CAPÍTULO 5. PARTE (3)

64 24 36
                                    

♡_____¤¤_____¤¤¤______¤¤¤¤_____♡

ALERTA DE GATILHO

Chega a festa na faculdade, após a saída de Ketherine.

Miguel dança pulando de um lado para o outro. Há um grupinho de garotos e garotas que olham para ele como se fosse uma aberração, colocando-o para baixo com piadinhas desagradáveis.

Miguel percebe as brincadeiras de mau gosto dos colegas e prefere se afastar para não causar problemas maiores. Mesmo estando drogado e bêbado, sua consciência está no lugar. Ele sobe as escadas, indo parar em um corredor com vários jogos de luzes rosas e verdes que o fazem se sentir tonto. Quando encosta na parede para não cair, percebe várias pessoas se agarrando, até mesmo fazendo sexo, encostados nas paredes coloridas dos quartos de portas fechadas. Um garoto aparece segurando na mão de Miguel, que tenta se soltar, mas é puxado para dentro de um quarto e preso na parede pelo pescoço magro.

- Me solta! - Miguel tenta lutar querendo se soltar dos braços do garoto.

- Você quer isso? Você pensa que me engana! - sussurra o garoto na orelha de Miguel que vai se ajoelhando, escorrendo as suas costas pela parede. O garoto desabotoa a calça, coloca o membro para fora e o entrega nas mãos de Miguel, que o coloca na boca. A luz do quarto escuro acende, revelando várias pessoas que gritam apelidos agressivos para machucar Miguel. Ele se levanta chorando enquanto o garoto se afasta abotoando a calça jeans e se juntando com os seus colegas que continuam a gritar. Miguel se afasta para trás tentando sair, mas Jasmyne aparece com um celular na mão mostrando o vídeo que ela havia filmado.

- Por que você fez isso? - Miguel arranca o celular das mãos de Jasmyne e o joga no chão com toda força, fazendo com que se parta em pedaços.

- Você faz o BO e eu sou a culpada? - Jasmyne sorri ao olhar para Miguel transtornado.

Um garoto moreno com um físico bem forte sai do meio do grupo e agride o rosto de Miguel com um soco que o derruba no chão com o nariz sangrando. Demi entra no meio da briga afastando o garoto para trás, porém Miguel se levanta e sai correndo do quarto. Sua mente parece o enganar com algumas risadas, como se todos na festa estivessem rindo dele. Vários clarões se destacam com apelidos o chamando de fraco. Ele tentava sorrir, mas não conseguia. Suas lágrimas logo tomam conta e a dor aprofunda em sua alma.

Miguel entra no seu carro desesperado, pois sua visão está fora de controle projetando coisas irreais. Ele chega em casa e aparentemente seus pais estão dormindo. Tudo que queria era vê-los esperando preocupados com ele, oferecendo um grande abraço. Uma casa simples, nada de muito luxo a se considerar. Ele olha para as fotografias penduradas nas paredes e se lembra dos preconceitos que sempre sofreu na escola desde novo. O sangue escorrendo do nariz faz tudo ficar mais forte. Miguel vai até a cozinha sem acender as luzes, abrindo caminho na escuridão. Ele pega uma faca dentro da gaveta e coloca em sua barriga, mas logo percebe que não irá conseguir se matar, então se afasta e colocando a faca de volta no lugar.

- Eles conseguiram tirar sangue de mim. Por que eu não consigo? - sussurra na escuridão se sentido um fracassado. Sua mãe desce as escadas e vai até a cozinha para pegar um copo com água para beber.

- Menino, o que você quer nessa escuridão? Vai dormir - ela fala de um jeito arrogante, enquanto ele luta para segurar as lágrimas. Ele se lembra do último abraço que havia recebido de sua mãe, quando tinha cinco anos de idade. Desde então, tenta sempre chamar a atenção dela, mas o máximo que ganha é uma surra.

