(Condessa Drakul) - De Volta As Origens

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Desembarquei em Bucareste a capital da Romênia numa tarde nublada de sexta, já não bastasse a manhã nevoenta de Londres aturei mais uma chegada de tarde brusca ameaçando chover o dia todo, o que deixou meu humor meio azedo. Quero dizer, bastante azedo...

- Com a testa nebulosa desse jeito não vai curtir a viagem! – dizia meu professor durante uma chamada de vídeo que fiz.

- Estou chateada é só isso.

- O clima acentua o mistério, não acha?

Olhei para o céu daquela cidade cinzenta, uma copia meio forçada de Londres, mas com um toque soviético muito forte.

- As pessoas parecem robôs. – resmunguei.

- Desfaça a mala e vá tomar um banho, jante, e curta a vida... Seu mal é fome. – ele desligou.

Aceitei o conselho e fui para o hotel.

Já na recepção senti um impacto gigantesco de fuso horário e costume... 

Uma fila! A pobre moça da recepção era entupida de gente. 

Sotaques dos mais rústicos ao delicado francês sendo ditos por todos os lados...

 Era um caos na vida de uma londrina tão certinha e meio claustrofóbica.

- Pelos deuses antigos, que merda. – soltei a mala no chão com barulho, o que só foi mais um acréscimo no estardalhaço geral.

Porém antes que tudo estivesse perdido senti uma presença atrás de mim, um cheiro amadeirado de perfume masculino aliviou o meu estresse cerebral...

Logo veio ao alcance dos meus olhos uma figura vestida de preto dos pés a cabeça que chegou ao meu lado.

- Quanta gente. - ele suspirou, seu sotaque era inglês. Um conterrâneo!

- Sim, acho que não terá vagas.

- Vamos esperar, nunca se sabe. As pessoas costumam desistir.

Um casal bastante agitado saiu se espremendo do bolo que entupia a recepção, a moça estava vermelha e falava uma língua estranha com o rapaz super calado, imaginei que fossem russos, e por algum motivo que ainda desconheço o bolo de gente foi diminuindo, uns subiam pelas escadas outros elevadores, até que simplesmente sumiram e restava apenas a moça da recepção o estranho inglês e eu.

- Vamos? – ele disse calmo com sua mala de mão.

- Nossa... – eu gaguejei, não esperava um milagre desses tão cedo. - Você fez uma ótima previsão.

- Na verdade venho sempre aqui.

Ainda impressionada fiz minha reserva, depois claro, de consultar o porquê daquela abertura do mar vermelho.

- Não sei dizer, um casal desistiu de discutir e todo o resto que veio depois também, isso nunca tinha acontecido. - disse a moça recepcionista.

- Suíte Master, por favor. – dizia meu colega com altivez.

Olhei-o curiosa já um pouco restabelecida da confusão.

Era bonito e canhoto, com o pulso firme fez dois rabiscos e sorriu entregando o papel e pegando as chaves, tinha um charme meio exótico de algum lugar do mediterrâneo, um pouco mais velho que eu, entre uns trinta e cinco anos no máximo e seus olhos eram de um castanho escuro impressionante, o cabelo meio comprido na altura da nuca e também escuro, parecia um luto eterno em pessoa.

Eu subi as escadas e ele foi de elevador.

Me arranjei no quarto e desci procurar algum restaurante. 

Andava calmamente pela rua quando ouvi o ronco de um motor se aproximar, um carro preto passou muito devagar por mim, apertei os braços esperando que meu pensamento fosse lido, tinha pânico e apressei o passo...

Mas apenas passou e parou num bar do outro lado.

Cheguei ao restaurante e busquei me satisfazer rapidamente, minha fome era monstruosa.

Enquanto o prato era posto a mesa fui pegar meu celular na bolsa que vibrava, quando enfiei a mão fundo dentro dela e retirei o celular um papel amarelo caiu...

 As letras não deixavam duvidas... 

Eu o tinha deixado embaixo do travesseiro em Londres como tinha vindo parar aqui do outro lado do mundo?

Ao voltar a mim agradeci o garçom e assim que ele desobstruiu minha visão observei a minha frente, bem no fundo do recinto o mesmo homem da recepção. Estava sozinho e com apenas uma taça de vinho. Ele me notou assim que eu o identifiquei e sorriu oferecendo a taça.

Comi sob os olhares dele, já que estávamos de frente um para o outro. 

Sentia uma pulsação estranha, como se eu fosse uma presa diante do leão, e aquele olhar intimidador não ajudou a aliviar minha tensão, isso me fez comer o mais rápido possível e querer desesperadamente voltar para o hotel.

Dito e feito paguei a conta me levantei e sai... 

Porém, diante de mim agora estava estacionando o mesmo carro preto... 

Parei congelada pelo medo.

A porta abriu e dele saiu o manobrista, uma corrente de ar limpo encheu meus pulmões e eu aliviei a tensão suspirando.

Mas um leve esbarrão me fez tencionar os músculos, num roçar de capa o homem passou por mim pegando a chave e entrando no carro, foi um gesto brusco que eu deixei passar como pressa. 

Ele saiu e eu voltei ao hotel.

Já vestida para dormir fui à janela e li de novo o poema, constatei que até então algo tinha passado batido nele, a data...

"Não na costa Stygian, nem no brilho claro

Ou muito simples em Elysian, que nós devemos corresponder

Entre os mortos cujos alunos temos sido,

Nem as grandes máscaras de quem temos detidos como inimigos:

No prado do Asphodel nossos pés pisam,

Nem olhamos uns aos outros na face

Para amar ou odiar uns aos outros sendo mortos,

Esperando algum louvor, ou temendo alguma desgraça.

Não vamos argumentar dizendo "Era assim" ou "assim",

Nossos argumentos derivam e vão esquecer:

Quem está certo, errado quem esta, 'sarja somos todos para nós;

Não vamos sequer saber que nós nos encontramos.

Ainda atender devemos, e partir, e conhecer de novo,

Onde os homens mortos se encontram, nos lábios dos homens vivos..."

31/05


Já se iam quase três anos que eu havia escrito aquilo, mas não era bem isso que me incomodou, foi o rascunho atrás dele que me causou calafrios...

- Sonhei com o Conde, estava em uma viagem pela Transilvânia quando o conheci, e ele me contou que precisava da minha ajuda para trazer seu poder de volta...

A minha própria letra contando detalhes de um sonho que agora se justificava era aterrador, fiquei confusa se é que era mais possível do que já estava e diante de uma certeza, eu não estava ali à toa.

Garota Besta-Fera & Outros Contos Adaptados (Sob Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora