a dois tombos tão altos. Um adeus! Hoje entendo o senhor, você nunca me abandonou, na verdade sempre esteve comigo. Hoje estou feliz de verdade. É como se eu tivesse realmente crescido, não só como mulher, mas também como pessoa. Obrigada! — Passo a mão esquerda sobre as flores que estão enfeitando o túmulo, a cada acariciada me sinto cada vez mais confortada.O ar está fresco e as flores estão geladas com as suas pétalas parecendo seda. Pego uma tesoura na minha bolsa a fim de cortar uma mecha do meu cabelo ruivo e colocar em cima do túmulo. Nunca havia mexido no corte ou comprimento do meu cabelo depois da morte do meu pai, porque só ele podia cortá-lo. Uma lágrima escorre e para no queixo. Com uma delicadeza bruta, passo a mão para enxugar e em seguida vou embora. Um vento forte bate sobre mim, me fazendo sorrir e parar de andar por alguns segundos. Assim que me sinto completa, volto a caminhar em pequenos passos.
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OBRIGADO POR VOCÊ TER LIDO ESSE CAPÍTULO.
EU AMEI ESSE CAPÍTULO ❤️. O QUE VOCÊS ACHARAM?
❤️❤️❤️❤️😍😭
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UM ROMANCE POR ACASO.
RomanceUM ROMANCE POR ACASO. A garota de cabelos ruivos. Ketherine. Uma garota impulsiva e autoconfiante, uma jovem lutando em segredo para ser amada. Descobrir a sua verdadeira historia seria a pior parte depois do luto. Agora ela terá que lidar...