[...] Mirena e eu lutamos naquela noite, eu havia chegado exausto da batalha, com sede, foram três dias, ela ainda foi capaz de me receber amorosamente antes de me comunicar que iria embora, embora com nosso filho.
- É uma decisão tomada, Vlad. - sua voz cortada me disse.
- Eu não poderei dizer não, o que me tornei apenas a ajuda a se distanciar.
- Não quero que as coisas piorem, você não envelhece, não morre, como nosso filho pode ver isso? Como eu posso ver isso?
- Mina...
- Não tente.
- Lute.
- Não posso.
- É por você.
- Não posso. - suas mãos tocaram seus lábios e ela desabou.
Antes eu não a tivesse salvado daquela terra, antes eu não tivesse. Peguei uma das minhas espadas e joguei em seus pés.
- Faça isso agora.
- Não! - ela gritou.
- FAÇA ISSO AGORA! - eu gritei, morcegos revoaram ao nosso redor, meu ódio se ascendeu, mais fácil morrer pelas mãos dela do que perdê-la.
Mirena se levantou, os olhos encharcados e raivosa, o choque das espadas cortou o céu no fim da madrugada daquele dia, nossa luta era intensa, eu estava fraco, apesar de muito mais forte que ela. Quando ela atingiu meu braço, senti a dor queimar por todo corpo, uma das espadas havia sido aspergida pelo papa... eu devia saber, e era justamente a espada dela.
- Me mate! - ordenei jogando a minha para longe.
- Não posso, Vlad. Não quero.
- Você quer sim, ande, me mate, não sou eu, sou um monstro, mate esse monstro herege agora, é a sua chance! Não vai ter outra.
- Pelos céus, não...- ela deixou sua mão pender com a espada diante do corpo.
- Se não me matar, irei morrer. É meu destino. - disse a ela assim que a aurora começou a romper.
- Vlad. - ela correu até mim beijando-me com sofreguidão.
- Mina, estaremos juntos um dia, eu prometo. - peguei em sua mão que segurava a espada, aquilo me queimava muito menos que seu beijo e seu adeus, quebrei a lamina sem muito esforço e com seus olhos marejados toquei seu rosto livido. - Eu te amo, nunca pense separadamente nesta ou na próxima vida, pois uma dá para a outra a partida. - dissemos juntos antes que eu puxasse sua mão e entrasse com a lamina em minha barriga, ela gritou, eu cambaleei e caí me afastando e me arrastando de dor no chão, o céu ficava negro de novo.
Mina se aproximou de mim e me acolheu em seus braços, nos olhamos enquanto os raios de sol venciam a escuridão, eu podia vê-lo surgindo através de seus cabelos por trás dela, a ultima visão que teria seria do paraíso, o meu paraíso particular. A claridade me cegava e meu corpo todo ardia, observei meus dedos virarem pó enquanto Mina me escondia em seu peito.
- Me perdoa, me perdoa. - ela gritava entre soluços.
- Não há nada para perdoar, meu eterno amor, não há nada que perdoar, o mal está vencido, tudo está feito. Te encontro amanhã no paraíso... - foram minhas ultimas palavras antes de fechar os olhos, tudo escurecer para nunca mais voltar a clarear e eu me tornar pó entre seus braços.
Mirena viveu o luto enquanto esteve na Terra, criou nosso filho até que este tivesse idade para assumir o trono e logo após isso, caminhou até a borda daquela torre ao escurecer da tarde e deixou seu corpo pesar e se afundar no abismo do qual eu a salvei, esse era seu destino, esse era o nosso destino final... a morte para uma nova vida.
Suas ultimas palavras ouvidas foram: - Não penso separadamente desta, nem na outra vida, pois sei que uma dá para a outra o inicio... Este não é o fim, nem o começo, é apenas o meio, e este também não é, é apenas a repetição do ciclo de algo maior que a vida, o amor, o amor ao qual a vida sempre dá a partida... Esteja me esperando, Vlad, eu não me demoro, já não tarda o anoitecer, estou a caminho, meu eterno amor... minha eterna vida...
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Garota Besta-Fera & Outros Contos Adaptados (Sob Revisão)
NouvellesUma nova versão dos grandes contos! E que tal começarmos com... "A Bela e A Fera?"