Miguel sobe para o seu quarto preparado para se matar, mas não quer cometer suicídio enquanto está drogado para as pessoas não falarem que morreu por causa das drogas. Ele quer deixar bem claro a sua morte, por isso pega um papel e uma caneta e começa a escrever uma carta para os pais.

Oi, pai. Oi, mãe. Se vocês estiverem lendo essa carta é porque já estarão aliviados pela minha morte. Eu já dei o que vocês mais queriam: um filho perfeito. Terminei os estudos para vocês sentirem orgulho de mim. Nunca esqueci os seus aniversários e sempre estive ao lado de vocês para se sentirem felizes. Fiz minha faculdade e terminei. E agora pela primeira vez vou fazer uma coisa que não preciso consultá-los. Ser gay é difícil, é duro, mas o que eu posso fazer? Desculpe pela vergonha ou por qualquer coisa que fiz. Eu queria ser hétero para agradar vocês, mas não consegui. Eu falhei, me perdoe! Orei a Deus, supliquei que ele me fizesse deixar de enxergar, pedi a ele para me matar caso não fosse capaz de me curar. Todas as noites antes de dormir me ajoelhava e clamava por qualquer mudança. Nunca fui ouvido. Por muito tempo enquanto gritava por ajuda, me condenei por cada coisa que não acontecia da forma correta.                      Pai, você sempre foi tão duro comigo! Por quê? Eu era seu filho, eu amava o senhor, eu me sentia mal quando você me olhava com aquele olhar de desconhecido. Eu me sentia uma lágrima no oceano, totalmente perdido.                                                                                                                                   Mãe, por que você não me beijou? Por que você não me abraçou? Eu te amava. Eu queria ver o seu sorriso acima de tudo, e quando nós discutíamos você me machucava mais com as palavras do que com o cinto. Mãe, espero receber um ultimo beijo, por favor! Eu amo vocês dois, mas não posso mudar o que sou ou tentar mudar os pensamentos das pessoas. Pela primeira vez me sinto feliz. Eu só precisava de carinho. Eu sempre chorava ao ir dormir por não conseguir segurar a atenção de vocês. Pensei que eu pudesse ser forte, mas isso está me matando. Só queria que vocês dissessem que o que eu era bastava...

Dois dias se passam após a festa. Já está de noite quando Miguel entra no seu carro e acelera o motor. Seu destino é uma estrada por onde passam bastante automóveis. Ele desce do carro, olha para todos os outros veículos que vão e vêm na rodovia e depois olha para si mesmo com um olhar complacente.

- Eu ganhei o mundo para sonhar e realizar os meus sonhos. Eu só precisava de alguém para me mostrar o que eu poderia ser. Eu fiz de tudo para sobreviver, mas acabei errando quando tive que acreditar em mim mesmo. Eu não consegui. - sussurra caminhando para frente dos carros. Essas são as suas últimas palavras, antes de se jogar na frente de um carro em alta velocidade na estrada escura. Pela primeira vez Miguel sente o coração bater de verdade, seus pensamentos já não o machucam mais como antes. Um pequeno filme de momentos felizes passa em sua mente, lembrando-lhe de tudo aquilo que está deixando para trás. Ele está livre, fora daquela realidade cruel na qual era obrigado a sobreviver.

Depois de alguns segundos no ar por causa do impacto, ele sai da câmera lenta que é a morte e conforta a cabeça sobre o asfalto gelado. Seu coração para de uma vez só, como uma canção em suas últimas batidas. O fim havia começado naquele instante. 

Família, uma bênção, porem uma maldição. Rapidamente a pista concentra os curiosos que descem dos seus carros, não para ajudar, mas para descobrir o que de fato está acontecendo e chegarem em suas casas contando a notícia para suas famílias, como se aquilo nunca pudesse acontecer com alguém próximo a eles ou até com eles mesmos.


______♡♡♡♡____¤¤¤____☆☆☆____


------😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢

CONTÍNUA...

OBRIGADO!

UM ROMANCE POR ACASO.Onde histórias criam vida. Descubra agora