UM ROMANCE POR ACASO

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Desço as escadas da minha casa com o capacete vermelho que ganhei no curso de mecânica. Também tenho umas luvas azuis caso precise sujar as mãos com o óleo do motor.

Hoje é o dia da grande arrumação do Duki. Quero ser uma moça independente de novo. Quando saio de casa, uma surpresa: minha mãe conversa com Noah, ambos encostados no meu carro.
— Vou arrumar meu carro, e é melhor vocês saírem de perto. — Eu me curvo para pegar uma chave de fenda jogada no gramado.
   Com toda a certeza Noah já havia confirmado meu número de celular com Cleuduarda. A essa altura ele pode já estar chateado comigo.
— Eu quero ajudar! — Seu sorriso aberto mostra que ele está bem animado. Eu não esperava tamanha reação. — Eu havia prometido, então não posso me afastar. — Troco olhares com minha mãe e a vejo sorrindo e batendo na lataria do Duki, que já está do lado de fora da garagem.

— Vou arrumar o Duki com um garoto que não sabe a diferença entre um problema de gasolina e um problema de motor e uma mulher que odiava o meu carro algumas semanas atrás? — Ambos ficam calados, Noah com as mãos no bolso da calça e minha mãe sorrindo como se não tivesse entendido os meus argumentos.
É difícil não achar engraçada uma situação dessas. Olho para todos buscando uma resposta que me force a aceitar aquela ajuda. Consigo perceber nesse período o quanto gosto do Noah. Ele é um cara bacana, porém muito... Nunca consigo encontrar as palavras certas para o elogiar.
— Vamos nessa! — Agora nós três sorrimos um para o outro. O clima frio ajuda. Na rua não há ninguém, apenas alguns carros que passam em direção às suas casas. Observo tudo com um grande sorriso nos lábios enquanto Noah não disfarça os seus olhares curiosos sobre mim.
— Noah, vem me ajudar. — chamo já sabendo que minha mãe vai me lançar um olhar maldoso.

— Me passa o macaco, por favor.

— Macaco? — Seu rosto mostra que ele não sabe o que é esse objeto.

— Como um macaco pode ajudar na arrumação do carro?

— Tá vendo esse negócio aí perto do seu pé? Isso é um macaco! — Assim que se inclina para pegar, me aproximo dele.

Ele me entrega se sentindo envergonhado, mas, antes mesmo que possa se explicar, eu me abaixo para trocar os pneus já bem gastos. Aproveito os pneus que eu havia trazido da casa do meu pai para serem usados no Duki.

Minha mãe parece ter gostado do Noah, sempre o exaltando quando ele faz alguma descoberta sobre o carro ou alguma brincadeira sem graça sobre mim. Ele está bastante suado, afinal carregou todos os pneus para fora da garagem, onde ficaria mais fácil pra mim.

Ele conversa com minha mãe como se fosse um filho. Eu gosto do jeito dele de ser, o único problema é que não consigo entender os meus sentimentos. Mentira, eu já sei. — Terminamos. — informo me afastando do carro e olhando para o lado esquerdo onde minha mãe está sentada com Noah no gramado comendo pipoca.

Os dois parecem bem íntimos, o que me faz sentir um pouco de raiva dos dois. Não diria ciúmes, porém fico um pouco revoltada com aquela aproximação. — Acho que preciso ir. — Noah se levanta do gramado e se despede de Cleuduarda com um abraço e um beijo no rosto.

— Ketherine, leve o garoto até a casa dele. — Minha mãe entra em casa se despedindo de nós dois. O carro está pronto, e eu estou muito feliz por isso, faz um bom tempo que eu não ando mais com ele.
— Eu não posso. Sinto muito! — digo sorrindo de lado e entrando no meu carro para me se sentir a dona dele novamente.

Olho pelo retrovisor externo percebendo que Noah já está na estrada caminhando com os braços abertos. Ele é bacana e havia me ajudado. Ainda por cima, estou sentindo algo por ele que não consigo explicar direito, algo que me faz pensar muito.

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